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Mattarella ouviu partidos e a crise política voltou à casa de partida

Ouvidos os líderes partidários, o presidente de Itália prometeu que a "crise será resolvida brevemente" e anunciou que, na próxima terça-feira, fará uma nova ronda de consultas aos partidos para avaliar se existem condições para formar um novo governo com apoio de uma maioria parlamentar alternativa.

Reuters
22 de Agosto de 2019 às 20:20
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A crise política italiana vai continuar pelo menos até à próxima terça-feira. O presidente da República de Itália, Sergio Mattarella, deu uma conferência de imprensa ao final desta tarde em que anunciou ter decidido corresponder ao pedido feito por vários partidos e conceder mais tempo para que seja procurada uma solução para superar a crise política transalpina.

Pouco depois de concluir a ronda aos partidos representados no parlamento que decorreu nos dois últimos dias, Mattarella falou brevemente sobre a "crise de governo" aberta pela "rutura polémica na relação entre os dois partidos" que formam a coligação de governativa ainda em exercício.

"A crise será resolvida brevemente", assegurou Sergio Mattarella que referiu cinco vezes a palavra "parlamento", sinalizando que qualquer decisão presidencial terá em conta o "dever ineludível" do presidente que passa por respeitar a "expressão da vontade maioritária do parlamento".

O presidente notou ainda a inoportunidade desta crise oficialmente instalada pela demissão, na terça-feira, de Giuseppe Conte do cargo de primeiro-ministro. O contexto de incerteza internacional provocado pelos sinais de abrandamento e pela disputa comercial e a necessidade de Itália cumprir com as suas obrigações relativamente à União Europeia (em concreto a escolha do comissário transalpino e a aprovação de um orçamento para 2020) foram os fatores apontados.

Tendo referido que mais do que uma força política lhe solicitou mais tempo para avaliar e discutir as condições existentes para encontrar uma solução, Mattarella não deixou qualquer indicação de qual a direção a seguir.

Não referiu se privilegia a formação de uma maioria de governo alternativa à aliança Liga-5 Estrelas, nem que tipo de aliança, se contempla avançar com o regresso às urnas ou sequer se admite um executivo tecnocrático.

A terminar, revelou que na próxima terça-feira fará outras nove consultas aos líderes partidários para concluir se nessa altura estão ou não reunidas condições para forjar uma nova solução governativa.

Volta tudo à estaca zero e tudo é possível

Uma vez que o presidente não deixou indicação alguma sobre o caminho que preconiza para sair da crise instalada desde que o líder da Liga e vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, proclamou o fim do governo e exigiu eleições antecipadas, todas as hipóteses continuam em cima da mesa.

E todas são mesmo todas. É que apesar de a relação entre Salvini e o Movimento 5 Estrelas de Luigi Di Maio ter chegado a ponto de rutura, o líder da Liga disse hoje, após falar com Mattarella, estar "disponível" para retomar, "sem rancores" a governação com os "grillini".

No entanto, Salvini reitera que o cenário preferido continua a ser o regresso antecipado às urnas, a que não é alheio o facto de a Liga dominar as sondagens, que apontam para a possibilidade de a Liga poder obter a maioria em conjunto com o Irmãos de Itália de Giorgia Meloni para um executivo de extrema-direita.

Governo P5 Estrelas-PD é possibilidade real

Não abordando para já os cenários de governo tecnocrata de iniciativa presidencial, fórmula pouco popular sobretudo depois da experiência Mario Monti, e de novas eleições, que Mattarella preferiria evitar para não criar constrangimentos à aprovação do orçamento de 2020, sobre como forte hipótese uma aliança entre os dois partidos atualmente mais representados no parlamento: 5 Estrelas e PD.

Os partidos respetivamente liderados por Di Maio e Nicola Zingaretti reúnem-se, pela primeira vez, esta sexta-feira, sendo que um dos pontos essenciais e que pode causar maior fricção passa por definir quem poderia liderar tal solução. Um primeiro-ministro de um dos partidos poderia ser mal recebido pelo parceiro, pelo que, neste caso, a solução podia ser o recurso a um nome independente, como foi exemplo Giuseppe Conte.

Depois de ontem ter apontado cinco pontos essenciais que um acordo com o 5 Estrelas teria de prever, esta quinta-feira Zingaretti traduziu-os em "três princípios não negociáveis", que comunicou também a Mattarella. A saber: abolição dos dois decretos sobre segurança interna com o cunho de Salvini; pré-acordo (prévio a um eventual acordo de governo) sobre as principais medidas económicas a constar do orçamento para o próximo ano; rejeição à reforma constitucional através da qual o 5 Estrelas quer cortar em 345 o números de parlamentares (deputados e senadores). A reforma constitucional proposta pelo antigo líder do PD e primeiro-ministro, Matteo Renzi, previa uma redução do número de deputados e senadores.

O líder do PD recusa um "governo a todo o custo" e defende a necessidade de um "governo de mudança".

Pelo seu lado, o 5 Estrelas transmitiu a Mattarella como grande prioridade evitar novas eleições e total disponibilidade para formar uma "maioria sólida" de governo. Di Maio não excluiu em momento algum recuperar a aliança com a Liga, algo que Salvini assume como hipótese, contudo pode não ter afastado esse cenário enquanto estratégia para ganhar força na negociação com o PD.

Na conversa com o presidente, Di Maio elencou ainda 10 pontos que considera decisivos para evitar eleições antecipadas e garantir a governação até ao final da legislatura, prevista para 2023. Nenhum entra em clara contradição com as exigência feitas pelo PD, pelo que a questão do primeiro-ministro a designar e a questão das mudanças ao sistema político surgem como os principais obstáculos a um entendimento.

A favorecer um acordo está o facto de ambos os partidos quererem evitar o regresso às urnas e salvaguardar a "hegemonização" da política italiana pretendida por Salvini, que pede "plenos poderes" para aplicar o programa da Liga.

O relógio está a contar.

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