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Hans-Paul Bürkner: "As pessoas sempre esticaram os limites", como fez a Volkswagen
Hans-Paul Bürkner, presidente da Boston Consulting Group, fala aqui sobre padrões éticos e concorrência. A propósito do caso Volkswagen, diz que o que foi feito “é indefensável” e "serão castigados por traírem os clientes".
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Podemos estar a desvalorizar a importância do crescimento sustentado e padrões éticos devido à concorrência. Acha que é um problema?
Não penso que seja.
O crescimento magnífico da China e saída de centenas de milhões de pessoas da pobreza acontece em paralelo com graves problemas ambientais, a uma escala difícil de acreditar. Não deveríamos estar preocupados?
Quando começámos a industrialização no Reino Unido, na França, Bélgica e Alemanha e nos EUA, a poluição era terrível. O ar era muito mau. É claro que na altura não mediamos a poluição.
Antes não tínhamos a tecnologia para o evitar, e agora temos. Ainda assim parte do mundo ignora-a permitindo produção mais barata…
Posso dizer para não conduzir um carro na China ou na Índia porque está a poluir. Mas eu quero conduzir o meu e essa é uma atitude arrogante. Eu vou à China com frequência: sei que o ar em muitas cidades e zonas industriais é muito mau. Os chineses percebem, estão a trabalhar nisso e vão reduzir a poluição. Mas dependem ainda muito de combustíveis fosseis pelo que é difícil.
Há relatos, por exemplo, de despejo de toneladas de produtos tóxicos que permitem produzir painéis solares a metade do preço praticado na Alemanha. A questão não é apenas chinesa, é a forma como está a ser gerida a globalização…
Não quero justificar o despejo de metais tóxicos na terra. Deve haver regras claras, mas também nos levou muitas décadas a chegar lá e os chineses precisarão de alguns anos. Não devemos assumir que devemos impor nos nossos "standards". A camisa que está a vestir é com elevada probabilidade produzida no Bangladesh ou na China. As pessoas na H&M e na Zara estão a comprar as camisas a preços baixos e para as mulheres no Bangladesh significa trabalho.
Para algumas também significa doenças…
Sim, significa doenças e mortes, mas se deixar pura e simplesmente de comprar camisas deixará sem emprego muitas pessoas.
Hoje em dia no Ocidente, graças a produção barata na Ásia, vendem-se bens mais baratos do que custa repará-los. Há roupa mais barata nova que a limpeza a seco. Isto é equilibrado?
Agora entramos no comportamento dos consumidores. Cada um tem de tomar uma decisão sobre como quer operar neste contexto. As minhas camisas ainda vão para lavar e não é porque sejam muito caras, mas porque é importante conservar recursos. Por outro lado, também precisamos de crescimento significativo nos mercados emergentes. Nos últimos 30 anos centenas de milhares de pessoas saíram da pobreza e estamos agora abaixo de mil milhões de pessoas muito muito pobres. Ainda é demais, mas temos a tendência para pensar que o mundo está em má forma e a ficar pior, o que não é verdade: nos últimos 30 anos observámos uma melhoria significativa.
O escândalo da Volkswagen é um sinal preocupante que a concorrência a nível global pode estar a ir longe demais?
Não quero defender a Volkswagen, o que fizeram é indefensável, serão castigados por traírem os clientes e terá repercussões significativas. Mas a verdade é que sempre se esticaram os limites. Hoje há mais transparência e investigação e por isso que sabemos mais. Não penso que no passado nos tenhamos comportado melhor ou com mais integridade do que agora.