Notícia
"Russiagate" faz estalar (nova) crise no governo italiano
Depois de o primeiro-ministro italiano não ter resguardado Matteo Salvini nas declarações prestadas no parlamento, o número dois do executivo passou ao ataque afirmando que as palavras de Conte lhe interessam "menos que nada". PD avança com moção de censura contra Salvini.
A frágil coligação que governa Itália atravessa novamente um período de tensão, com o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini a atacar o primeiro-ministro e o outro número dois do governo. A provocar esta tensão está o "Russiagate" italiano que envolve a Liga de Salvini num alegado esquema de financiamento oriundo de Moscovo.
Depois de o líder da Liga e também ministro do Interior ter rejeitado ir ao parlamento dar explicações sobre aquele caso, o primeiro-ministro Giuseppe Conte acedeu dar explicações aos deputados transalpinos, porém não protegeu Salvini.
Apesar de garantir manter "total confiança" no seu ministro e sublinhar não existirem quaisquer provas de crime e práticas ilícitas, Conte admitiu regressar ao parlamento se houver razões para "cessar antecipadamente" as suas funções.
Esta alusão a um final antecipado do governo e a forma como Conte confirmou que Gianluca Savoini (Liga) esteve, no verão do ano passado, em Moscovo, para onde voltou em outubro último, acompanhando a delegação liderada por Salvini, irritou o político nacional-populista.
"Ele (Conte) ofende-se se eu disser que aquilo que ele diz me interessa menos que nada", retaliou Matteo Salvini frisando que, apesar de tudo, as palavras do primeiro-ministro confirmaram que "não existe nada concreto".
"O primeiro-ministro quis sublinhar isso mesmo, mas não teve a cortesia institucional devida, [porque aceitou falar sobre] informações inúteis", rematou.
Savoini, antigo porta-voz de Salvini, é apontado pela Procuradoria de Milão como o homem que negociou diretamente com Moscovo o recebimentos de fundos para financiar a campanha eleitoral da Liga nas últimas europeias. Não é a primeira vez que é aventada a possibilidade de a Rússia financiar a Liga, partido pró-Putin.
O "Russiagate" transalpino surgiu a 9 de julho e foi noticiado pelo site Buzzfeed, que publicou um áudio de uma reunião entre três italianos e outros tantos russos num hotel moscovita.
O encontro terá decorrido em outubro de 2018 e neste terá sido decidida uma operação que envolve a venda de petróleo por uma empresa russa para a petrolífera italiana ENI. A compensação por este negócio envolveria o pagamento de 60 milhões de dólares à Liga. No entanto, os dados apontam para que o negócio sobre o petróleo não terá avançado.
Falando em "jogos palacianos", Salvini também apontou baterias ao líder do 5 Estrelas e vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio, por não controlar os seus deputados. Tudo porque vários elementos do 5 Estrelas também exigiram explicações ao líder da Liga.
Di Maio limitou-se a pedir a Salvini e Conte que "não litiguem", considerando que o primeiro-ministro foi "bastante generoso" ao aceitar falar no parlamento sobre uma questão que "obviamente não o envolve". "Dito isto, trabalhemos nas coisas concretas", concluiu.
Entretanto, esta manhã o PD (centro-esquerda) anunciou que vai submeter Salvini a uma moção de censura por este se recusar a prestar esclarecimentos aos deputados italianos.