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Santos Silva: Proposta de Bruxelas para orçamento pós-2020 "é um mau começo"
Santos Silva disse que "Portugal terá a atitude construtiva que sempre é a sua, de forma a que, tendo começado mal, possamos acabar bem este processo".
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, classificou hoje como "um mau começo" a proposta apresentada pela Comissão Europeia para o orçamento comunitário após 2020, mas prometeu uma "atitude construtiva para o processo acabar bem".
Em declarações aos jornalistas hoje em Lisboa numa primeira reacção do Governo à proposta de Bruxelas, Santos Silva disse que "Portugal terá a atitude construtiva que sempre é a sua, de forma a que, tendo começado mal, possamos acabar bem este processo".
A Comissão Europeia propôs hoje um orçamento plurianual para a União Europeia para o período 2021-2027 de 1,279 biliões de euros, que prevê cortes de 5% na Política de Coesão e na Política Agrícola Comum (PAC).
De acordo com o executivo comunitário, trata-se de "um orçamento pragmático", que compensa a perda de receitas decorrente do 'Brexit' com reduções das despesas e novos recursos "em proporções idênticas", mantendo a União desse modo um orçamento com valores "comparáveis à dimensão do actual orçamento de 2014-2020" tendo em conta a inflação.
"A Comissão propõe que o financiamento da Política Agrícola Comum e da Política de Coesão seja moderadamente reduzido -- de cerca de 5% --, a fim de reflectir a nova realidade de uma União a 27. Estas políticas serão modernizadas, a fim de garantir que possam continuar a produzir resultados com menos recursos e servir mesmo novas prioridades", indica o executivo liderado por Jean-Claude Juncker, relativamente àquelas que eram as grandes preocupações de Portugal.
Para o Governo português, "o ponto de partida é um mau ponto de partida, [a Comissão Europeia] não começa bem este processo negocial", porque o nível de ambição da proposta comunitária, "no que diz respeito aos recursos da EU, é muito insuficiente".
O nível acertado de recursos seria, não 1,1% do rendimento gerado no conjunto dos países europeus, mas sim "os 1,2% que resultam já de uma decisão do Conselho Europeu, ou até o valor recomendado pelo Parlamento Europeu, de 1,3%".
O facto de a proposta comunitária ser bastante mais baixa "significa que não seria possível acomodar uma nova dimensão financeira para as políticas necessárias na UE, como o apoio às migrações, as políticas de segurança e defesa, a política externa e ajuda humanitária, sem sacrificar a Política Agrícola Comum (PAC) e as políticas de coesão", disse Santos Silva, salientando que "a PAC e as políticas de coesão não podem ser sacrificadas no próximo quadro financeiro plurianual".
Confrontado com o corte de mais de 5% previsto para a PAC, hoje anunciado por Bruxelas, Santos Silva reagiu que é um "elemento indesejável", argumentando que "as políticas de coesão e a PAC têm sido elementos essenciais para a integração europeia e para a convergência económica e social entre os Estados membros e a sua centralidade deve continuar".
A PAC e as políticas de coesão "não devem ser as variáveis de ajustamento do facto de perdermos a contribuição britânica ou no facto de ser preciso acomodar as verbas necessárias para a segurança e defesa, transição energética, política externa ou migrações", concluiu o ministro dos Negócios Estrangeiros.