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Salvini aproveita embalo e também promete "choque" de estímulos

Em plena crise na maioria de governo, o líder da Liga promete avançar com estímulos orçamentais na ordem dos 50 mil milhões de euros. Matteo Salvini defende um orçamento de 50 mil milhões de euros que permita concretizar um "choque" de corte de impostos.

EPA
20 de Agosto de 2019 às 10:35
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Matteo Salvini que "surfar" a onda de estímulos ao crescimento económico que vem ganhando forma e promete um orçamento de 50 mil milhões de euros em 2020 para que Itália possa finalmente baixar a carga fiscal e aumentar a despesa.

Em entrevista concedida esta terça-feira, 20 de agosto, à Radio 24, o vice-primeiro-ministro italiano e líder da Liga rejeita o aumento de impostos acordado com Bruxelas e defende, ao invés, um "choque" orçamental assente no corte de impostos sobre famílias e empresas.

"Precisamos de um orçamento de 50 mil milhões de euros. Para mim não é suficiente não aumentar os impostos sobre as vendas (IVA). Temos de começar a cortar impostos", declarou num novo esforço com vista à chamada "flat tax" (taxa única de IRS e IRC) que prometeu na campanha eleitoral de 2018.

"Estamos preparados para concretizar o choque de estímulos fiscais? Precisamos de um governo capaz de fazer coisas, e não de um governo que simplesmente deixa andar", acrescentou já num tom de clara campanha para umas eleições antecipadas que, nesta altura, não se sabe sequer se terão lugar.

O também ministro do Interior promete que se a Liga formar governo e ele dispuser dos "plenos poderes" já pedidos aos italianos, haverá menos impostos e mais investimento.

Depois do tortuoso processo que levou à aprovação da proposta orçamental transalpina para 2019 pela Comissão Europeia, Bruxelas e Roma tiveram novo embate devido ao andamento das contas, o que levou o governo italiano a comprometer-se já este ano com um aumento do IVA a partir de 2020 capaz de gerar 23 mil milhões de euros de receita adicional.

Estas promessas eleitorais de Salvini surgem num contexto em que ganha força a possibilidade de várias economias, com a Alemanha à cabeça, apostarem em políticas expansionistas para travar os sinais crescentes de abrandamento económico, o qual faz já pairar um cenário de recessão.

Por outro lado, as declarações de Salvini chegam a escassas horas da ida de Giuseppe Conte, primeiro-ministro italiano, ao Senado transalpino para se defender da moção de desconfiança apresentada pelo seu próprio número dois. 

Uma crise complexa até para Itália
Habituada a ser uma espécie de balão de ensaio de movimentos e tendências políticas, Itália convive perfeitamente com momentos políticos mais atribulados. Porém, na crise aberta com a exigência de demissão de Conte feita por Salvini, e posterior moção de desconfiança apresentada pela Liga, todos os cenários são possíveis. 

A partir das 15:00 em Roma (menos uma hora em Lisboa), Conte vai ao Senado dar a sua versão da crise no seio da maioria de governo entre a Liga (extrema-direira soberanista) e o Movimento 5 Estrelas (anti-sistema), sendo expectável que reporte a difícil convivência com o seu ministro do Interior e que sinalize a relação com Salvini como insanável. 

Conte pode demitir-se mesmo antes de votada a moção, deixando para o presidente da República, Sergio Mattarella, a tarefa de auscultar os partidos em busca de uma maioria alternativa de governo. Tal maioria poderia ser formada pelo 5 Estrelas do também vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio, e pelo PD (centro-esquerda), cenário posto em cima da mesa pelo ex-líder e antigo primeiro-ministro, Matteo Renzi. 

Di Maio rapidamente rejeitou qualquer acordo com o PD, porém esta possibilidade tem vindo a ganhar tração nos últimos dias e, apesar das duras críticas trocadas entre os dirigentes de ambos os partidos, pode ser a solução para evitar o regresso às urnas que, segundo mostram as sondagens, ditariam a vitória da Liga e deixariam a Salvini a possibilidade de governar a seu bel-prazer com base numa aliança de direita radical (a Liga e o Irmãos de Itália de Giorgia Meloni obtêm a maioria absoluta no parlamento, indicam os estudos de opinião mais recentes). 

Esta manhã, o Corriere della Sera refere um outro cenário. Para evitar a ida a eleições antecipadas sem ter de se aliar aos "inimigos" do PD, Di Maio estaria aberto a manter a atual coligação com a Liga desde que Salvini aceitasse sair de cena, deixando a vice-liderança do executivo e a pasta do Interior.

Como Salvini dificilmente aceitará tal hipótese e tendo em conta que para Mattarella a prioridade passa por assegurar a aprovação do próximo orçamento sem sobressaltos e novas confrontações com Bruxelas, o La Stampa frisa como opção mais viável um governo "ponte" ou de "compromisso" entre o 5 Estrelas e o centro-esquerda.

Certo é que Salvini corre o risco de ver o tiro sair pela culatra - tentou acelerar os prazos da crise e votar a censura a Conte ainda na semana passada, mas o Senado desfez-lhe a vontade; e agora arrisca não ir a eleições e ver uma nova maioria chegar ao poder.

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