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"Desemprego real" é quase o dobro do oficial
Pela primeira vez, o INE decidiu publicar um indicador de "subutilização do trabalho", que permite avaliar a alienação do mercado de trabalho mesmo quando não são oficialmente considerados casos de desemprego. Os últimos trimestres também trouxeram um alívio desta métrica, mas continua muito acima do desemprego oficial.
O mercado de trabalho português está a melhorar de trimestre para trimestre, tendo visto a taxa de desemprego recuar para 8,8% entre Abril e Junho. No entanto, estes dados não contam toda a história, excluindo alguns casos de alienação do mercado de trabalho. Agora, pela primeira vez, o INE publica um indicador que permite uma avaliação mais abrangente.
Aquilo a que chama a "subutilização do trabalho" mostra que o mercado de trabalho português ainda tem muito por onde melhorar. Segundo estes dados - que já eram calculados pelos jornalistas, mas agora têm carimbo do INE - existem 903 mil portugueses cuja mão-de-obra está a ser subutilizada. Isso é o dobro do valor oficial de desemprego, que ronda os 460 mil.
Que casos estão aqui incluídos? Recorde-se que, para ser considerado desempregado pelas instituições estatísticas, uma pessoa não pode estar empregada e tem de ter procurado trabalho. Existem três situações de alineação de mercado de trabalho que não estão incluídas nesse conceito oficial: subempregados (trabalhadores em part-time que gostariam de trabalhar mais horas); inactivos disponíveis (pessoas sem trabalho, que por qualquer motivo decidiram não procurar emprego neste período, por vezes, designados como "desencorajados"); e inactivos indisponíveis (pessoas que procuraram emprego, mas por qualquer motivo não estava disponível para trabalhar).
Se juntarmos estes três casos, a taxa de desemprego dispara dos 8,8% oficiais para 16,6%. Contudo, importa referir que este indicador também segue uma trajectória de desagravamento, tal como a taxa de desemprego oficial. Chegou a aproximar-se dos 26% no terceiro trimestre de 2013 e ainda no arranque de 2016 estava em 21%.
"No segundo trimestre de 2017, a subutilização do trabalho abrangeu 903,3 mil pessoas e a taxa correspondente ascendeu a 16,6%. Ambos os indicadores correspondem a praticamente o dobro da população desempregada e da taxa de desemprego, sendo que esta relação tem vindo a aumentar (era de 1,6 e 1,5, em cada caso, no primeiro trimestre de 2011)", refere o INE, na sua publicação. Isto é, embora ambos estejam a diminuir, o desemprego oficial está a cair mais rápido.
Desses três indicadores – subemprego e os dois tipos de inactivos – apenas um ainda não recuou para um nível abaixo do observado em 2011: os inactivos disponíveis. Isto é, portugueses sem trabalho que optaram por não procurar emprego. Podem não o fazer por algum constrangimento económico, familiar ou por acharem que não vão conseguir encontrar trabalho. Por vezes, são designados como "desencorajados".
"O objectivo da construção e divulgação regular deste indicador, a partir dos três indicadores suplementares do desemprego já disponibilizados pelo INE, é fornecer aos utilizadores uma medida mais abrangente da subutilização do trabalho do que a medida, mais restrita, correspondente à taxa de desemprego, sem alterar o modo de cálculo desta nem o seu estatuto de estatística oficial", explica o INE.