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Fed anuncia corte surpresa da taxa de juro em 50 pontos base
O banco central dos Estados Unidos anunciou um corte surpresa de 50 pontos base na taxa de juro diretora do país, para conter o impacto económico do coronavírus. É a primeira vez que a Fed anuncia cortes de emergência desde a crise financeira.
"Os fundamentos da economia dos EUA continuam fortes. No entanto, o coronavírus apresenta riscos crescentes para a atividade económica. À luz desses riscos e para apoiar as metas de emprego e inflação, o Federal Open Market Committee (FOMC) decidiu hoje reduzir o intervalo para a taxa de reservas federais em 1/2 ponto percentual", pode ler-se no comunicado enviado pelo banco central.
"Por considerarmos que essa difusão vai continuar a aumentar, achámos apropriado atuar no imediato", reforçou o líder do banco central, acrescentando que "o vírus precisa de uma resposta rígida por parte das instituições de saúde, primeiro, e pelas instituições financeiras, depois", com a política monetária a ter a "capacidade para dar ainda mais apoio".
No mesmo dia em que a cimeira do G7 anuncia que iria abrir portas a possíveis estímulos orçamentais, para conter o impacto económico da epidemia Covid-19 - mas sem anunciar medidas concretas - o banco liderado por Jerome Powell chega-se à frente e anuncia um corte de 50 pontos base.
A última vez que a Reserva Federal dos Estados Unidos agiu de forma semelhante foi durante a crise financeira de 2008, na altura um corte concertado entre os maiores bancos centrais do mundo, como o Banco Central Europeu ou o Banco do Japão, para tentar contornar o ímpeto da crise.
A Fed anunciou que esta foi uma decisão unânime no seio da instituição e, com esta redução, o nível da taxa diretora do país é inferior ao nível quando Jerome Poweel assumiu o cargo, a 5 de fevereiro de 2018, altura em que se fixava num intervalo de 1,25% e 1,5%, ainda fixado pela sua antecessora, Janet Yellen.
Na semana passada, Jerome Powell já tinha assumido que esta seria uma hipótese para conter o impacto económico do coronavírus, ao anunciar num comunicado que iria "usar todas as ferramentas e agir de forma apropriada para sustentar a economia". A homóloga do Banco Central Europeu, Christine Lagarde mostrou-se mais cautelosa ao Financial Times, e avisou que ainda era preciso provar um impacto duradouro do coronavírus para agir.
Uma opinião diferente tem a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, tendo avisado que a política monetária não é a ferramenta mais apropriada para conter a epidemia Covid-19. "Não é apenas um choque na procura. É um choque na confiança e uma disrupção na cadeia de distribuição com a qual os bancos centrais não conseguem lidar sozinhos", alertou Boone, que anunciou o corte das previsões do PIB.
Do ponto de vista da OCDE, a ação deve vir da parte dos Estados, nomeadamente com maior investimento público em saúde. A Organização dá o exemplo da Alemanha como um país que pode gastar mais sem comprometer a sustentabilidade da sua dívida.
Hoje, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou a sua conta de Twitter para voltar a pressionar a Reserva Federal, no sentido de agir perante o avanço do coronavírus, dando o exemplo de outros bancos centrais, como o da Austrália, que horas antes anunciou um corte na taxa de juro diretora do país.
Através da mesma rede social, Donald Trump reagiu à divulgação do corte por parte da Fed e expressou a sua vontade em querer ir mais longe e voltar a cortar a taxa de juro.
The Federal Reserve is cutting but must further ease and, most importantly, come into line with other countries/competitors. We are not playing on a level field. Not fair to USA. It is finally time for the Federal Reserve to LEAD. More easing and cutting!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) March 3, 2020
A reação dos mercados ao anúncio da Reserva Federal foi notória. A sessão arrancou de forma negativa em Wall Street, com os três principais índices em queda, mas a situação inverteu-se imediatamente após o anúncio do corte da taxa de juro diretora. O S&P 500 chegou a subir 1,5%, mas resfriou o entusiasmo e valoriza agora 0,30%.
A próxima reunião do banco central norte-americano está marcada para os próximos dias 17 e 18 de março.
(notícia atualizada às 15:57)