Notícia
Esquerda celebra vitória surpresa em França. Macron só fala segunda-feira
As legislativas francesas deste domingo tiveram a maior afluência desde 1981. Jean-Luc Mélenchon diz-se preparado para governar, enquanto Jordan Bardella reconheceu a derrota. Na primeira reação dos mercados, o euro desvaloriza.
Festejos de vitória da esquerda em Paris marcados por confrontos com a polícia
Milhares de pessoas encheram a praça da República em Paris para festejar a vitória da esquerda nas eleições legislativas, numa manifestação marcada por confrontos com a polícia, que acabou por usar gás lacrimogéneo, de acordo com a agência Lusa.
Durante toda a manifestação, a praça esteve rodeada por um forte perímetro de segurança, com carrinhas e polícias de choque a controlarem todos os acessos à praça, equipados com capacetes e escudos de proteção.
Muitas pessoas com máscaras foram atirando petardos e garrafas contra as forças de segurança, tendo incendiando lixos e bicicletas. Em resposta, a polícia lançou gás lacrimogéneo, acabando por dispersar, por volta das 00:00 (23:00 em Lisboa) a grande maioria da multidão que se encontrava na praça.
Antes destes confrontos, milhares de pessoas encheram a praça para celebrar a vitória da esquerda nas eleições legislativas, com bandeiras da coligação de esquerda Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês), assim como bandeiras de França, de Marrocos, Argélia ou com o arco-íris representativo do movimento LGBT.
Os resultados finais confirmam a vitória da esquerda e indicam, segundo o Le Monde, que a Nova Frente Popular (NFP) conseguiu eleger 182 deputados, à frente da coligação Renascimento, de Emmanuel Macron, que ficou com 168.
A União Nacional, de Marine Le Pen, não foi além do terceiro lugar, com 143 lugares. Entre os partidos mais pequenos, os Republicanos elegem 45 deputados, o Agir fica com 15 lugares e o Partido de Esquerda com 13. O Parlamento francês tem 577 lugares pelo que nenhum partido conseguiu os 289 necessários para garantir uma maioria absoluta.
PS, BE, PAN e Livre salientam derrota da extrema-direita
PS, BE, PAN e Livre assinalaram que a extrema-direita saiu derrotada das eleições legislativas francesas, enquanto o Chega considerou que o resultado constitui uma "derrocada para a Europa".
Numa publicação na rede social X (antigo Twitter), o secretário-geral do PS felicitou "a esquerda francesa e a sua unidade por este extraordinário resultado".
"A Nova Frente Popular venceu as eleições em França. A extrema-direita foi claramente derrotada. 'A França merece melhor do que uma alternativa entre neoliberalismo e fascismo', como disse Olivier Faure, secretário-geral do @partisocialiste", escreveu Pedro Nuno Santos.
O secretário-geral do PS defendeu que "unida, a esquerda venceu a extrema-direita nas urnas, agora terá de a vencer na governação e nas políticas públicas" e considerou que "a melhor barreira contra a extrema-direita está na defesa e aprofundamento do Estado Social".
A Nova Frente Popular venceu as eleições em França. A extrema-direita foi claramente derrotada. "A França merece melhor do que uma alternativa entre neoliberalismo e fascismo", como disse Olivier Faure, secretário-geral do @partisocialiste . Felicito a esquerda francesa e a sua…
— Pedro Nuno Santos (@PNSpedronuno) July 7, 2024
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, escreveu na mesma rede social que "a esquerda derrotou a extrema-direita".
"O povo francês mostrou que a escolha não é entre o centrão neoliberal e a extrema-direita. A vitória da esquerda, liderada pela @FranceInsoumise, abre caminho a um projeto radicalmente social e ecologista. A esperança ganha força na Europa", salientou a bloquista.
Por seu turno, a porta-voz do PAN considerou que "o povo francês derrotou a extrema-direita", defendendo que "foi um dia bom para a democracia, que mostra que nunca se devem decretar vencedores antecipados e a vitória do progresso social e ambiental".
Em comunicado, o Livre assinalou que "os eleitores franceses mobilizaram-se e afluíram em massa às urnas para evitar o primeiro governo de extrema-direita desde a Segunda Guerra Mundial", mas referiu que este é, "de longe, o melhor resultado de sempre da extrema-direita em eleições legislativas em França".
O Livre destacou que este é "o momento de agir e de pôr em prática as medidas sociais, ecologistas, progressistas que respondam aos anseios de todas e todos os que vivem em França", considerando ser necessário "criar uma República social e ecologista que seja clara e indubitavelmente feminista, antirracista, ecologista e progressista".
O partido salientou ainda que "este resultado mostra que a convergência de forças progressistas, ecologistas e de esquerda é a melhor forma de, em paralelo, combater a extrema-direita e criar uma alternativa de governação".
Euro desvaloriza após eleições em França
O euro segue em ligeira baixa após serem conhecidas as projeções de resultados das eleições em França. A perspetiva de um Parlamento "pendurado" e a inesperada aprovação da esquerda deverá gerar incerteza nos mercados financeiros pelo que as primeiras negociações sinalizam que se segue volatilidade.
"Parece que os partidos enti-extrema-direita obtiveram um grande apoio", afirmou Simon Harvey, diretor de análise cambial da Monex Europe, em declarações à Reuters.
Os investidores têm mostrado preocupações em relação aos planos da esquerda francesa para anual reformas pró-mercado do Presidente Emmanuel Macron. Além disso, o impasse político pode acabar com as tentativas de controlar a dívida da França, que ficou em 110,6% do produto interno bruto (PIB) em 2023.
"Mas, fundamentalmente, de uma perspetiva de mercado, não há diferença em termos de resultado. Vai haver realmente um vazio no que diz respeito à capacidade legislativa da França", rematou Simon Harvey.
O euro segue a desvalorizar 0,2% contra a divisa norte-americana para 1,081 dólares. Na semana passada a moeda única única reagiu em alta às sondagens, atenuando os receios de uma vitória da extrema-direita, depois de uma queda acentuada - sincronizada com ações e obrigações - quando Macron convocou as eleições no início de junho.
Marcelo diz que "o que o povo decide está bem decidido"
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse este domingo bservar "atentamente" o que se passa nas eleições legislativas em França, ainda sem resultados finais, e considerou que "o que o povo decide está bem decidido".
"O que o povo decide está bem decidido", argumentou o Chefe de Estado português, quando questionado pelos jornalistas sobre se está surpreendido com as projeções que dão a coligação de esquerda como vencedora na segunda volta das legislativas francesas, realizada hoje.
Em Beja, à saída da Sé Catedral, onde assistiu à ordenação episcopal do novo bispo desta diocese alentejana, o Presidente da República disse aos jornalistas ter "muita dificuldade em comentar" as eleições em França, por não dispor de informação.
"Acabei de assistir a uma cerimónia de três horas e, portanto, não tenho elementos", disse.
Perante a indicação da parte dos jornalistas de que o presidente francês, Emmanuel Macron, prefere comentar as eleições só na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa frisou: "Se o presidente francês não sabe o que dizer, imagina o presidente português sobre o que se passa num país amigo".
"Portanto, eu observo atentamente o que se passa e que é muito importante para a Europa. Vamos esperar os resultados finais e, depois, amanhã ou depois de amanhã, eu falarei", limitou-se a acrescentar.
Paris celebra os resultados eleitorais
Gabriel Attal anuncia que vai pedir demissão
O atual primeiro-ministro de França Gabriel Attal anunciou que vai amanhã, segunda-feira, pedir demissão do cargo depois de a coligação de esquerda surgir nas projeções como vencedora na segunda volta das eleições legislativas.
"Entregarei a minha demissão ao Presidente da República amanhã (segunda-feira) de manhã", anunciou Gabriel Attal, em conferência de imprensa a partir da residência oficial. "Assumirei obviamente as minhas funções durante o tempo que o dever exigir", referiu.
"Não escolhi esta dissolução, mas recusei-me a submeter-me. Decidimos lutar. Alertei para o risco de uma maioria absoluta da França Insubmissa ou da União Nacional e para o risco de desaparecimento do nosso movimento. Estes três riscos foram afastados pelos franceses. Devemos isso a este espírito francês, apegado aos seus valores", argumentou.
O centro "está vivo e de boa saúde" graças à "determinação" dos seus representantes, sublinhou Attal, notando que o movimento Juntos que apoia terá "três vezes mais deputados do que as estimativas sugeridas no início desta campanha".
De acordo com o Le Fígaro, o Presidente Emmanuel Macron não vai discursar esta noite. O Palácio do Eliseu fez saber que as projeções sobre a segunda volta das eleições legislativas não são ainda claros sobre quem deve governar o país pelo que Macron estará ainda a analisar os resultados.
O ministro do Interior Gérald Darmanin que foi reeleito por uma região do norte, replicou a mensagem, dizendo que "ninguém pode dizer que ganhou" as eleições. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros Stéphane Séjourné considerou "óbvio" que Jean-Luc Mélenchon "não pode governar França".
Marine Le Pen garante que vitória ficou "apenas adiada"
A líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen afirmou este domingo que a vitória ficou "apenas adiada", depois das projeções apontarem o seu partido, a União Nacional, no terceiro lugar, atrás da aliança de esquerda e do bloco do Presidente.
"A maré está a subir. Desta vez não subiu suficientemente alto, mas continua a subir. E, por isso, a nossa vitória só tarda", declarou a líder no canal privado TF1.
"Tenho demasiada experiência para ficar desiludida com um resultado em que duplicamos o nosso número de deputados", segundo a dirigente, comentando as projeções divulgadas após o fecho das urnas
As estimativas apontam uma vitória da Nova Frente Popular, com 172 e 215 deputados, enquanto o bloco de Emmanuel Macron poderá contar com 150 a 180 lugares, à frente do partido de extrema-direita, com entre 115 e 155 deputados eleitos.
André Ventura lamenta derrota da RN
O líder do Chega André Ventura usou o Twitter para lamentar a derrota da RN em França. Afirmou que, caso se concretizem as projeções, será um "desastre" para a economia.
Desastre para a economia, tragédia na imigração e mau no combate à corrupção. Se se confirmarem estes resultados em França é uma verdadeira derrocada para a Europa!
— André Ventura (@AndreCVentura) July 7, 2024
Os Ecologistas celebram "justiça social" e "ambiental"
Marine Tondelier, de Os Ecologistas, celebrou as projeções dos resultados das legislativas. "Esta noite, a justiça social ganhou. Esta noite, ganhou a justiça ambiental. Esta noite, as pessoas ganharam. E ainda agora começou!", disse.
Ce soir, la justice sociale a gagné.
— Marine Tondelier (@marinetondelier) July 7, 2024
Ce soir, la justice environnementale a gagné.
Ce soir, le peuple a gagné.
Et ça ne fait que commencer !#VictoireNFP #ElectionsLegislatives2024 pic.twitter.com/3OwoRTdFTG
Bardella da União Nacional fala de "alianças contranatura" para impedir mudanças
O candidato da União Nacional a primeiro-ministro, Jordan Bardella, acusou este domingo o Presidente francês de ter impedido uma mudança em França através de uma "aliança contra-natura", referindo-se à "frente republicana" que uniu o centro e a esquerda.
"As alianças contra-natura conduziram a que os franceses ficassem privados de uma política diferente", afirmou Bardella depois de conhecidas as primeiras projeções que dão a vitória à coligação de esquerda Nova Frente Popular. O partido de Emmanuel Macron terá ficado em segundo lugar e a extrema-direita em terceiro.
Trata-se de uma reviravolta surpreendente depois da vitória da União Nacional (RN, na sigla francesa). "Estes resultados "atiraram a França para os braços da extrema-eseuqreda de Jean-Luc Mélanchon", sublinhou Bardella.
O líder do RN prometeu manter-se fiel às políticas do partido, falando de uma "extrema-esquerda incendiária eu sei que a frustração de milhões de franceses", acrescentando que "esta noite tudo começa e o RN vai fazer o seu trabalho e vamos continuar a união de todos os franceses. O RN é diferente dos outros não vamos entrar em qualquer compromisso político estaremos ao lado do povo francês para restaurar a soberania do país", garantiu.
Olivier Faure fala de responsabilidade e pede reversão de reformas
Olivier Faure, secretário-geral do Partido Socialista francês, afirmou que a votação dá uma "imensa responsabilidade" à Nova Frente Popular. Voltou também a apelar à anulação da controversa reforma das pensões do Presidente Emmnuel Macron.
Vão sendo conhecidas algumas personalidades que ganham lugares no Parlamento. O antigo presidente socialista François Hollande já terá conseguido uma posição, tal como a ex-primeira ministra (do Renascimento) Élisabeth Borne.
Apoiantes da esquerda festejam resultados em Marsella
"A Nova Frente Popular está pronta para governar", diz Jean-Luc Mélenchon
O líder e fundador do partido "França Insubmissa", Jean-Luc Mélenchon exigiu este domingo ao Presidente da República a nomeação de um primeiro-ministro da Nova Frente Popular, o movimento de esquerda que, segundo as projeções, venceu as legislativas em França.
"A Nova Frente Popular está preparada para governar é a esquerda unida", afirmou Jean-Luc Mélenchon, logo a seguir a serem conhecidas as primeiras projeções que dão a vitória à coligação de esquerda. "O nosso povo votou em consciência e agradeço a todos pela participação", afirmou o dirigente político. "A vontade do povo deve ser estritamente respeitada", acrescentou, num claro recado ao Presidente Emmanuel Macron. "É a derrota do Presidente da República e da sua coligação", disse Mélenchon.
O fundador do França Insubmissa indicou já que vai lutar pela revogação à subida da idade da reforma e garantiu que não vai negociar com Macron.
Nova Frente Popular lidera sondagens
Os eleitores franceses participaram em massa na segunda volta das eleições legislativas antecipadas. Até às 17:00 deste domingo a taxa de participação atingiu os 59,71% dos eleitores inscritos, ou seja, mais 21,6 pontos percentuais face à segunda volta de 2022, quando à mesma hora era de 38,11%. A taxa de participação atinge assim um recorde novo desde 1981.
? Election #legislatives2024 : 2e tour
— Ifop Opinion (@IfopOpinion) July 7, 2024
Projection en sièges à l’Assemblée nationale
Nouveau Front Pop. : 180-215
Ensemble (Majo. Pres.) : 150-180
RN et alliés : 120-150@IfopOpinion pour @TF1 @LCI (20H00) pic.twitter.com/kE1nMaVMLU