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Acordo Londres-Bruxelas empurra com a barriga problema da fronteira irlandesa
Theresa May assegurou o apoio do seu governo ao acordo alcançado ao nível técnico entre Londres e Bruxelas, no entanto o maior obstáculo continua sem solução à vista. Londres poderá prolongar período de transição se não for encontrada uma solução para a fronteira entre as duas Irlandas.
Com o apoio recolhido por Theresa May junto do seu governo ao acordo forjado entre a União Europeia e o Reino Unido sobre a relação futura entre os dois blocos, foi dado mais um passo na direcção de um acordo final entre as partes, contudo a questão mais espinhosa persiste sem uma solução concreta.
Ou seja, não foi ainda encontrada uma solução para a fronteira entre as duas Irlandas, que depois de consumado o Brexit passará a ser a única fronteira terrestre entre a UE e o Reino Unido. Para já, a solução passa pela garantia de que o período de transição poderá ser prolongado se, quando o mesmo findar, não existir ainda um enquadramento legal para a fronteira irlandesa que satisfaça os dois lados.
Enquanto a União exige que não seja reinstalada uma fronteira física e rígida entre a Irlanda (membro da UE) e a Irlanda do Norte (parte do Reino Unido) que coloque em causa o acordo de paz de 1998, Londres não aceita uma solução que passe pela continuação da Irlanda do Norte na união aduaneira e mercado único europeu porque isso colocaria em causa a integridade territorial do Reino Unido e desrespeitaria a constituição britânica.
Não tendo sido encontrada uma fórmula que resolva a questão de forma permanente, o mecanismo de salvaguarda (backstop) exigido pela UE enquanto garantia de que os controlos fronteiriços não regressam à fronteira irlandesa irá aplicar-se somente se não for acordada uma melhor solução ou até que a mesma seja encontrada.
Como explicou Michel Barnier, o objectivo é que este mecanismo de salvaguarda não tenha de ser utilizado, o que significa que as duas partes acreditam poder finalizar um acordo comercial Reino Unido-UE antes do final do período de transição.
O período de transição foi acordado para que seja preparada com tempo a relação futura Londres-Bruxelas depois de concretizado o Brexit, agendado para as 23:00 de 29 de Março de 2019. É então que começam a contar os 21 meses do período de transição que termina a 31 de Dezembro de 2020. Durante este período, o Reino Unido continua a integrar a união aduaneira, o mercado único e terá de respeitar a jurisdição europeia, perdendo contudo o direito de voto nas instituições comunitárias.
Zona aduaneira comum
Até que seja estabelecida uma nova relação comercial, o "backstop" pressupõe um território aduaneiro comum entre a UE e o Reino Unido, como previsto no artigo 6.º. Por outro lado e como estabelece o artigo 5.º, mantém em vigor a zona de viagens comum (Common Travel Area) entre a Irlanda e o Reino Unido, que se comprometem a negociar medidas referentes à circulação de pessoas nos respectivos territórios em conformidade com o enquadramento legal comunitário.
Este mecanismo pressupõe ainda que o Reino Unido fique obrigado a assegurar que esta "zona de viagens comum e os direitos e privilégios associados" continuem a ser aplicados sem que tal afecte as obrigações da Irlanda para com as leis europeias, "em particular no que diz respeito à liberdade de circulação de cidadãos comunitários e dos membros das suas famílias".
Em traços gerais, até ao termo do período de transição, a Irlanda do Norte vai continuar a pertencer ao mesmo território aduaneiro do resto do Reino Unido, embora tendo de respeitar algumas das regras do mercado único da UE.
De acordo com a Bloomberg, este enquadramento poderá ser benéfico para a economia norte-irlandesa na medida em que não terá restrições nas exportações feitas tanto para a UE como para o Reino Unido e porque o mecanismo de salvaguarda previsto não foi delineado com a intenção de ser utilizado.