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Recados, ideias e linhas vermelhas do Congresso laranja

No primeiro dia do Congresso do PSD falou Passos e depois discursou Rio. O novo líder falou para o partido, mas já deixou algumas ideias para o país. Aqui ficam as mensagens do dia 1.

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No primeiro dia do Congresso do PSD, que decorre até domingo, Passos Coelho despediu-se com recados ao sucessor. Rui Rio discursou avisando ao que vem: diálogo sim, bloco central não. Aqui ficam as principais mensagens que saíram do dia de arranque do encontro, onde também se começaram a discutir algumas moções sectoriais.   

Rejeição ao bloco central

No Congresso laranja, a primeira linha a ser traçada foi vermelha. Para que não restassem dúvidas, Rui Rio fez questão de esclarecer que um cenário de bloco central "não existe nem existirá". Sobre as declarações vindas da esquerda a rejeitar qualquer hipótese de bloco central, Rio garantiu que esses partidos apenas "perdem tempo" a discutir o "sexo dos anjos" porque com ele tal cenário não acontecerá.

Também Passos Coelho apontou, indirectamente, para uma rejeição ao bloco central. O ainda presidente social-democrata criticou duramente a forma e o conteúdo da governação socialista, estreitando o caminho a qualquer acordo de Rio com o PS.


Por outro lado, Passos sinalizou a obra feita em conjunto com o CDS pelo anterior Governo, notando que "isso será importante para o futuro". Desta forma defendeu duas ideias: que os centristas são o único parceiro potencial do PSD para governar; e que será difícil aos sociais-democratas regressarem ao poder sem o apoio do CDS.


Menos clara foi a posição de Rui Rio sobre a possibilidade de viabilizar um Governo socialista. Depois de na campanha para as directas do partido ter admitido viabilizar um Executivo do PS – cenário decorrente do imperativo de garantir a estabilidade governativa e da intenção de afastar a extrema-esquerda do poder – Rio não esclareceu o que fará se tal hipótese se colocar. Ficou em aberto a possibilidade de viabilização de um Governo do PS.

Dialogar com o PS

A rejeição de um bloco central não impediu Rui Rio de defender acordos com outros partidos em dossiês que considera fundamentais, em "temas de interesse nacional". "Uma coisa é estarmos disponíveis para dialogar democraticamente com os outros e cooperarmos na busca de soluções para os graves problemas nacionais, que, de outra forma, não é possível resolver. Coisa diferente é estarmos disponíveis para nos subordinarmos aos interesses dos outros." Rio não se referiu directamente ao PS quando falou na vontade de dialogar, mas já durante a campanha o novo líder social-democrata tinha defendido a necessidade de fazer acordos com os socialistas em algumas matérias. 

No discurso que marcou o primeiro dia do encontro social-democrata, Rio assumiu que o poder político tem de assumir que é preciso "levar a cabo as reformas estruturais" que restabeleçam a confiança entre os cidadãos e a democracia. Esta não é tarefa que um partido seja "capaz de resolver isoladamente". O novo presidente do PSD falou sobre estas reformas. A reforma do sistema político, como "novas formas de eleição", a reforma da Justiça, com mais meios, mais recato no funcionamento e mais transparente, e a reforma do Estado, nomeadamente a descentralização - uma "matéria de regime". 

Pouco PIB e muito défice

Passos apontou ao crescimento económico aquém das possibilidades e Rio fez mira à insignificante redução prevista do défice de 2017 para 2018.

O crescimento do PIB de 2,7% em 2017 – o maior deste século – tem de ser "enquadrado com a conjuntura externa", disse Passos Coelho defendendo que, numa análise sob a perspectiva do robusto crescimento económico verificado na Zona Euro, com 13 países a crescerem "bem mais" do que Portugal, o Governo devia ter alcançado um maior crescimento.

Já Rui Rio lamentou a perspectiva do Governo para 2018 de redução do défice orçamental em 0,1 ou 0,2 pontos percentuais, que "é praticamente o mesmo que nada".


Depois de já ter chegado a defender um défice zero, o ex-autarca portuense tem vindo a alertar para a necessidade de aproveitar o bom momento da economia para reduzir mais rapidamente o défice e também a dívida pública.  

Um partido unido

Diz-se que uma imagem vale mais do que mil palavras e Rio apostou nisso mesmo. Entrou na sala onde decorre o Congresso do PSD juntamente com Santana Lopes, sentaram-se lado a lado (com Passos ali mesmo ao pé), numa tentativa de mostrar que as divergências da campanha terminaram no dia 13 de Janeiro, quando Rio venceu Santana com 54% dos votos. E depois das imagens, vieram as palavras quando Rio elogiou a "militância activa e empenhada" de Santana Lopes. Nos últimos dias, antes do Congresso, Rio já tinha dados sinais de querer um partido unido, quando convidou o seu adversário nas directas de Janeiro para encabeçar a sua lista ao Conselho Nacional.

Mas se Rio tratou de proteger a unidade futura, também cuidou de resolver desavenças do passado. Dirigindo-se a Passos Coelho - que Rio chegou a criticar quando este era primeiro-ministro -, o novo presidente dos sociais-democratas disse que "o que ficará destes seus oito anos à frente do nosso partido não serão as críticas que, em qualquer circunstância, o exercício deste cargo sempre teve e terá".

A abertura do PSD

O primeiro discurso de um novo líder num Congresso tem sempre recados para dentro. E Rio não fugiu do figurino. Aproveitando a sala de cheia de militantes laranja, Rui Rio defendeu que o partido tem de se abrir à sociedade e ir buscar os melhores. "Temos de substituir os vetos de gaveta à entrada de novos militantes por medo de se poder perder a pequena influência local, pela entrada livre de todos os portugueses, que se revendo nos nossos princípios ideológicos e se situando no centro do espectro político nacional, pretendam militar de forma séria e desinteressada no PSD", disse Rio. "Temos de ser um partido aberto", disse, acrescentando que é preciso "assumir a tarefa de revitalização da vida partidária". E não esqueceu as finanças internas do partido. "Contas partidárias equilibradas  e recursos disponíveis optimizados" foram outras das directrizes deixadas para dentro do PSD.      

Palavra de ordem: vencer todas as eleições

Foi com a garantia de que o PSD está apostado em "vencer todas as eleições" que Rio mais galvanizou os congressistas. O líder eleito social-democrata considera que enquanto "grande partido de poder", o PSD sob a sua liderança quer vencer "todas as eleições a que nos apresentamos".

Àqueles que dizem que Rio poderá ser um líder a prazo se perder as legislativas de 2019, o antigo autarca do Porto afirmou que quer ganhar os três actos eleitorais do próximo ano: legislativas, europeias e as eleições regionais da Madeira.

Rio comprometeu-se ainda a preparar de imediato as autárquicas de 2021 por forma a restabelecer a implantação local do partido. 

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