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Juros de Itália disparam com possível pedido de perdão de dívida

Cresceu de tom o nervosismo dos mercados com as medidas que o próximo Governo italiano pode vir a pretender implementar.

Reuters
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Ainda não há governo em Itália mas a Europa já está a ficar agitada. A concretizar-se a formação do primeiro governo italiano composto por duas forças eminentemente anti-sistema (Movimento 5 Estrelas e Liga), poderão ser adoptadas políticas desestabilizadoras e algumas das propostas tornadas públicas já estão a causar apreensão em Bruxelas.

 

Nos mercados esta apreensão foi hoje evidente. Os juros da dívida soberana do país disparam 16 pontos base para 2,11%, o nível mais elevado desde Outubro do ano passado e que se situa já mais de 30 pontos base acima da "yield" das obrigações portuguesas com a mesma maturidade (que estão a subir 6 pontos base).

 

O "spread" face à dívida alemã disparou para perto de 150 pontos base e a bolsa de Milão fechou o dia a cair mais de 2%, reflectindo as notícias relacionadas com o programa do provável próximo governo italiano. O índice Stoxx para a banca recuou mais de 1%, com o alemão Commerzbank a perder mais de 6% e os italianos Finecobank, BPM e Unicredit a deslizarem mais de 4,5%. A penalizar a banca estão precisamente as notícias em torno de Itália.

Nas negociações com vista à formação de um governo, Luigi Di Maio (5 Estrelas) e Matteo Salvini (Liga) está a ser contemplado o cancelamento de 250 mil milhões de euros de dívida que o Banco Central Europeu deverá ter no seu balanço aquando da conclusão do programa mensal de compra de activos ainda em vigor. 

A esta medida poder-se-ão juntar políticas - tais como a Flat Tax, a revogação da última reforma ao sistema de pensões ou o rendimento de cidadania - que implicam aumento da despesa e que colocariam em causa o cumprimento das metas definidas pelas regras europeias, algo que ainda ontem motivou avisos de diversos comissários europeus. Entre outros, o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, alertou para "o necessário respeito pela estabilidade financeira", algo que obriga à prossecução do "actual caminho de redução gradual do défice e da dívida pública".

O euro não passa incólume aos receios com Itália, estando nesta altura a recuar 0,48% para 1,1781 para dólares, sendo que é a primeira vez desde 19 de Dezembro que a moeda única europeia transacciona abaixo dos 1,18 dólares.

Boa parte da dívida transalpina de 250 mil milhões detida pelo BCE está também nas mãos do banco central de Itália e, para ser cancelada, as autoridades do país teriam não só de convencer o italiano Mario Draghi mas também os restantes 18 banqueiros centrais da Zona Euro, que são accionistas do BCE. Dificilmente o Bundesbank veria tal ideia com bons olhos. Ainda no lado estritamente financeiro, é proposta a venda de 70 mil milhões de euros de activos do Tesouro transalpino à Caixa de Depósitos e Empréstimos (Cdp, uma instituição detida em mais de 80% pelo Ministério da Economia da Itália).


No documento noticiado pelo Huffington Post há uma outra ideia com escassa margem de aceitação em Bruxelas: para financiar o rendimento de cidadania defendido por Di Maio, as equipas técnicas do 5 Estrelas e da Liga propõem que uma parte dos fundos comunitários seja canalizada para financiar essa medida.

 

Entretanto, representantes de ambos os partidos já desmentiram que o documento ontem divulgado pelo Huffington Post esteja actualizado, garantindo que nos últimos dias foram feitas várias alterações às medidas inicialmente pensadas. No entanto, ficou claro que na base de trabalho (datada de segunda-feira, dia em que Di Maio e Salvini pediram mais tempo ao presidente Sergio Mattarella para fechar um acordo) referente ao futuro programa de governo constam medidas anti-euro, eurocépticas e pró-russas. E Armando Siri, deputado da Liga, confirmou a proposta de cancelamento da dívida detida pelo BCE.

A confirmar a provável aproximação a Moscovo de um governo protagonizado por forças que demonstram abertamente simpatia relativamente ao presidente russo Vladimir Putin, está o facto de em cima da mesa de trabalho constar também uma proposta de abolição imediata das sanções aplicadas pela União Europeia à Rússia na sequência da anexação russa da península da Crimeia. 

Em entrevista ontem publicada pela Newsweek, o fundador e "líder espiritual" do 5 Estrelas, Beppe Grillo, defendeu que Putin "é certamente uma pessoa com ideias claras" e que "o anti-putinismo custa milhares de milhões em sanções". Grillo fez também declarações favoráveis sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e regozijou-se com o Brexit. 

Programa de governo pode ficar fechado hoje

À saída de mais um encontro com Salvini na última noite, Di Maio disse aos jornalistas que é possível que o programa de governo fique fechado já esta quarta-feira. Um membro da Liga afirmou esta manhã que 90% do programa já está definido. "E daí segue-se em frente", acrescentou o "grillino" referindo-se à necessária escolha dos nomes que vão figurar no próximo executivo. Nesta altura não há ainda consenso em torno do nome que vai chefiar o governo 5 Estrelas-Liga, porém Di Maio defende que mais importante do que escolher nomes é definir os "temas" programáticos. 

Di Maio justifica a demora com o facto de, "em seis dias estar a ser escrito um programa para cinco anos", enquanto Salvini, para já o menos optimista dos dois, lembra que se as negociações acabarem por fracassar não haverá alternativa que não novas eleições. Ou seja, apesar de tudo apontar para que haja um desfecho favorável nas conversações com Di Maio, o líder da Liga tenta mesmo assim condicionar Mattarella, cujo plano B passa por avançar com um governo tecnocrata de iniciativa presidencial.

Mattarella definiu esta quinta-feira como data-limite para que haja acordo entre Di Maio e Salvini e avisou que espera que lhe seja apresentado um nome para chefe do Governo que seja amplamente aceitado tanto pelo parlamento transalpino como pela sociedade italiana. 

 

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