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Perdão da dívida? BCE está a monitorizar situação em Itália, diz Constâncio

O 5 Estrelas e a Liga equacionaram exigir um perdão de dívida na ordem dos 250 mil milhões de euros ao BCE, mas a hipótese não deverá avançar. O vice-presidente do BCE diz que Frankfurt está a "monitorizar" a situação.

O futuro de Itália "vai depender as políticas que forem realmente implementadas", disse Vítor Constâncio. Reuters
17 de Maio de 2018 às 20:05
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A nova coligação em Itália promete abalar a União Europeia. Depois de ter sido noticiada a possibilidade de pedirem um perdão de dívida ao Banco Central Europeu (BCE), os juros da dívida italiana dispararam. O 5 Estrelas e a Liga chegaram a acusar os mercados de "chantagem", mas a medida acabou por cair. Ainda assim, Frankfurt continua de olhos postos em Itália, disse esta quinta-feira o vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio, em entrevista à Bloomberg.

"Temos de monitorizar essa situação", admitiu o português, que está de saída do banco central, quando questionado sobre a subida dos juros no início da semana. Foram três sessões seguidas de subidas que mostraram a preocupação dos investidores perante as ambições da nova solução política italiana. Os juros da dívida a dez anos chegaram a atingir o nível mais alto desde Outubro e a bolsa italiana foi a mínimos de um mês. 

No entanto, esta quinta-feira, com a notícia de que o perdão de dívida não será pedido, os juros das obrigações italianas aliviaram ligeiramente: desceram 0,2 pontos base para 2,115%. Mas continua a preocupação com o programa de Governo italiano uma vez que a origem destes partidos é anti-europeísta. Isso é visível, por exemplo, na rejeição das metas orçamentais impostas por Bruxelas e a exigência de uma revisão dos tratados europeus. 

Apesar de notar que houve uma mudança na situação política, Constâncio considera que "os problemas de Itália continuam a ser os mesmos" que se verificavam antes das eleições, nomeadamente o elevado nível de crédito malparado dos bancos, o crescimento tímido da economia e o facto de ser o Estado-membro com o segundo maior rácio de dívida pública, logo a seguir à Grécia.

E o futuro? "Vai depender as políticas que forem realmente implementadas em Itália", diz Constâncio, mostrando-se reticente quanto às ambições do Movimento 5 Estrelas e da Liga. As notícias que têm sido publicadas sobre o futuro programa política mostram essencialmente uma vontade de cortar impostos e aumentar a despesa do Estado, o que deverá ser incompatível com uma redução do défice italiano que em 2017 foi de 2,3%.

"É do maior interesse de todos os países aprofundar a União Económica e Monetária"

Na onda de populismo dos últimos dois anos, Itália é a primeira potência europeia com um Governo anti-europeísta, o que poderá vir a dificultar as negociações para aprofundar a Zona Euro. Essa é uma das principais preocupações de Constâncio. O ainda vice-presidente do BCE prevê que não haja grandes avanços, apesar de considerar que "é do maior interesse de todos os países aprofundar a União Económica e Monetária". 

Comentando a recente desaceleração da economia europeia, Vítor Constâncio disse que os números correspondem às expectativas. Na opinião do vice-presidente do Banco Central Europeu, a economia esteve a crescer acima do seu potencial e, por isso, é normal que desacelere, também por causa das pressões demográficas. Já sobre a perda de força do euro face ao dólar, Constâncio referiu que o BCE está "confortável" com os actuais níveis da divisa. 

Passando em retrospectiva os últimos oito anos no banco central, uma vez que abandonará o cargo no final do mês, o português disse que "não faria nada de muito relevante diferente". Admitindo que "as decisões [do BCE] não foram sempre perfeitas" durante a crise, Constâncio garantiu que os erros foram sempre "rapidamente" corrigidos.
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