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Por que é que contar votos na Irlanda é tão demorado?

O país que acolhe mais empresas tecnológicas na Europa é dos que mais tempo demora a contar votos: dois, três ou até mais dias. Veja aqui o que explica este anacronismo.

Reuters
29 de Fevereiro de 2016 às 15:13
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Sede da Google e de outras empresas de vanguarda na área das tecnologias de informação, a Irlanda está a deixar meio mundo boquiaberto pela tremenda demora em apurar os resultados das eleições legislativas que tiveram lugar na passada sexta-feira. A explicar este aparente anacronismo não está a dimensão do país, apenas 4,5 milhões de habitantes, mas o sistema político constituído em 1922 após a independência da República da Irlanda.

São três os pilares sobre os quais assenta o sistema irlandês e que se traduzem num processo moroso: círculos eleitorais com assentos parlamentares múltiplos, voto único transferível e múltiplas contagens que têm de ser feitas aos boletins de voto. Em especial este último, dado que a contagem dos votos, além de demorada é também peculiar.

Mas tudo começa com a forma como os eleitores irlandeses exercem o seu direito de voto no boletim. Em vez de uma cruz, podem votar em vários candidatos, do mesmo partido ou de múltiplos, escolhendo com recurso a números ordinais a ordem dos candidatos (ex: 1º, 2º, 3º).

 

A isto chama-se o voto único transferível, que basicamente significa que um determinado eleitor pode estar a transferir o seu voto, por exemplo para a sua segunda escolha. Isto se o primeiro candidato escolhido já tiver ultrapassado a quota necessária à eleição ou se, pelo contrário, já tiver sido eliminado por falta de apoios. Se também a segunda escolha já tiver sido eleita ou eliminada, o voto é transferido para a terceira opção. E por aí adiante.

 

O eleitor pode escolher vários ou somente um candidato, dependendo das suas próprias preferências. Se, a título de exemplo, um eleitor quiser evitar a eleição de um determinado candidato, pode votar em todos os candidatos menos naquele que não quer ver eleito.

 

A complexidade do sistema continua. Apesar do reconhecido desenvolvimento tecnológico do país, não só o voto mas também a contagem é analógica. Esta contagem também tem particularidades. Desde logo, apesar de as eleições terem sido realizadas na passada sexta-feira, só no dia seguinte, sábado, 27 de Fevereiro, às 09:00, é que os boletins de voto são retirados e a contagem é iniciada.

Há três tipos de pessoas envolvidas no processo de contagem.
Há três tipos de pessoas envolvidas no processo de contagem. Reuters


Há depois três tipos de pessoas envolvidas no processo. Os "tallymen", observadores apontados pelos partidos e candidatos e que são incumbidos da observação de todo o processo de contagem e de abertura das urnas de votos. Há também os "counters", que como o nome indica estão encarregados da contagem dos votos e, por fim, os "supervisors", encarregados de controlarem todo o processo.

Os candidatos são considerados eleitos no momento em que atingem uma determinada quota dos votos: o mínimo de votos válidos que um candidato necessita para ser eleito. Esta quota é calculada de forma diferente em cada circunscrição, com base no número de eleitores participantes e no número de assentos parlamentares elegíveis em determinado círculo eleitoral.

 

Sempre que um candidato atinge a quota definida, todos os votos que receber posteriormente são considerados em excesso. E são posteriormente distribuídos aos restantes candidatos mediante o rácio das segundas preferências dos eleitores em novas contagens. Depois da primeira contagem, só os votos que ultrapassam a quota são examinados e utilizados para decidir o rácio para a alocação dos votos adicionais.

 

E depois de um candidato ter sido eleito na segunda contagem, ou numa posterior, somente os votos que os coloquem acima da quota são contabilizados para depois serem distribuídos. Por outro lado, quando há dois ou mais candidatos a excederem simultaneamente a quota, o maior excesso é o primeiro a ser distribuído. O excesso tem de ser distribuído sempre que dele dependa a eleição de um candidato, a salvação de um candidato em risco de ser eliminado.


Passos da contagem dos votos 1 - Os votos são abertos e contados

2 - A quota é calculada

3 - Os votos são ordenados de acordo com as preferências e são contados

4 - Qualquer candidato que atinja a quota depois da primeira contagem é considerado eleito

5 - Se o candidato tiver votos extra, estes votos são redistribuídos pelos restantes candidatos que surjam a seguir na ordem de preferências expressa nos boletins de voto.

6 - Se depois de feita a distribuição dos votos nenhum novo candidato tiver sido eleito, o candidato com menos votos é eliminado e os seus votos são distribuídos de acordo a segunda preferência (ou a próxima preferência dependendo da etapa do processo em causa)

7 - Este processo de eleição, distribuição do votos em excesso e eliminação de candidatos decorre até que todos os assentos parlamentares tiverem detentor. 
8 - Por vezes, o último assento parlamentar disponível acaba por ser ocupado por um candidato que não tenha atingido a quota.
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