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Brexit provoca primeiras fendas no Reino Unido… e na União Europeia
A vitória da saída britânica da União Europeia no referendo sobre o Brexit já derivou nos primeiros e previsíveis sinais de potencial desagregação do Reino Unido. Na Escócia e Irlanda do Norte, onde venceu claramente o sim à UE, já se fala em referendo independentista. Partidos em Itália e França também querem referendar presença na UE.
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O Reino Unido ficou praticamente partido a meio entre apoiantes e opositores da saída britânica da União Europeia (UE). Mas essa divisão não se verificou em países como a Escócia e a Irlanda do Norte, nem no território ultramarino de Gibraltar. Nestes venceu com larga distância o sim à continuação na UE, com os ímpetos separatistas a surgirem de imediato.
A primeira foi Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia e líder do nacionalista SNP, que admitiu que "a Escócia enfrenta a hipótese de sair da União Europeia contra a sua vontade. Penso que essa possibilidade é democraticamente inaceitável".
Sturgeon recordou depois que este eventual desfecho surge menos de dois anos depois do referendo sobre a independência escocesa, em que foi dito a Edimburgo que o país, ao votar pela cisão face ao Reino Unido, estaria a colocar em causa "a nossa ligação à UE".
Depois desta contextualização, a líder do SNP notou que foi precisamente essa "alegada garantia de permanência na UE" que teve um papel "decisivo" no voto favorável à continuação no Reino Unido no referendo sobre a independência escocesa realizado em Setembro de 2014.
.@NicolaSturgeon addresses Europeans living in Scotland: "You remain welcome here. Your contribution is valued." https://t.co/p7G1oayxwr
— Sky News (@SkyNews) 24 de junho de 2016
Pelo que perante o actual cenário, torna-se "óbvio" para a primeira-ministra da Escócia que um segundo referendo sobre a independência escocesa está novamente "em cima da mesa". "E está mesmo em cima da mesa", atirou.
Posição idêntica foi a assumida pelo partido irlandês de extrema-esquerda e nacionalista Sinn Féin. O líder dos deputados norte-irlandeses deste partido, Martin McGuinness, pediu esta manhã um referendo sobre a união das duas Irlandas (a República e a do Norte), o que a acontecer determinaria a secessão da Irlanda do Norte em relação ao Reino Unido.
Entretanto a primeira-ministra norte-irlandesa, Arlene Foster, do Partido Democrático Unionista (DUP, o mais representativo no país), já veio assegurar que ao contrário da Escócia, na Irlanda do Norte não será realizado qualquer referendo sobre a pertença do país ao Reino Unido.
E sobre Gibraltar, território sob soberania britânica e alvo de longa disputa com Espanha, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Garcia-Margallo veio falar em "co-soberania", considerando que o Brexit configura uma "completa mudança de cenário que abre novas possibilidades sobre Gibraltar".
Partidos eurocépticos europeus cavalgam a onda do Brexit
Como era esperado no caso do evento de Brexit, são cada vez mais os partidos eurocépticos e anti-imigração a pedir referendos sobre a permanência dos seus países no euro e na UE. Aos primeiros raios de sol, Nigel Farage, líder do UKIP, festejou a vitória do Brexit e lançou o alerta que rapidamente se fez sentir na Europa: "A UE está a morrer (...) Muitos países começam a falar em sair". Em França, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional e uma séria candidata à vitórias nas presidenciais gaulesas do próximo ano, voltou a insistir na intenção de também em França ser realizado um referendo sobre a presença no bloco europeu.
E em Itália, ao Movimento 5 Estrelas, que defendeu durante a semana um referendo sobre o euro e a Europa, juntou-se esta sexta-feira, 24 de Junho, a Liga Norte, a pedir que seja "agora a nossa vez" de Itália se pronunciar sobre a UE.
E apesar das garantias dadas pelas instituições europeias quanto a uma resposta una e a 27 ao Brexit, em países como a Holanda, a Suécia ou a Finlândia surgiram já petições públicas com o objectivo de também nestes países serem realizados referendos. Em todos eles tem-se dado um crescimento sustentado nas intenções de voto dos partidos eurocépticos e de extrema-direita.