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Renzi deve ficar à frente do PD e até pode apoiar eleições antecipadas

Surgem agora notícias que apontam para a possibilidade de o ainda primeiro-ministro não abandonar a liderança do PD. Renzi pode até apoiar a realização de eleições antecipadas para não deixar essa "bandeira" na mão de Beppe Grillo.

Reuters
06 de Dezembro de 2016 às 14:19
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Em Itália reina a especulação. São muitos os cenários e as manchetes na imprensa, contudo, além da já confirmada demissão congelada de Matteo Renzi até à aprovação do Orçamento, há poucas certezas. Depois de perder por larga margem o referendo às alterações constitucionais, o ainda primeiro-ministro pretendia afastar-se da política e tirar uma espécie de período sabático. Renzi chegou mesmo a dizer aos jornalistas que queria passar seis meses nos Estados Unidos. 

 

No entanto jornais como o La Stampa, o Corriere della Sera e o La Repubblica adiantam esta terça-feira, 6 de Dezembro, que afinal Renzi não só não vai tirar nenhum ano sabático como irá permanecer à frente do PD. Há mais. Apesar de antes do referendo do passado domingo Renzi se ter mostrado contra a hipótese de serem realizadas eleições antecipadas, independentemente do resultado que viesse a verificar-se, o líder do PD parece agora querer novas eleições já no início de 2017.

 

Por partes. O Corriere della Sera cita a mensagem transmitida por Renzi a elementos da sua direcção depois do encontro desta segunda-feira em que o ex-autarca florentino apresentou o seu pedido de demissão ao presidente da República: "Sergio Mattarella pediu-me para permanecer até à aprovação do Orçamento e eu não podia comportar-me como o garoto que leva a bola para casa porque perdeu o jogo".

 

Renzi explica assim o porquê de ter aceitado ficar à frente do Governo apesar de se ter comprometido com a demissão imediata se perdesse o referendo. E mostra conhecer as consequências desta decisão. "Agora dirão que estou agarrado à cadeira [do poder]. Mas se tivesse ido embora diriam que sou um irresponsável", terá dito Renzi, uma vez mais citado pelo Corriere della Sera, a alguns companheiros de Governo.

 

E se durante a manhã de segunda–feira, antes ainda do primeiro encontro informal ontem mantido com o presidente Mattarella, Renzi disse aos jornalistas que iria "seis meses para os Estados Unidos", ao final do dia a vontade parecia ser bem diferente: "Continuarei como secretário-geral" do PD, terá dito o chefe de Governo demissionário a alguns dos elementos mais próximos tais como Maria Elena Boschi, Luca Lotti e Maurizio Martina.

 

A explicação é relativamente simples. Matteo Renzi não quer abandonar o partido num momento difícil, logo depois de uma derrota que, sendo do Governo, não deixa de o ser também do PD. "Os próximos tempos são fundamentais, não podemos cometer erros", segundo nova citação de Renzi reproduzida pelo Corriere.  

 

Esta conclusão terá levado Matteo Renzi a uma outra inflexão de vontade. Durante a campanha para o referendo Renzi repetiu em diversas ocasiões ser contra a realização de eleições antecipadas caso perdesse e se demitisse. Todavia Renzi não quer "deixar a bandeira das eleições antecipadas na mão de [Beppe] Grillo e restante [oposição]. Se o fizermos o PD está morto", é a mensagem do líder do PD citada pelo La Repubblica.

 

Matteo Renzi não quer que o PD volte a perder eleitorado como aconteceu na sequência do apoio conferido pelo partido ao então nomeado Governo técnico de Mario Monti. Além de que Renzi não quer também desperdiçar o actual momento eleitoral do PD, que depois de ter vencido as europeias de 2014 conseguiu agora acrescentar dois milhões de votos no referendo (embora os votos no "sim" não signifiquem directamente votos no PD).

 

Apesar de permanecer pelo menos até à próxima sexta-feira – dia em que o Senado vota o plano orçamental do Governo – como primeiro-ministro, Renzi tenta mostrar que já não detém o poder tendo, por exemplo, cancelado todos os eventos institucionais previstos para os próximos dias, revela o La Stampa.


Com Italicum ou sem Italicum? 

Entretanto, depois de se reunir com Renzi, Angelino Alfano, ministro do Interior e líder do Novo Centro Direita (partido júnior da actual coligação de Governo protagonizada pelo PD), disse ao Corriere della Sera que prevê que "iremos a eleições em Fevereiro". A direcção do PD vai reunir-se esta quarta-feira, sendo previsível que muitas das dúvidas se possam dissipar depois do encontro da cúpula do partido de Renzi.

 

Contudo esta previsão de Alfano mostra-se pouco provável. Isto porque o Tribunal Constitucional (TC) terá ainda de se pronunciar sobre a nova lei eleitoral (Italicum) em vigor desde Julho último. Vários constitucionalistas acreditam que o TC italiano acabará por modificar o Italicum, cuja forma original prevê a atribuição de um prémio de maioria ao partido mais votado na Câmara dos Deputados.

 

Porém a decisão do TC não deve acontecer antes dos primeiros meses de 2017. E só depois de o TC se pronunciar é que poderá haver novas eleições. Até lá Sergio Mattarella terá de encontrar um sucessor de Renzi que seja capaz de recolher o apoio necessário no Parlamento, nome esse que deverá precisar do apoio do PD, o partido mais representado em sede parlamentar. O apoio do PD e o mais do que previsível apoio do Força Itália de Silvio Berlusconi a uma solução à Mario Monti deverão garantir o sucesso da escolha que vier a ser feita por Mattarella. Pier Carlo Padoan, ministro das Finanças, é apontado como o nome mais provável, mas também Piero Grasso, actual presidente do Senado, e Graziano Delrio, ministro dos Transportes, são hipóteses em cima da mesa.

 

Bem posicionado nas sondagens, o Movimento 5 Estrelas do comediante Grillo quer ir já a eleições, uma intenção acompanhada pela força de extrema-direita Liga Norte, de Matteo Salvini. E se para Salvini é indiferente a lei eleitoral segundo a qual se realizarão as eleições, Grillo defende que seja o Italicum a determinar os lugares não só para a câmara baixa (dos Deputados) mas também para a alta (Senado). Nesta altura há duas leis eleitorais, uma para a Câmara dos Deputados e outra para o Senado. O 5 Estrelas acredita que será o partido beneficiado pelo prémio de maioria previsto pelo Italicum, pelo que defende que esta lei eleitoral sirva também para o Senado. 

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