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O que está em causa nas eleições francesas? Um guia para um domingo incerto
Os eleitores franceses regressam este domingo às urnas para aquelas que são consideradas as eleições mais importantes das últimas décadas na segunda maior economia europeia. A União Nacional, de Marine Le Pen deverá ganhar, mas sem maioria. E até onde resiste a “frente republicana”?
São já consideradas as eleições mais desafiantes das últimas décadas em França, quando um partido de extrema-direita assume condições de vencer as eleições para a câmara baixa do Parlamento pela primeira vez desde a administração Vichy, colaboracionista dos nazis, durante a II Guerra Mundial, como recorda a Bloomberg.
A principal questão é saber se a União Nacional (RN, na sigla francesa), de Marine Le Pen consegue a maioria dos mandatos no Parlamento, apesar de as sondagens darem esse cenário como cada vez mais improvável.
Tudo começou com a marcação de eleições legislativas antecipadas por parte o presidente Emmanuel Macron, logo a seguir ao "desair" das eleições europeias do dia 9 de junho. Com esta decisão, Macron esperava clarificar a situação política, mas arrisca a somar mais uma derrota no espaço de um mês.
Nas últimas semanas, numa tentativa de suavizar o discurso, a RN deixou para segundo plano algumas das propostas mais controversas, mas continua a apostar nas limitações à entrada e permanência de imigrantes, no corte do financiamento para o orçamento europeu e na revogação de algumas reformas do sistema de pensões de Macron, como o aumento da idade da reforma.
O que aconteceu na primeira volta?
Os resultados das primeira volta das eleições legislativas ficaram marcadas pela vitória inédita da União Nacional, com o jovem candidato e mão direita de Le Pen, Jordan Bardella, a conseguir 33,15% dos votos, à frente na união das esquerdas (Nova Frente Popular), recolheu 27,99% dos escrutínios e o partido de Macron (Renascimento), apenas 20,04%.
Numa primeira volta marcada por uma elevada taxa de participação (67,5%) – que promete repetir-se ou mesmo ultrapassar este domingo –, tudo pode acontecer quanto aos resultados de um parlamento altamente fragmentado e sem uma possibilidade de maioria clara, o que inédito no país.
Parlamento ultra-dividido e paralisado
Para se conseguir a maioria absoluta, uma força política (ou coligação) terá de conseguir 289 deputados. Para esta segunda volta, estão em causa 501 mandatos, uma vez que da primeira volta ficaram já atribuídos 76 lugares na Assembleia Nacional.
Destes, 39 deputados foram eleitos pela RN e aliados; a coligação das esquerdas – Nova Frente Popular – assegurou 32 e o movimento de Macron apenas dois. Para tentar evitar uma maioria da União Nacional, foi constituída uma espécie de "frente republicana" entre o centro (de Macron e as esquerdas unidas) para evitar a dispersão de votos. Quase 200 candidatos que tinham passado à segunda volta desistiram das respetivas candidaturas, criando um cordão sanitário sobre a extrema-direita.
Resultados possíveis
Se um partido ou coligação conseguir mais mandatos, mas sem a maioria absoluta, pode ser formado um governo de minoria – como o atual. Mas tudo depende do Presidente Macron que tem estado longe dos holofotes nas últimas duas semanas.
O candidato da União Nacional a primeiro-ministro, Jordan Bardella, já disse que não vai aceitar a nomeação de primeiro-ministro caso não consiga assegurar a maioria no parlamento. Neste cenário, a Assembleia Nacional entraria num estado de paralisação absoluta.
Emmanuel Macron poderia optar por nomear um tecnocrata – como aconteceu em Itália com Mario Draghi – mas teria de ser um nome consensual e que aceitasse governar numa situação de um parlamento muito dividido.
Num cenário de maioria da extrema-direita, França assistiria a um período tenso de "coabitação" entre um governo e um presidente de forças opostas. Não seria a primeira vez que tal aconteceria. A última aconteceu entre 1997 e 2002, com o presidente de centro-direita Jacques Chirac e o socialista Lionel Jospin.
A reação dos mercados
Desde que o Presidente Emmanuel Macron convocou eleições antecipadas, o principal índice bolsista – CAC 40 – teve o pior desempenho entre os pares europeus, recorda a Bloomberg.
Apesar de na última semana ter recuperado depois das quedas que se seguiram ao anúncio de legislativas, o CAC 40 continua cerca de 4% abaixo dos níveis anteriores a 9 de junho. Também o risco das obrigações gaulesas subiu, com os investidores a pedirem juros mais elevados para deter-me dívida francesa. Esta segunda-feira teremos o impacto dos resultados.