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Venezuela: portugueses apreensivos sobre o futuro próximo do país
A comunidade portuguesa radicada na Venezuela está apreensiva sobre o futuro próximo da Venezuela, nomeadamente depois das eleições de domingo, sentindo-se no meio de uma polarização política na qual evita envolver-se mas que está a afectar o quotidiano.
"Sempre disse que isso da política é para os políticos, que nós, os imigrantes portugueses, o que queremos é trabalhar, para criar família, progredir, e isso é bom para nós mas também para a própria Venezuela e para os venezuelanos com quem partilhamos o dia-a-dia", disse à Lusa o comerciante Pedro Manuel Vasconcelos, 60 anos.
No entanto, essa meta "está a ficar cada vez mais difícil de cumprir, porque mesmo querendo permanecer alheios à política", as decisões dos políticos "afectam" a vida de todos os dias.
"Estamos entre duas tendências políticas, que não estão solucionando os problemas das pessoas e no dia-a-dia parecem apenas disputar o poder e responsabilizar a outra parte pelo que não anda bem", explicou.
A viver em Caracas desde há quase 40 anos, o comerciante madeirense dá alguns exemplos: "na Venezuela, estamos em crise económica, foram tomadas medidas até agora ineficazes e a situação agrava-se, mas o Governo acusa a oposição de estar a fazer guerra económica, como se isso o ilibasse de responsabilidades e os opositores acusam o Executivo de má gestão, de não tomar previsões quando o preço do barril de petróleo estava alto, mas tão pouco falam de assumir responsabilidades".
"O futuro é actualmente muito incerto, depois das eleições de domingo não se sabe o que acontecerá e é difícil definir estratégias para lidar com imprevistos. Por um lado falam de que a Assembleia Constituinte promoverá a paz, que fará florescer a economia mas que combaterá o terrorismo o que pode interpretar-se como dissidência. No entanto, a oposição diz que legalizará a cubanização do país", disse.
E por isso, Pedro Vasconcelos nem sequer diz se vai votar no domingo para a Assembleia Constituinte.
"Se alguém diz que vai votar é automaticamente identificado com o chavismo, mas quem não for votar será identificado com a oposição, apesar de que o voto é secreto", explicou.
Muito preocupada com a situação está Maria Filomena da Silva, 70 anos, uma madeirense que tem dois filhos a viver na Europa (Suíça e Inglaterra) e uma "miúda" no Chile.
"Eles têm insistido para que 'emigre', que vá viver com eles, porque a situação aqui está cada vez mais perigosa", disse.
Impossibilitada de fazer telefonemas para o estrangeiro, porque as operadoras não dispõem de dólares para pagar as ligações, esta portuguesa descobriu, desde há três anos, uma alternativa para falar com os filhos.
"Tive que aprender a usar a Internet. Foi difícil, pela minha idade, e às vezes ainda me causa desespero mas já consigo usar o Skype", disse.
Mais de 19,8 milhões de venezuelanos estão convocados para acudir às urnas neste domingo, para eleger os membros da Assembleia Constituinte, impulsionada pelo Presidente Nicolás Maduro para modificar e incorporar elementos essenciais da actual Constituição.
Segundo dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) foram admitidas 6.120 candidaturas que disputam 545 cargos a eleger, 8 deles em representação indígena. Do total das candidaturas, 3.546 são por representação territorial e 2.574 de âmbito sectorial ou local.
As urnas estarão abertas a partir das 06:00 horas locais (11:30 horas em Lisboa) e 364 dos candidatos eleitos terão representação territorial (nacional) e 173, sectorial ou local. O encerramento dos centros está previsto para as 18:00 horas locais (23:30 em Lisboa), se não houverem eleitores em fila para votar.
Nestas eleições a oposição venezuelana decidiu não participar.