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Itália vai ter eleições antecipadas após rutura entre Salvini e Di Maio

O vice-primeiro-ministro italiano e líder da Liga revelou, depois de um encontro de emergência com o chefe do executivo transalpino, que a crise no governo de aliança com o 5 Estrelas corroeu a maioria parlamentar e anunciou que haverá eleições antecipadas.

Reuters
08 de Agosto de 2019 às 19:23
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A maioria parlamentar detida pela improvável e contra-natura aliança de governo entre a Liga (extrema-direita) e o Movimento 5 Estrelas (anti-sistema) desfez-se, o que leva Itália para novas eleições antecipadas. Após 14 meses de uma governação sempre instável e marcada por episódios de disputa interna entre os dois vices-primeiros-ministros, Matteo Salvini (Liga) e Luigi Di Maio (5 Estrelas), a várias vezes anunciada rutura deu-se esta quinta-feira, 8 de agosto, depois de uma conversa entre Salvini e o primeiro-ministro, Giuseppe Conte. 

"Vamos imediatamente para o parlamento formalizar que já não existe uma maioria [de governo], como ficou evidente na votação da ligação de alta velocidade, e restituiremos rapidamente a palavra aos eleitores", escreveu Salvini numa nota divulgada depois do encontro de emergência com Conte , confirmando assim a abertura de outra crise política em Itália. 

Foi um dia movimentado para os principais atores políticos transalpinos. Além da mais de uma hora em que Salvini e Conte estiveram reunidos, Di Maio disse aos jornalistas que esteve a trabalhar, como de costume, no respetivo gabinete, e o presidente italiano, Sergio Mattarella, convocou o presidente da câmara baixa do parlamento, Roberto Fico, para aferir das possibilidades em cima da mesa. Antes, Mattarella já tinha conversado com Conte, porém aquando dessa conversa o primeiro-ministro ainda não conhecia as intenções do líder da Liga.

Salvini apontou baterias a Di Maio, considerando ser "inútil seguir em frente debaixo de golpes de 'nãos' e de litígios como nas últimas semanas". O também ministro do Interior fazia assim referência àquela que foi a gota de água e que diz respeito à votação desta quarta-feira no Senado, em que o 5 Estrelas votou contra a ligação ferroviária de alta velocidade (Tav) entre Turim (Itália) e Lyon (França), projeto ao qual o partido de Di Maio se opõe alegando razões ambientais.
 
Ainda com a mira apontada ao líder do 5 Estrelas, que disse estar "tranquilo" e a "trabalhar a bem do país", Matteo Salvini defendeu que "as férias não podem servir de desculpa para perder tempo", defendendo assim que se deve regressar às urnas o quanto antes.

Mas Di Maio não tem tanta pressa e já recordou que, na abertura dos trabalhos parlamentares, a 9 de setembro, os deputados vão retomar a discussão da reforma constitucional com que o 5 Estrelas pretende reduzir em 345 o número de membros do parlamento. Para o governante, se é para ir a eleições deve aproveitar-se para as realizar já com essa reforma de "bom-senso" aprovada.

Quando for confirmado, no parlamento, o fim da maioria parlamentar que apoiou o executivo Liga-5 Estrelas, Conte passará a chegiar um governo transitório até à realização de novas eleições. 

Salvini na "pole position"
Dependendo do momento em que for oficializada a rutura no governo, se antes ou depois de 15 de agosto ou já em setembro, o Il Giornale avança já com três datas possíveis para o regresso às urnas: 13, 20 ou 27 de outubro. Depois de dissolvidas as duas câmaras, o presidente da República tem entre 45 e 70 dias para marcar novas eleições.

Por sinal, o dia 27 de outubro é também a data prevista para a aprovação da proposta de orçamento para 2020, documento que há um ano fez correr muita tinta e que levou Bruxelas a, pela primeira vez, chumbar a proposta apresentada por um Estado-membro. 

Se o 5 Estrelas venceu as eleições de março do ano passado, com a Liga a ficar em terceiro, desde então foi o partido de Salvini que melhor capitalizou a presença no governo, ganhando créditos sobretudo graças às medidas (e narrativa) anti-imigração que este aprovou. Uma sondagem da Winpoll para o Il Sole 24 Ore atribui 40% das intenções de voto à Liga, 23,3% ao PD (centro-esquerda) e apenas 15% ao 5 Estrelas.

Já o Irmãos de Itália (direita radical e populista) de Giorgia Meloni supera o Força Itália de Silvio Berlusconi e chega aos 7,4%. Isto significa que, juntos, Salvini e Meloni teriam uma virtual maioria absoluta e poderiam formar uma aliança governativa de extrema-direita.

A convivência entre Salvini e Di Maio foi sempre difícil e foram diversos os litígios, do recente "Russiagate" às díspares prioridades programáticas, ao ponto de, no passado mês de junho, o independente Giuseppe Conte ter ameaçado demitir-se se os seus números dois não pusessem de parte as suas divergências em nome da governação.

Di Maio não aceitou governar com o PD na sequência das eleições e o bloco da direita (Salvini, Berlusconi e Meloni) não detinha maioria parlamentar, pelo que se seguiram largas semanas de impasse e indefinição política até que duas forças anti-sistema e populistas decidiram forjar uma coligação inédita em Itália. 

O ex-primeiro-ministro, que provocou eleições antecipadas após apostar tudo num referendo constitucional que veio a perder, e que diz estar a ponderar abandonar o PD em setembro, considera que toda esta crise não passa de uma "palhaçada" e que se deviam "demitir os três: Salvini, Di Maio e o primeiro-ministro se alguém se lembrar de o avisar". Conte é um primeiro-ministro muito esvaziado de poder, já que a orientação política do governo estava sobretudo concentrada nos seus dois vices-primeiros-ministros.


O jornalista Alessandro Gilioli escreve no semanário L'Espresso que "7 de agosto será recordado como o dia em que chegou ao fim o estranho híbrido gerado a partir das eleições de 4 de março". 

(Notícia atualizada às 20:45)

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