Notícia
Da política ao futebol, as reacções a Soares democrata e europeísta
Ao longo destes dias têm sido muitas as reacções à morte de Mário Soares. E um pouco por todo o mundo.
O Presidente da República recordou o antigo chefe de Estado Mário Soares, acima de tudo, como um "lutador da liberdade", e defendeu que Portugal tem o dever de combater pela "imortalidade do seu legado". Numa declaração de cerca de quatro minutos, lida na Sala das Bicas do Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "Mário Soares nasceu e formou-se para ser um lutador e para ter uma causa para a sua luta: a liberdade", e considerou que esse foi "o penúltimo combate" que travou.
"Resta a Mário Soares, como inspirador, travar o derradeiro combate, aquele em que estamos e estaremos todos com ele: o combate pela duradoura liberdade com justiça na nossa pátria comum, que o mesmo é dizer, o combate da imortalidade do seu legado, um combate que iremos vencer, porque dele nunca desistiremos, tal como Mário Soares nunca desistiu de um Portugal livre, de uma Europa livre, de um mundo livre. E, no que era decisivo, ele foi sempre vencedor", acrescentou.
"Travado o seu penúltimo combate, partiu do nosso convívio de todos os dias o Presidente Mário Soares", declarou Marcelo Rebelo de Sousa, no início da sua intervenção.
De gravata preta, o Presidente da República relembrou momentos marcantes da vida política de Mário Soares, dizendo que, "como toda a personalidade de eleição, conheceu a glória e o revés, os amores e os desamores de cada instante", e lembrando também que teve ao seu lado "Maria de Jesus Barroso, sua mulher e sua companheira de luta", que morreu em 2015.
"Há imagens únicas que ninguém esquecerá: a presença corajosa ao lado de Humberto Delgado, a resistência a partir do exílio, a chegada a Santa Apolónia, o discurso na Fonte Luminosa, o debate com Álvaro Cunhal, a disponibilidade para servir como primeiro-ministro em duas crises financeiras graves, a tenacidade no termo da primeira volta das presidenciais de 86, o calor irrepetível no encontro com os portugueses nas presidências abertas, a alegria no diálogo com as gentes da cultura, o sonho de um Timor-Leste independente, a presença na manifestação contra intervenção no Iraque", referiu.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou, acima de tudo, o antigo chefe de Estado, como um lutador pela liberdade, em Portugal, na Europa e no mundo: "Foi em homenagem à liberdade que se viu perseguido, preso e deportado, e viveu no exílio até 1974. Que por ela se bateu durante os conturbados anos da revolução. Que liderou um partido, fez ouvir a sua voz nos parlamentos, português e europeu, chefiou vários governos, presidiu aos destinos da pátria".
"Mas foi sobretudo como lutador da liberdade que se revelou determinante a criar a nossa democracia, a votar a nossa Constituição, a ver a lusofonia como comunidade de Estados soberanos e irmãos, a pedir a adesão às Comunidades Europeias e a subscrevê-las, sonhando com uma Europa das pessoas e da solidariedade. A abrir a nossa diplomacia ao mundo, a condenar as violações dos direitos humanos e as intolerâncias internacionais. A defender a igualdade que permitisse a verdadeira liberdade, num quadro de um socialismo democrático", completou.
"Pela acção de combate político determinado que desenvolveu em prol das liberdades e da democracia, primeiro, e depois da consolidação de uma democracia moderna, constitucional, pluralista, Mário Soares tem direito ao reconhecimento da pátria e tem obviamente o direito a ocupar um lugar de grande relevância na história no nosso país", afirmou Ramalho Eanes, numa declaração aos jornalistas.
"A determinação, a coragem e a coerência foram sempre traços característicos da acção política desenvolvida por Mário Soares", disse Ramalho Eanes, que antecedeu a Mário Soares no cargo de Presidente da República, entre 1976 e 1986.
Acção política que, num primeiro momento, foi desenvolvida em defesa das liberdades e da democracia, contra o regime salazarista e, depois, no "tempo de Abril", na "tumultuosa transição democrática", recordou.
"E, depois, de combate político democrático já na institucionalização e consolidação da democracia (...). Acção de primacial importância teve ainda na consolidação da democracia ao desenvolver uma acção política que nos permitiu entrar na então comunidade económica europeia", acrescentou Ramalho Eanes, que falava aos jornalistas no seu gabinete de trabalho, em Lisboa.
O antigo Presidente da República Jorge Sampaio evocou a memória de Mário Soares, lembrando a "resiliência" do antigo chefe de Estado e dizendo que o momento é de "profundo pesar" para Portugal e para a Europa. Recordando a "extraordinária capacidade de luta" de Soares ao longo da sua vida, Sampaio - que falava aos jornalistas em Lisboa - elogiou Mário Soares por ter estado sempre na "primeira linha" da defesa do país. "Foi preso, exilado, nunca perdeu o seu amor por Portugal. Sempre acreditou naquilo que era o interesse de Portugal e no que era estrategicamente vital para a democracia portuguesa", assinalou.
O ex-Presidente da República Cavaco Silva lembrou o antigo chefe de Estado Mário Soares como uma das personalidades mais marcantes do século XX português, sublinhando a sua faceta de "verdadeiro animal político". "A morte do doutor Mário Soares é um momento de profunda consternação para a generalidade dos portugueses. Foi indiscutivelmente uma das personalidades mais marcantes do século XX português", afirmou Cavaco Silva, numa declaração aos jornalistas no Convento do Sacramento, o gabinete de trabalho que ocupa desde que deixou a Presidência da República, em Março de 2016.
Apesar de reconhecer que em alguns momentos da vida política foi um adversário de Mário Soares, Cavaco Silva destacou as suas capacidades de "verdadeiro animal político".
"Sempre reconheci as capacidades políticas do doutor Mário Soares, como se dizia, um verdadeiro animal político, como eu tive oportunidade de testemunhar várias vezes", disse.
E, continuou, apesar de adversários em alguns momentos, isso não impediu que tivesse apoiado a sua recandidatura a Belém em 1991 e que elogiasse o seu contributo decisivo para a defesa da liberdade e da democracia.
Contudo, acrescentou, este não é o tempo de lembrar discordâncias do passado, mas de reconhecer a importância do contributo do antigo chefe de Estado para a democracia portuguesa, o trabalho que desenvolveu para a defesa dos ideais democráticos e "reconhecer quanto Portugal deve ao político Mário Soares". "O seu contributo foi decisivo para a defesa da liberdade, para a defesa da democracia em momentos conturbados da vida nacional. O doutor Mário Soares esteve na primeira linha revelando uma coragem extraordinária na defesa da democracia pluralista e lutando contra todas as forças de opressão, de ditadura, de totalitarismo", declarou.
Cavaco Silva, que se encontrava no Algarve e viajou para Lisboa quando teve conhecimento da morte de Mário Soares, lembrou igualmente a visão estratégica revelada pelo ex-Presidente da República sobre a importância para o futuro de Portugal da adesão às comunidades europeias. Por isso, disse, hoje homenageia-se também um "europeísta convicto, um homem que dedicou a maior parte da sua vida à defesa dos ideais republicanos e dos ideais democráticos".
"Portugal deve-lhe muito, Portugal está de luto, os portugueses, todos os portugueses estou certo que hoje estão de luto, Portugal perdeu um dos maiores políticos do século XX", afirmou, transmitindo à família de Mário Soares as suas condolências e sentimentos de "profundo pesar".
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, homenageou Mário Soares como "um dos raros líderes políticos de verdadeira estatura europeia e mundial", a quem os portugueses devem "em grande medida, a democracia, liberdade e respeito pelos direitos fundamentais". "Presto a minha homenagem a Mário Soares, certo de que figurará na nossa memória e na história do nosso país, como um homem livre que quis que todos nós vivêssemos em liberdade e que lutou toda uma vida para que isso fosse possível", afirma o secretário-geral da ONU, numa declaração enviada à Lusa.
Na nota, o antigo primeiro-ministro português diz ter tomado conhecimento da morte do ex-Presidente "com profunda emoção e um agudo sentimento de perda".
Na mensagem, Guterres começa por transmitir à família de Mário Soares e, em particular, aos filhos e netos do antigo Presidente, as suas "sentidas e amigas condolências".
"Falei já com os filhos, Isabel e João, junto de quem expressei a minha solidariedade neste momento doloroso do falecimento do seu pai", menciona.
"É, em grande medida, a ele que devemos a democracia, a liberdade e o respeito pelos direitos fundamentais de que todos os portugueses puderam usufruir nas últimas décadas e que são hoje valores adquiridos no nosso país", considera António Guterres, na mensagem.
Mas, acrescenta, "a dimensão do legado de Mário Soares ultrapassa em muito as fronteiras de Portugal".
Por um lado, porque o país lhe deve a sua "plena integração" na comunidade internacional, mas também porque "o seu apego à liberdade e à democracia fazem dele um dos raros líderes políticos de verdadeira estatura europeia e mundial", lê-se na declaração do secretário-geral das Nações Unidas.
António Guterres afirma ainda que, "pelo seu empenho político firme e corajoso e pelos princípios e valores que coerentemente prosseguiu ao longo da vida", Mário Soares "moldou a vida política em Portugal de forma indelével". "A liberdade foi sempre o seu valor de referência", refere também.
O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, lembra o antigo Presidente da República Mário Soares como "um grande português" e um dos fundadores da democracia em Portugal. "É com grande pesar que tomo conhecimento do falecimento de Mário Soares. É costume dizer-se dos grandes políticos que a sua vida se confunde com a do tempo histórico que viveram. No caso de Mário Soares, não será exagerado dizer que é o último quartel do século XX português que se confunde com ele", lê-se numa mensagem de Ferro Rodrigues, divulgada no 'site' do parlamento. Sublinhando que "Mário Soares foi um Grande Português", o presidente da Assembleia da República recorda a forma como o antigo chefe de Estado lutou pela democracia antes e depois do 25 de Abril.
"Se a nossa geração já fez política em democracia, se as gerações dos meus filhos e netos já cresceram num país livre, democrático e europeu, a ele muito o devemos", lê-se na mensagem, onde Ferro Rodrigues lembra também que Mário Soares, como líder político e deputado à Assembleia Constituinte, foi um dos fundadores da democracia portuguesa, iniciada pelo Movimento das Forças Armadas a 25 de Abril de 1974. O presidente da Assembleia da República fala, ainda, da forma como Mário Soares prestigiou o parlamento e o parlamentarismo como deputado à Assembleia da República e como esteve por detrás de grandes conquistas, como a criação do Serviço Nacional de Saúde, da Concertação Social e da adesão à então Comunidade Económica Europeia, enquanto primeiro-ministro.
"Como Presidente da República, afirmou Portugal e prestigiou o Estado, abrindo a presidência à sociedade e à cultura. O Portugal democrático, europeu e cosmopolita é o país de Mário Soares", é ainda referido na missiva. Na mensagem, Ferro Rodrigues transmite também em nome da Assembleia da República as "mais sentidas condolências à família e amigos mais próximos" e "a todo o Partido Socialista".
O país deve muito e ficará "eternamente grato" à acção política do antigo Presidente da República Mário Soares, que classificou como o rosto e a voz da liberdade portuguesa. "Perdemos hoje aquele que foi tantas vezes o rosto e a voz da nossa liberdade. Mário Soares foi um homem que durante toda a sua vida se bateu pela liberdade, fê-lo contra a ditadura, sofrendo a prisão, a deportação e o exílio", declarou António Costa, que se encontra na Índia em visita oficial. O primeiro-ministro referiu depois que o fundador do PS continuou a bater-se pela liberdade e pela democracia após o 25 de Abril de 1974, razão pela qual a ele se deve "ter-se salvo a revolução". "Também soube pôr fim ao colonialismo e abrir a opção europeia de Portugal. A perda de Mário Soares é a perda de alguém que teria sido insubstituível na nossa História recente. Devemos-lhe muito e ficaremos para sempre eternamente gratos", declarou o primeiro-ministro.
Foi "um guardião da democracia", declarou o presidente do PS, Carlos César, considerando ser um "dia triste" para o partido e para a memória colectiva do país. "Não morreu um dirigente socialista, mas um grande português, um obreiro das liberdades, um guardião da democracia", afirmou à Lusa Carlos César, referindo que, "por isso, todos os portugueses, independentemente da sua condição partidária, estarão, certamente, associados neste momento numa manifestação colectiva de pesar e numa homenagem à memória de luta e à memória de concretização que representou a actuação política de Mário Soares e o seu comportamento físico ao longo destas últimas décadas".
Para Carlos César, o antigo Presidente da República é, "sem dúvida, a personalidade mais relevante da segunda metade do século XX e, em particular, depois de restaurada a democracia em Portugal".
"É um dia triste para o Partido Socialista, para a nossa memória colectiva e para a democracia portuguesa, porque perdemos um dos seus principais lutadores e um dos seus principais obreiros", salientou Carlos César, também líder do grupo parlamentar do PS na Assembleia da República. Para o dirigente socialista, "Mário Soares foi decisivo no combate à ditadura e na adopção da democracia e do regime de liberdades públicas, na sua protecção em todos os momentos".
"Devemos-lhe não só a nossa condição de país democrático, como também a nossa condição de país europeu", declarou o presidente do PS, realçando que "foi pelas mãos de Mário Soares" que Portugal "se libertou de um isolamento que o condenou entre as nações" e "passou a ser um parceiro respeitado no exterior e ajudado por países amigos".
Carlos César acrescentou que todo o desempenho do ex-Presidente da República "foi não só decisivo para aquilo que hoje é o Partido Socialista como grande partido na sociedade portuguesa, mas sobretudo para aquilo que hoje é" Portugal, "um país incomparavelmente diferente e melhor do que era há 40, há 30 anos".
A vida do seu "amigo Mário" Soares confunde-se "com episódios marcantes do processo de construção da União Europeia" e que a Europa perde um pouco de si, salientou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. A vida de Mário Soares, disse Juncker, em comunicado, "confunde-se com a história recente de Portugal e com episódios marcantes do processo de construção da União Europeia".
Para Juncker, Soares foi "orgulhosamente português" e "orgulhosamente europeu", destacando ainda que "com o seu desaparecimento, Portugal e a Europa perdem um pouco de si". Numa nota pessoal, Juncker destacou também que "o meu amigo Mário nunca virou a cara à luta e às responsabilidades de um democrata".
O presidente da Comissão Europeia destacou, também, "a resistência à ditadura e a luta determinada por uma transição do seu país para a democracia", considerando Soares "símbolo e artífice deste processo". "Mário Soares contribuiu para tornar irreversível um processo de democratização que alastraria pelo Sul da Europa e que colocou Portugal, mas também Espanha e Grécia, no caminho da adesão ao projecto europeu, âncora desses valores democráticos", considerou. "A vida de Mário Soares deixa-nos na altura em que celebramos os 30 anos da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia onde, sem surpresa, é o seu nome que consta do tratado de adesão", escreveu.
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, lamentou a morte do antigo Presidente da República, que classificou como "um grande democrata" e "um político polémico". "É um dia triste para todos os portugueses", referiu Passos Coelho, à margem de uma visita à Santa Casa da Misericórdia de Barcelos. Para Passos Coelho, "será impossível" escrever a História de Portugal das últimas dezenas de anos "sem nelas encontrar referências múltiplas à intervenção política de Soares, em muitas ocasiões decisiva". "Como um grande democrata que foi, o doutor Mário Soares foi também um político polémico, que combateu pelas suas ideias, há de ter feito muitos amigos, terá tido também com certeza muitos adversários ao longo de todos estes anos", acrescentou.
Passos Coelho endereçou uma mensagem de "sentido pesar" à família e uma mensagem "de condolências" ao PS, partido de que Mário Soares foi fundador.
A coordenadora do BE, Catarina Martins, lembrou "com gratidão o homem que mandou a idade e o conforto às malvas para se levantar na Aula Magna, com toda a esquerda, na defesa do país contra a 'troika'". "Homenagear Mário Soares como escolheu ser retratado, por Júlio Pomar. O homem com tantas vidas como a nossa democracia. Contraditório, certamente. E sem esquecer nada, digo-vos que hoje escolho recordar com gratidão o homem que mandou a idade e o conforto às malvas para se levantar na Aula Magna, com toda a esquerda, na defesa do país contra a 'troika'", lê-se numa mensagem publicada numa rede social.
Catarina Martins referia-se ao evento "Em Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social", em Novembro de 2013, na Reitoria da Universidade de Lisboa, que juntou cerca de 2.500 personalidades "das esquerdas", mas também do centro direita ou independentes.
A publicação de Catarina Martins é acompanhada pelo retrato oficial de Soares como Presidente da República da autoria do artista plástico Júlio Pomar. Mais tarde voltou a saudar a memória de Mário Soares, "um dos maiores protagonistas da política portuguesa", que "marcou o século XX", e que nas lutas que escolheu esteve em aliança ou confronto com forças à esquerda.
"O BE dirige os seus pêsames a família de Mário Soares e todos militantes do PS. Mário Soares foi um dos maiores protagonistas da política portuguesa e marcou o século XX. Foi combatente anticolonial e antifascista, foi preso político e exilado, foi constituinte e fundador do regime constitucional de 76, ministro de governos provisórios, primeiro-ministro, Presidente da República", declarou Catarina Martins.
Numa declaração na sede nacional do BE, em Lisboa, a coordenadora bloquista afirmou que "ao longo da sua vida, Mário Soares foi contraditório e frontal nas lutas que escolheu. Marcou todos os momentos determinantes da vida do país, por vezes em aliança e outras vezes em conflito com as forças da esquerda".
O dirigente do PCP José Capucho lembrou o "passado de antifascista" de Mário Soares e evocou as "profundas e conhecidas divergências" com o ex-chefe de Estado. Numa curta declaração na sede nacional do PCP, Lisboa, José Capucho, membro do Secretariado do Comité Central comunista, começou por dizer que já transmitiu "directamente ao Partido Socialista e à família" as condolências pelo falecimento de Mário Soares. José Capucho lembrou o antigo Presidente da República como "personalidade relevante da vida política nacional " e como "participante no combate à ditadura fascista", evocando o seu papel no "apoio aos presos políticos".
"Lembrando o seu passado de antifascista, o PCP regista as profundas e conhecidas divergências que marcaram as relações do PCP com o dr. Mário Soares, designadamente pelo seu papel destacado no combate ao rumo emancipador da Revolução de Abril e às suas conquistas, incluindo a soberania nacional", afirmou o dirigente comunista.
A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, lamentou a morte do antigo Presidente da República Mário Soares, destacando o seu "papel único na definição do Portugal Democrático Europeu". "Em muitas alturas, o CDS teve grandes divergências políticas com o dr. Mário Soares, mas não esquecemos o seu papel fundador no Portugal Democrático, especialmente no difícil período revolucionário em que se opôs à hegemonia política e totalitária - e em que, tendo vencido, ajudou a democracia a vencer e a ser consolidada em Portugal", assinalou Assunção Cristas, numa nota enviada à Lusa. Falando em nome do partido, Cristas apresentou "sentidas condolências" à família e amigos do antigo Presidente da República.
O Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) recordou a atenção do estadista Mário Soares ao ambiente, enquanto Presidente da República, reconhecendo que o falecido socialista "marcou incontornavelmente a história do país". Em comunicado, os ecologistas "endereçam este pesar, particularmente, à sua família" e ao PS. "Mário Soares marcou incontornavelmente, a história do País, designadamente por ter contribuído na luta contra o regime fascista, uma ditadura que amarrou o País durante quase meio século à fatídica pobreza, analfabetismo e ao medo da livre expressão e opinião", lê-se no texto.
O PEV realça "uma característica de inovação da sua Presidência - as Presidências Abertas - que incluiu uma na área do ambiente".
O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) lamentou a morte do antigo Presidente da República Mário Soares, uma das figuras "mais marcantes dos séculos XX e XXI", destacando o legado "de dedicação e luta pela democracia". "Portugal perdeu uma das suas figuras políticas mais marcantes do século XX e XXI", que deixa "um legado de dedicação e luta pela democracia ainda no Estado Novo e de fulgor na defesa de um estado social já depois da Revolução de Abril", referiu o deputado e dirigente do PAN, André Silva, numa nota enviada à agência Lusa. Para André Silva, "contributos com esta relevância histórica, e este legado, são de importância extrema para os desafios futuros que se avizinham". O PAN aproveitou a nota para expressar "as suas mais sentidas condolências à família, aos amigos e ao Partido Socialista", lamentando "a perda de uma voz incontornável da democracia portuguesa".
O político e poeta Manuel Alegre evocou Mário Soares como um combatente antifascista que cedo teve a visão que era preciso criar um partido que tivesse o apoio da Internacional Socialista e dos partidos democráticos. Manuel Alegre, em entrevista à RTP, considerou ainda que a morte de Mário Soares significa um luto não só para si, para os filhos, a família e amigos, mas também para o país, do qual foi primeiro-ministro e Presidente da República. Manuel Alegre alertou para as "tentações revisionistas" sobre a biografia de Mário Soares, lembrando que o antigo líder do PS começou por ser opositor ao regime de Salazar, como militante do PCP, tendo depois entendido que era necessário um partido que juntasse os socialistas e que tivesse o apoio da Internacional Socialista e dos partidos democráticos. Tudo isto numa altura em que a "grande força da resistência (antifascista) era o PCP", observou Manuel Alegre, revelando que conheceu Mário Soares em Paris, numa visita realizada com Piteira Santos. Já na fase do pós-25 de Abril, Alegre recordou Mário Soares como alguém que se opôs à instauração de uma democracia popular, apoiada pelo PCP e inspirada nos países de Leste. Manuel Alegre descreveu ainda Soares como um "homem de fibra, optimista e voluntarioso", que acreditava sempre na vitória, mesmo quando as sondagens eleitorais estavam muito baixas.
"Era um optimista e tinha uma grande alegria", relatou Manuel Alegre, confidenciando que Soares gostava de literatura e de pintura e era amigo de "muitos escritores e poetas". No plano das confidências pessoais, revelou também que Soares "não gostava de almoçar sozinho", razão pela qual almoçava e jantava frequentemente com os amigos e camaradas dom PS. Alegre falou ainda do papel de Mário Soares na Europa e na Internacional Socialista e dos seus amigos Willy Brandt, Olof Palme e Miterrand.
"É um dia muito triste para Portugal. Mário Soares faz parte das pessoas que não quer que estejamos tristes, mas que lembremos o que ele fez na vida. Ninguém o vergava", escreveu o actual provedor da Santa da Misericória, Pedro Santana Lopes, na sua conta no Facebook.
O empresário Rui Nabeiro expressou profundo pesar pela morte de Mário Soares, aos 92 anos, considerando que o antigo Presidente da República e seu "grande amigo" foi um homem "extraordinário, afável e simples". "É um momento de muita tristeza, de grande emoção, é duro receber esta notícia", disse Rui Nabeiro, fundador da Delta Cafés, em declarações à agência Lusa. Para o empresário e comendador, o país perdeu hoje um "grande português" e um "grande político", sublinhando ainda que Mário Soares era um "amigo de longa data", com quem mantinha, frequentemente, conversações e trocava impressões. "Nós sempre conversamos, sempre trocámos impressões, valia a pena conhecê-lo bem, pois era um grande português e deu muito a Portugal", disse.
A historiadora Irene Flunser Pimentel realçou que o ex-Presidente da República Mário Soares foi "um combatente por instinto, tinha a vontade de mudar e foi um filho do seu tempo". Flunser Pimentel recordou à Lusa que Mário Soares "desde muito cedo, ainda jovem", se iniciou nas lides políticas, logo em 1942, foi "muito influenciado pela família, que já era republicana e combatente política, sobretudo contra a ditadura, do lado republicano, o lado ideológico que mais tarde o leva a afirmar que é republicano, laico e socialista". "Foi muito importante, e havia para esses jovens uma postura de combate, de luta política e de modificação da sociedade", sublinhou. Para a historiadora, "esta postura sempre o guiou e ao mesmo tempo, conjugado com um enorme optimismo, com a convicção de que se podia lutar e combater para modificar uma situação política errada". Irene Flunser Pimentel destacou o papel cívico e político de Mário Soares, mas advertiu que "a democracia se deve a muita gente, e o derrube da ditadura a muitas pessoas, em primeiro lugar aos Capitães de Abril". "A própria vinda de Mário Soares no 'comboio da liberdade', a 28 de Abril de 1974, deve-se porque houve o derrube de um regime, três dias antes, derrube pelo qual, aliás, ele tinha já lutado e contribuído, quer em Portugal, quer no exílio", afirmou. "A uma certa altura, ao chamarem-lhe 'pai da democracia', ele próprio disse: 'vai chamar pai ao outro', remetendo para uma célebre tirada teatral de Raul Solnado. Ele dizia: 'não sou pai de nada'", recordou. A historiadora realçou à Lusa que "alguns seres humanos são muito importantes na História, mas só o são devido às conjunturas, devido aos apoios e aos processos populares que os engendram e lhes possibilitam esse trabalho político". No entender da investigadora, "a grande escola [que Mário Soares] deixa é a da postura, do combate e uma postura de esquerda". "Acho que ele quis muito deixar esta postura, pois durante a sua vida e devido às várias conjunturas, ele foi acusado de ter virado à direita, de pôr o socialismo na gaveta, de ter até 'sabotado a revolução', e ele quis deixar uma postura de liberdade, de defender a igualdade, mas com estado social, e também a luta contar qualquer aspecto de ditadura".
"Preocupada com a verdade histórica", a historiadora, distinguida com o Prémio Pessoa em 2007, afirmou que Mário Soares "teve um percurso com muitas contradições, com rupturas, com cortes com amigos, desde sempre, mas também uma grande preocupação em unificar os portugueses, de uma certa maneira".
A historiadora fez questão de "deixar para a posteridade e para os jovens, a eliminação de algumas falsidades, que têm sido bastantes, e uma delas é que teria cuspido na bandeira portuguesa, isso nunca aconteceu, foi propaganda do Estado Novo, da ditadura".
Com a morte de Mário Soares, o país "perdeu o maior construtor da democracia portuguesa". Portugal "perdeu um dos grandes construtores, talvez o maior, da democracia portuguesa", disse à agência Lusa, Manuel Machado, lamentando o falecimento do antigo Presidente da República. "Mário Soares foi um combatente antifascista coerente e consequente, um homem de resistência e que resistiu ao longo de toda a vida aos ataques que sofreu", sustenta o autarca socialista. Apesar das "contrariedade e ofensas de que foi vítima", Mário Soares "manteve sempre o [seu] espírito de resistência e optimismo", na luta para que "Portugal fosse um país livre", sublinha.
Além de "construtor do processo de adesão à União Europeia", o fundador do PS e antigo primeiro-ministro e ex-chefe de Estado foi "um dos grandes impulsionadores da abertura de Portugal ao mundo, da paz entre os povos e do respeito pela soberania das pátrias livres, incluindo aquelas que, depois do 25 de Abril, se tornaram países independentes", afirma o presidente da ANMP.
Mário Soares sempre se mostrou um optimista e esse modo de ser contagiou os portugueses, que, com a sua mensagem, conseguiram manter a esperança num mundo melhor".
"Como socialista empenhado e militante, Mário Soares merece também todo o nosso respeito e eu, pessoalmente, orgulho-me de ter sido seu camarada", acrescenta Manuel Machado.
Portugal perdeu uma "figura notável", disse o antigo vice-primeiro-ministro Rui Machete, lembrando o papel relevante de Mário Soares na assinatura, em 1985, do Tratado de adesão de Portugal à CEE. Rui Machete, que integrou o governo do Bloco Central então chefiado por Mário Soares, lembrou o antigo líder do PS como um homem corajoso, convicto e determinado que, no período político conturbado a seguir ao 25 de Abril, interveio de forma central para evitar que o país mergulhasse numa guerra civil.
Falando à SIC à entrada do Mosteiro dos Jerónimos, Machete recordou ainda Soares como uma "pessoa bem-disposta e optimista", sublinhando que muito se deve à "acção" do antigo líder do PS a entrada do país na CEE.
Machete lembrou as dificuldades que o governo do Bloco Central enfrentou devido à austeridade económica da altura e sublinhou que, apesar da derrota do PS nas eleições legislativas de 1985, Soares disse logo que não ia desistir, tendo, pouco tempo depois, vencido as eleições presidenciais, com 51 por cento dos votos, frente ao candidato Freitas do Amaral.
"É uma figura notável, a quem o país muito deve, que cometeu erros, mas que, pela sua coragem e grande convicção, devemos prestar homenagem", concluiu Rui Machete.
"Não é possível falar no PS sem falar em Mário Soares e não é possível falar em Mário Soares sem falar no PS", afirmou Jorge Coelho, antigo ministro de António Guterres, à entrada para assinar o livro de condolências, destacando o seu "orgulho" no percurso do antigo Chefe de Estado, assim como os seus valores essenciais: "liberdade" e "democracia", além das "características de combatente e homem que nunca desistiu". Para Jorge Coelho, Soares "fez com que hoje vivêssemos em Portugal num regime normal, numa democracia avançada".
O eurodeputado Silva Pereira, ex-responsável governamental no tempo do antigo primeiro-ministro José Sócrates, sublinhou as suas "admiração imensa" e "gratidão infinita" relativamente a um "herói da democracia e liberdade". "O mais importante é que permaneça vivo o seu exemplo e referência. É muito importante que os portugueses conheçam e reconheçam o legado de Mário Soares. Estes dias têm servido para fazer essa recordação. Essa pedagogia é a da democracia, da liberdade e de como foi preciso sofrer para as conquistar e chegar àquele dia da liberdade [25 de Abril de 1974]", disse Silva Pereira. Alguns milhares de pessoas têm passado hoje pelo Palácio Praia - sede do PS, no Largo do Rato - para assinar os sete livros de condolências entretanto disponibilizados, com muitas figuras públicas, maioritariamente da área da política, mas também muitos cidadãos anónimos.
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, considerou o antigo Presidente da República Mário Soares "uma referência única na história e da democracia do país". "O seu combate por uma sociedade mais democrática, plural e progressista serviu e servirá sempre de referência a quem, como ele, amava profundamente e queria servir Portugal", afirmou o presidente da FPF, em comunicado. Fernando Gomes referiu ainda que, "ao lutar pelos seus ideais de justiça, liberdade e igualdade, Mário Soares tornou-se não só num dos mais importantes políticos da história moderna, mas, igualmente, contribuiu para tornar melhor o país".
"Nesta hora de enorme perda para o país e para a lusofonia de uma grande personalidade, fundadora da democracia portuguesa, promotora da adesão de Portugal à União Europeia e titular dos principais cargos políticos de Portugal, em meu nome pessoal e do Sport Lisboa e Benfica expresso o mais profundo pesar pelo falecimento do Dr. Mário Soares e apresento à família e ao Partido Socialista, de que foi fundador, as mais sentidas condolências", lê-se no comunicado do clube encarnado. "Democrata, líder político, primeiro-ministro e Presidente da República, Mário Soares participou em 1 de Dezembro de 1992, no antigo Estádio da Luz, na festa de homenagem ao nosso Eusébio da Silva Ferreira, condecorando-o com a Comenda da Ordem do Infante num momento que ficará para sempre na nossa memória", rematou Luís Filipe Vieira.
O presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, lamentou a morte de Mário Soares, observando que o antigo Presidente da República e primeiro-ministro foi um dos homens a quem Portugal deve a conquista da democracia. "Morreu Mário Soares, ex-Presidente da República, ex-primeiro-ministro e um dos homens a quem devemos a conquista da nossa democracia. Com todos os seus defeitos e virtudes - era um ser humano como todos nós - não deixou de ser um estadista", indica o Facebook oficial de Bruno de Carvalho. O presidente do Sporting enviou condolências à família de Mário Soares, nas pessoas de Mário Barroso e Eduardo Barroso, que foi presidente da Mesa da Assembleia-Geral do clube lisboeta, na sequência das eleições anteriores, em que Bruno de Carvalho perdeu a corrida à presidência para Godinho Lopes.
O FC Porto elogiou o papel relevante do antigo Presidente da República e ex-primeiro-ministro Mário Soares "na transição de uma negra ditadura de 48 anos para um regime democrático". "A relação entre Mário Soares e o FC Porto foi sempre fraterna: o primeiro primeiro-ministro português eleito democraticamente, em 1976, foi também o Dragão de Honra inaugural, em 1986, na segunda entrega dos Dragões de Ouro. Trata-se da mais alta distinção atribuída pelo clube", refere o FC Porto em comunicado.
O clube destaca ainda o facto de Mário Soares ser "reconhecido internacionalmente como um grande lutador pela liberdade, que não se inibiu de apelar ao direito à indignação quando os direitos, liberdades e garantias básicas não se encontravam garantidas".
No comunicado, os 'dragões' consideram que Mário Soares, que foi também fundador e líder do PS e ministro dos Negócios Estrangeiros, "ficará para sempre na história de Portugal e da Europa como um exemplo a seguir pela sua coragem e determinação".
A morte do antigo Presidente da República Mário Soares representa a perda de uma das "grandes referências históricas e políticas" nacionais e europeias. "Com o falecimento do dr. Mário Soares, Portugal e a Europa perdem uma das suas grandes referências históricas e políticas. Um dos vultos que mais lutou por um mundo feito de homens livres e de pátrias democráticas", afirmou Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra, à agência Lusa. O autarca salientou que "há homens que são história", como é o caso de Mário Soares, acrescentando que "desapareceu uma das personalidades mais marcantes da nossa contemporaneidade".
Além de salientar o papel do histórico líder socialista enquanto "forte opositor ao regime do Estado Novo, que o levou à prisão política e ao exílio", Basílio Horta notou que, após 25 Abril de 1974, Soares "foi, a par de outras figuras marcantes, um dos políticos que mais contribuiu para a estabilização da democracia e das liberdades".
"Homem de grande lucidez, com uma vasta cultura e uma larga capacidade mobilizadora, foi o rosto de grandes causas e de momentos marcantes para Portugal, para a Europa e para o mundo", frisou.
Basílio Horta recordou a participação de ambos no II Governo Constitucional e, mais tarde, no Governo do Bloco Central, e que, apesar de militarem em partidos diferentes, souberam ultrapassar as "diferenças ideológicas e colocar, em primeiro plano, o interesse nacional".
O antigo fundador do CDS-PP foi derrotado nas urnas por Mário Soares, nas eleições presidenciais de 1991, mas o antigo chefe de Estado aceitou ser o número um da comissão de honra da candidatura de Basílio Horta, nas eleições autárquicas de 2013, para a Câmara de Sintra.
"Neste momento, quero manifestar a minha mais profunda tristeza por um homem que, para mim, foi simultaneamente inspirador, adversário e fundamentalmente amigo. Portugal está afectivamente de luto", vincou o autarca, que expressou um "sentido e solidário abraço nesta hora de dor" à família de Mário Soares.
O presidente do Governo de Espanha, Mariano Rajoy, enviou os seus pêsames ao povo português e à família de Mário Soares, considerando o ex-Presidente um grande europeísta e figura decisiva na democracia portuguesa. "Os meus sentidos pêsames ao povo português e à família de Mário Soares, grande europeísta e homem decisivo na democracia lusa", escreveu Rajoy na sua conta da rede social Twitter.
O presidente da fundação AIP, Jorge Rocha de Matos, considerou que "Portugal deve muito ao Dr. Mário Soares por tudo aquilo que ele fez", em declarações à agência Lusa a propósito do falecimento do ex-chefe de Estado. Jorge Rocha de Matos, que foi o rosto da Associação Industrial Portuguesa durante décadas e, nesta qualidade, um dos envolvidos nas negociações para a adesão à então Comunidade Económica Europeia, recordou: "Conheci o Dr. Mário Soares há aproximadamente 40 anos. Tive o privilégio de conviver com ele também devido às funções que exercia na área associativa". Desta altura ficou-lhe o entendimento de que "a actividade económica terá uma dívida para sempre com o Dr. Mário Soares, uma vez que ele foi um grande defensor da iniciativa privada. Apoiou-nos nos muitos e complexos problemas que tivemos de enfrentar". Das negociações para a entrada na CEE, recorda: "Na entrada na União Europeia fizemos uma parceria e, mais uma vez, conseguimos situar-nos para a par com os nossos parceiros europeus".
Rocha de Matos acentuou que "Portugal deve muito ao Dr. Mário Soares por tudo aquilo que ele fez, pelo exemplo que dava e pela mobilização que criava em todas as suas acções. Foi uma pessoa que reputo de grande valor".
Expressando os seus "sentidos pêsames" à família, Rocha de Matos afirmou: "É pena que homens com a craveira de Dr. Mário Soares se percam. Se percam fisicamente, porque em termos de memória irá fazer um registo na história de Portugal".
O ex-líder do CDS e candidato a Belém Diogo Freitas do Amaral lamentou a morte do antigo Presidente da República Mário Soares que classificou de "Patriarca da Democracia". "Morreu o 'Patriarca da Democracia'. Ninguém a encarnou melhor do que ele, antes e depois de 1974. À doutora Isabel Soares e ao doutor João Soares, nossos bons amigos, a minha mulher e eu enviamos as nossas mais sinceras condolências", escreveu o ex-vice-primeiro-ministro e titular dos Negócios Estrangeiros, numa declaração enviada à Lusa.
Na mesma nota, Freitas do Amaral evidenciou: "Todos os Portugueses podem estar certos de uma coisa: Mário Soares não será esquecido; e quem não esquece, não morre".
O ex-líder da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, considerou o antigo Presidente da República Mário Soares "um dos grandes políticos" de Portugal e um dos construtores da democracia do país. "Cruzámo-nos e discutimos muita coisa, sobretudo nos últimos 25 anos, e considero que Mário Soares é um dos grandes políticos desde país, deste e do século passado. É uma figura relevante da nossa história, um dos grandes actores e construtores da nossa democracia", disse Carvalho da Silva à agência Lusa.
O sociólogo considerou, ainda, que Mário Soares "foi sempre muito apegado às liberdades e à democracia, independentemente das suas origens económicas e sociais".
"Não era um homem do povo, mas tinha uma boa identificação com o povo", disse.
Na opinião de Carvalho da Silva, Soares foi "um político muito intuitivo, que esteve sempre presente nos momentos fundamentais do país", concretamente na luta contra o regime fascista, no 25 de Abril e na entrada de Portugal para a União Europeia.
"Nos últimos 20 anos, Mário Soares teve a percepção das dinâmicas sociais em curso e defendeu a necessidade de mudanças sociais significativas e bateu-se por isso contra a direita", afirmou. Carvalho da Silva lembrou, também, o envolvimento do antigo Presidente em movimento de defesa da paz. "Estive com ele, e com Freitas do Amaral e Lurdes Pintassilgo, na manifestação que ocorreu em Lisboa em 2003 contra a invasão do Iraque. Interviemos juntos na praça da Figueira e assisti ao envolvimento dele nesta causa", recordou à agência Lusa.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, recordou o antigo Presidente português Mário Soares como "o pai da democracia portuguesa, antes e depois do 25 de Abril" e um "português de primeira e democrata". "Mário Soares é o pai da democracia portuguesa, antes do 25 de Abril e depois do 25 de Abril. É o pai do reencontro de Portugal com a sua história, do reencontro de Portugal com o seu espaço cultural. É tudo isso. É a pessoa mais importante, pelo menos para a minha geração", destacou o chefe da diplomacia portuguesa em Nova Deli, onde se encontra a acompanhar a visita de Estado do primeiro-ministro, António Costa, à Índia.
Augusto Santos Silva falava aos jornalistas visivelmente emocionado e afirmou: "É um dia para chorar".
"A democracia portuguesa está à altura do seu pai", disse depois. O número dois do Governo recordou a luta de Mário Soares antes e depois da revolução de 1974 e também a "convicção e força" com que integrou Portugal no espaço europeu, bem como a "energia enorme" com que se bateu até ao fim. "Mário Soares sempre foi um rebelde, uma pessoa cheia de energia, sempre foi novo e jovem até ao fim", recordou o ministro. "Eu hoje nem sequer queria lembrar o Mário Soares socialista, queria lembrar o Mário Soares pessoa, português de primeira e democrata", sublinhou.
O governante apontou que "a lição principal" que Soares deixou é a de que "todos somos necessários".
"Uns pensamos uma coisa, outros outra, se pensamos coisas diferentes devemos falar entre nós, devemos discutir e acertar métodos pacíficos para resolver eventuais diferendos e devemos todos trabalhar em função do que acreditamos ser o melhor para o nosso país e devemos trabalhar para melhorar o nosso país, melhorar a Europa e nunca ceder em relação aos valores que consideramos fundamentais", destacou.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, lamentou "com profunda tristeza" a morte do antigo Presidente da República Mário Soares, "o pai da Democracia" em Portugal, cujo legado deve ser protegido. Em declarações à Lusa, Fernando Medina referiu ter recebido "com profunda tristeza" a notícia da morte de "uma das figuras maiores da História e das últimas décadas da vida" de Portugal. Para o autarca socialista, o que os portugueses devem a Mário Soares "não é fácil de enumerar". "Mário Soares lutou pela Democracia, pela Liberdade, esteve preso, esteve exilado, bateu-se para que Portugal fosse um estado democrático e que aderisse às comunidades económicas europeias", destacou.
Fernando Medina salientou que Soares "não esteve sozinho, teve ao seu lado dezenas, centenas, milhares de resistentes antifascistas, de portugueses, de patriotas, que defenderam e construíram a Democracia ao seu lado depois do 25 de Abril", mas, "é figura cimeira, a figura de referência, o pai da Democracia" em Portugal.
O presidente da Câmara de Lisboa considera que "nenhuma homenagem será suficiente para honrar aquilo que Mário Soares deixa". No entanto, "há algo que as novas gerações, que tiveram a felicidade de nascer, de crescer, de viver sempre na Democracia, por quem ele tanto se bateu", podem fazer: "prosseguir a luta pelo seu legado, o legado da Liberdade, da Democracia, da Justiça, do Desenvolvimento, da Tolerância".
"São esses valores muito importantes, muito marcantes, muito fortes que são o seu fundamental legado e que nos caberá agora a todos saber proteger", disse.
O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, lembrou o antigo Presidente da República Mário Soares como um "grande lutador pela liberdade" que combateu "todos os totalitarismos". Numa mensagem publicada na página da autarquia na Internet, Rui Moreira recordou "um político raro, que respeitava a opinião dos outros, mesmo quando deles discordava, ou quando os outros discordavam dele".
"Um homem culto, sempre interessado por tudo [o] que o rodeava. Um democrata valente e irredutível, um europeu convicto. Uma pessoa feliz, num país tantas vezes triste, que fez amigos entre correligionários e adversários", acrescentou o presidente da Câmara Municipal do Porto, que destacou que a cidade se associa aos três dias de luto nacional declarados pelo Governo.
O antigo líder do CDS-PP Adriano Moreira recordou o antigo Presidente da República Mário Soares como um homem "inteiramente coerente antes e depois do 25 de Abril", considerando-o um dos principais vencedores do triunfo da actual democracia. Em declarações à agência Lusa, Adriano Moreira disse que era amigo de Mário Soares, que hoje morreu aos 92 anos em Lisboa, desde a juventude, considerando que o histórico socialista "definitivamente entrou na história de Portugal".
"Depois do 25 de Abril, Portugal foi objecto de duas orientações, uma delas dominada sobretudo pelo Doutor Cunhal e a outra pela orientação da democracia em que hoje vivemos. Esta orientação foi vencedora e entre os vencedores um dos principais, ao lado do general Eanes, foi o doutor Mário Soares", disse.
O ex-líder centrista recorda Soares como "um homem sempre inteiramente coerente antes e depois do 25 de Abril", destacando "um momento história fundamental que foi a intervenção na fonte luminosa".
"Além das intervenções que depois teve quer como chefe do Governo mais do que uma vez, sempre com uma liberdade de expressão fundamental", sublinhou.
Adriano Moreira considerou que o histórico socialista "foi um grande crítico da deriva da União Europeia em relação ao grande projecto que inspirou os fundadores".
"Uma das coisas principais que lhe atribuo foi ter dado definição do Presidente da República com as presidências abertas, prática notabilíssima que teve uma grande importância num pais que se via perante um regime político que não tinha nenhuma experiência", destacou, referindo ainda o facto de ser uma "pessoa que cultivava a autenticidade, que não admitia violar com a acção os princípios que defendia".
O antigo Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano considerou que Mário Soares "esteve do mesmo lado [que Moçambique] no combate à ditadura" e que será recordado nas antigas colónias como "um amigo". "Participou na luta contra a ditadura fascista portuguesa e por esse facto estivemos no mesmo lado no combate contra a ditadura", lembrou Chissano em declarações à RTP3, a partir de Moçambique. Questionado sobre se os africanos lusófonos guardarão do Presidente da República português uma boa imagem, tendo em conta principalmente o seu papel nas independências, Chissano respondeu: "Boa imagem, sim, porque ele primeiro tentou satisfazer também a política portuguesa quando chefiou a delegação a Moçambique, mas uma vez convencido de que esse era o caminho [a independência de Moçambique], fez parte dos que queriam a libertação de forma imediata, portanto voltou a ser amigo".
Chissano disse depois que, durante as negociações, "estávamos a negociar com pessoas que outrora foram inimigas, mas ele nunca foi inimigo" e acrescentou: "Ele foi atacado em Portugal mas não por nós. Nós, nas colónias, temos muito respeito por ele".
Enaltecendo o "bem conhecido estadista", Chissano lembrou ainda o estabelecimento de relações com as antigas colónias portuguesas, "que levou mesmo aos inícios de criação da Comunidade de Países de Língua Portuguesa".
O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder desde 1975, recordou Mário Soares como uma "insigne figura da vida política portuguesa". A posição está expressa numa curta nota de condolências do Bureau Político do Comité Central do MPLA, liderado pelo também chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, sobre a morte do antigo Presidente português, ocorrida no sábado, em Lisboa. "Neste momento de dor e de luto, o Bureau Político do Comité Central do MPLA inclina-se perante a memória do doutor Mário Soares e, em nome dos militantes, simpatizantes e amigos do partido, endereça ao Partido Socialista de Portugal e, através deste, à família enlutada as suas mais sentidas condolências", lê-se na mesma nota.
O Presidente francês, François Hollande, lamentou a morte do ex-Presidente Mário Soares, salientando que a democracia portuguesa perdeu "um dos seus heróis" e a França "um amigo de sempre". "Com o desaparecimento de Mário Soares, a democracia portuguesa perdeu um dos seus heróis, a Europa um dos seus grandes líderes e a França, que o acolheu no exílio durante a ditadura de Salazar, um amigo de sempre", indicou um comunicado do Eliseu (sede da Presidência francesa) divulgado poucas horas depois do anúncio da morte do antigo chefe de Estado português. Na mesma nota, a Presidência francesa lembra o percurso político e o papel de Mário Soares na construção do projecto europeu. "O combate pela liberdade e pela justiça guiou a sua vida. Teve a coragem de defender o seu ideal social em circunstâncias particularmente difíceis. O seu nome ficará sempre associado à Revolução dos Cravos [25 de Abril], mas também à construção europeia, na qual ele foi um dos obreiros mais empenhados", indicou. "Primeiro-ministro por duas vezes nas décadas de 1970 e 1980, permitiu a Portugal aderir à comunidade económica europeia (CEE) em 1986. Presidente da República de Portugal durante dez anos, representou com [ex-Presidente francês] François Mitterrand e [ex-chanceler alemão] Helmut Kohl o grande impulso europeu", prosseguiu o mesmo comunicado.
A relação próxima que Mário Soares manteve ao longo da sua vida com França e a sua repercussão nas relações luso-francesas não foram esquecidas pelo Eliseu: "O seu percurso, os seus combates, a sua relação pessoal com o nosso país lembram-nos a profundidade das ligações que unem França e Portugal". Soares viveu no exílio em França, entre 1970 e a Revolução dos Cravos.
A Presidência francesa termina o comunicado com a apresentação de condolências à família e aos mais próximos de Mário Soares, mas também ao povo português.
O ex-Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva considerou que "Mário Soares foi um dos grandes homens públicos do século XX, não só de Portugal, mas da Europa e do mundo". Numa publicação divulgada na sua página pessoal no Facebook, o ex-Presidente brasileiro recordou Mário Soares como "um homem comprometido durante toda a sua vida com as ideias do socialismo democrático e a construção de um mundo mais justo". Lula da Silva lembrou a luta pela liberdade prosseguida pelo líder português, que se posicionou contra o fascismo e contra a ditadura em Portugal. "Sempre defendeu e trabalhou pela cooperação e intercâmbio entre Brasil e Portugal, aproximando nossas nações. Sempre esteve, mesmo nas horas mais difíceis, do lado certo da história", acentuou. Estivemos juntos pela última vez em 2014, celebrando os 40 anos da Revolução dos Cravos, que restaurou a democracia na nação que amava tanto", frisou ex-chefe de Estado brasileiro. Lula da Silva manifestou solidariedade "aos familiares, amigos, admiradores e ao povo português nesse momento de despedida e saudade do amigo Mário Soares".
A ex-Presidente do Brasil Dilma Rousseff lamentou a morte de Mário Soares, recordando-o "como um militante da liberdade", numa mensagem que pode ser lida num blogue. No "Blog do Alvorada", a Presidente destituída do Brasil refere-se a Mário Soares como alguém "adorado pelo povo e respeitado pelos adversários".
A "sua vida dedicada à política e à democracia de Portugal é um exemplo para o mundo de que é possível construir uma sociedade democrática e igualitária para todos", lê-se na mensagem de Dilma.
O comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, manifestou hoje "emoção e respeito" pela morte de Mário Soares, que considera "figura marcante da esquerda socialista europeia". "Emoção e respeito pela morte de Mário Soares, gigante da política portuguesa, figura marcante da esquerda socialista europeia", disse Moscovici, numa mensagem divulgada na sua conta na rede social Twitter.
Com a morte do antigo Presidente da República Mário Soares "Portugal perdeu uma figura marcante da sua história". "É com pena que vejo partir uma pessoa que assumo que também admirei", disse o ex-presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, à RTP-Madeira. O ex-governante madeirense reconheceu que Mário Soares, "apesar de não ser propriamente um simpatizante da autonomia ou pelo menos não ser um autonomista", quando desempenhou os cargos de Presidente da República e de primeiro-ministro "teve sempre o empenho e o cuidado para que a limitada autonomia que temos na Constituição fosse sempre respeitada em Portugal".
Alberto João Jardim sustentou que existem "dois momentos fundamentais" na vida política de Mário Soares, enunciando "o papel decisivo" que teve para que os cidadãos portugueses possam gozar dos Direitos, Liberdades e garantias que beneficiam".
O presidente da Fundação Social-Democrata da Madeira realçou também o "papel preponderante" de Mário Soares na entrada de Portugal na União Europeia, o que "permitiu apoios que fizeram desenvolver o país".
Jardim afirmou ainda que o antigo Presidente da República "era uma personalidade muito interessante, visto que era uma pessoa bastante culta, mas ao mesmo tempo bastante alegre".
"Era uma pessoa que se batia politicamente com grande convicção e, por isso, é que foi um grande lutador contra a ditadura", vincou.
A escritora Maria Teresa Horta lamentou a morte do antigo presidente da República, Mário Soares, classificando-o como uma "espantosa referência de coragem" e um "garante da liberdade". "É um dia muito triste. Todos nós sabíamos que iria morrer mais dia menos dias, mas a morte de uma pessoa é sempre o fim é sempre algo de incompletude, mas o doutor Mário Soares foi sempre para mim uma referência. Eu lembro-me perfeitamente da importância que ele teve durante o fascismo, quando estava eu a começar a trabalhar na oposição ao fascismo, foi sempre para mim uma espantosa referência de coragem, um garante da liberdade. Maria Teresa Hora recorda a "maior manifestação" em que participou, ainda "muito nova", na altura em que Mário Soares foi deportado.
"Houve uma manifestação enorme e fomos todos para o aeroporto para nos despedirmos. Houve uma carga policial brutal e nem um segundo até hoje me arrependi de ter ido", contou.
A escritora sublinha ainda a imagem que guarda de um "homem muito inteligente, muito culto, ao mesmo tempo com aquela sua simplicidade de falar com as pessoas, com grande humor".
"Foi sempre comigo de uma delicadeza extrema", salientou, acrescentando: "Eu era um miúda e ele respeitava-me como uma antifascista e foi a primeira vez que eu senti esse trato de uma pessoa muito mais velha do que eu, que me dizia que eu estava certa no caminho que estava a seguir".
O embaixador dos Estados Unidos em Portugal, Robert Sherman, lamentou a morte do antigo Presidente da República Mário Soares, lembrando-o como "uma figura extraordinária" que "lutou pela democracia e Direitos Humanos". "Mário Soares foi uma figura extraordinária que constantemente pôs o seu país em primeiro lugar e lutou pela democracia e pelos Direitos Humanos", pode ler-se na mensagem enviada às redacções pelo embaixador Robert Sherman. O embaixador norte-americano lembra que os livros de história dizem como, "armado apenas com uma licenciatura em direito e o seu forte empenho na liberdade, [Mário Soares] acabou por se tornar um líder entre aqueles que se opunham ao regime autoritário de António Salazar, e foi exilado pelos seus esforços neste sentido".
Robert Sherman recorda que assim que Mário Soares pôde voltar a Portugal, depois da Revolução dos Cravos, em 1974, "trabalhou de forma incessante para evitar que Portugal caísse na esfera soviética e num regime totalitário".
O embaixador diz ainda que o ex-presidente passou "inúmeras horas" na casa que é agora a sua residência a colaborar com o então embaixador norte-americano Frank Carlucci "para promover a democracia e os Direitos Humanos em Portugal".
"O trabalho que estes dois grandes homens fizeram mudou o rumo da história e preparou o terreno para as actuais relações EUA-Portugal. A relação que criaram continua a ser fortalecida, e os laços entre as nossas duas grandes nações continuam a intensificar-se", pode ler-se.
Robert Sherman define Mário Soares como um "fervoroso defensor dos Direitos Humanos e da democracia", frisando que vai recordar para sempre as conversas entre ambos "com muita estima".
O Presidente da República de Cabo Verde lamentou o desaparecimento de "uma grande figura da democracia europeia", lembrando a tranquilidade de Mário Soares e o conselho de "dormir sempre bem" para ter "pedalada para a política". "Há um sentimento de tristeza que nos invade pois desaparece uma das grandes figuras, das mais relevantes da política e da História portuguesas, mormente da sua democracia. Diria mesmo uma grande figura da democracia europeia e uma personalidade que tem uma ligação muito próxima com Cabo Verde e com o processo que conduziu à independência do país em Julho de 1975", disse Jorge Carlos Fonseca.
O chefe de Estado cabo-verdiano lembrou a ligação de Mário Soares a Cabo Verde durante o processo de independência, mas também como primeiro-ministro e Presidente da República de Portugal.
"Desaparecer uma figura destas para todos os que são amigos de Portugal, creio que para a grande maioria dos cabo-verdianos e para os amantes da liberdade e da democracia é uma perda enorme", disse.
Reconheceu que, "como todos os grandes combatentes de grandes causas, não terá sido um homem de unanimidades", o que considerou "natural e compreensível". "Se pudesse definir e recortar um traço da personalidade marcante de Mário Soares diria que era o apego e o amor pela liberdade. Era um homem da liberdade, combateu por ela contra o Estado Novo e o fascismo português, mas, noutros contextos, também em Portugal, contra quaisquer veleidades e tentações de instalação de regimes não fundados em liberdades", disse Jorge Carlos Fonseca. "Creio que essa é a grande marca de Mário Soares", disse. O Presidente cabo-verdiano adiantou que conheceu de perto o antigo Presidente da República português na década de 1990 quando ocupava a pasta de ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, tendo-o acompanhado em várias ocasiões e em visitas a Cabo Verde, mas também a outros países como a Guiné-Bissau ou São Tomé e Príncipe. "Desaparece um grande combatente da liberdade, um grande democrata e uma pessoa por quem tínhamos grande respeito e muita admiração", disse, considerando que foi também um amigo de Cabo Verde. Considerando que, "apesar de tudo, era um homem sereno e tranquilo", guardou para a vida um conselho que certa vez lhe deu. "Lembro-me de me ter dito: senhor ministro não há nada neste mundo que me tire o sono. O senhor ministro é novo e tem que dormir, porque dormindo bem é que conseguimos ter nervo e pedalada para os desafios políticos", recordou Jorge Carlos Fonseca. "Só uma pessoa com convicções fortes pode ter essa tranquilidade de ter sono mesmo em situações difíceis e complicadas", acrescentou.
A CGTP lamentou a morte do antigo Presidente da República Mário Soares, destacando a sua "forte intervenção política" antes e depois do 25 de Abril. "Opositor ao regime fascista, preso político e advogado de presos políticos, o doutor Mário Soares foi cofundador do PS e teve uma forte intervenção política antes e depois do 25 de Abril, nomeadamente como secretário-geral do seu partido, primeiro-ministro dos I, II e IX Governos Constitucionais e Presidente da República no período compreendido entre 1986 e 1996", destacou a central sindical numa nota enviada às redacções. Apresentando condolências à família, ao PS e a todos os seus militantes e simpatizantes, a CGTP "reafirma os seus pêsames pelo desaparecimento deste destacado dirigente político e cidadão que se bateu durante toda a sua vida pelo projecto político em que acreditava".
O antigo primeiro-ministro português Francisco Pinto Balsemão recordou "o grande democrata" Mário Soares, que desempenhou dois mandatos presidenciais com "grande dignidade, competência e capacidade".
"Era um grande democrata. Lutou contra a ditadura de direita e por isso foi preso, foi exilado, mas nunca cedeu", afirmou hoje Pinto Balsemão em declarações à SIC Notícias, canal de televisão do grupo Impresa, ao qual preside.
Balsemão lembrou que Soares "foi para a rua quando foi preciso e além disso participou na Assembleia Constituinte, foi ministro e chefiou governos e tudo isto teve uma importância fundamental para que o país conseguisse sair de onde estava, de 40 anos de ditadura de direita para uma Democracia de padrão ocidental".
Mário Soares "empenhou-se como soube e pôde na descolonização, contribuiu para a revisão constitucional de 1982", quando Balsemão era primeiro-ministro e líder do PSD, sem a qual "manter-se-ia o Conselho da Revolução". "Foi possível fazer essa grande mudança", referiu.
Além disso, o agora presidente da Impresa salientou o "papel determinante" de Mário Soares na adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE). "Ele era um europeu convicto", disse.
Balsemão lembrou também a vitória de Soares nas eleições para a Presidência da República em 1986, "noutro ponto fundamental de viragem em Portugal". "Desempenhou com grande dignidade, competência e capacidade as funções presidenciais em dois mandatos", afirmou.
O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, recordou o papel de Mário Soares, no "regresso da democracia a Portugal".
"Por mais de 50 anos, (Mário) Soares serviu incansavelmente o povo Português. Ele será recordado enquanto activista e líder político, desempenhou um papel central em fazer regressar a democracia a Portugal, e mais tarde como estadista, tornando-se líder na Europa e no panorama mundial", frisou Justin Trudeau, em comunicado. O primeiro-ministro canadiano apresentou ainda condolências ao povo português, família Soares, em seu nome, da sua esposa Sophie, e em nome dos canadianos.
"O seu legado como um dos obreiros do Portugal moderno não será esquecido", acrescenta o chefe do governo liberal na mesma nota.
A secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, recordou emocionada a memória de Mário Soares, uma "figura ímpar e inesquecível" e um "combatente pela conquista da Liberdade e pela consolidação da Democracia". De voz embargada, a socialista falou na sede do partido, no Largo do Rato, em Lisboa, e leu a mensagem que o PS havia divulgado horas antes, quando se soube da morte do antigo Presidente da República e fundador do PS. "Soares é fixe. Até sempre, Mário Soares", fechou Ana Catarina Mendes, depois de advogar que Portugal "perdeu hoje o pai da Liberdade e da Democracia, a personalidade e o rosto que os portugueses mais identificam com o regime nascido a 25 de Abril de 1974". Com o desaparecimento de Mário Soares, o PS salienta, numa declaração publicada na sua página oficial, lida depois pela sua secretária-geral adjunta, que "acaba de sofrer a maior das perdas imagináveis, a sua maior referência, o fundador e militante número 1, figura maior e indelével do socialismo democrático português e europeu". Ana Catarina Mendes falou aos jornalistas num palanque onde, atrás do microfone e da socialista, figuravam quatro imagens a preto e branco de Soares, em registo de homenagem.
A sede do partido encontra-se aberta mas as movimentações, pelas 18:30, eram poucas. Contudo, no domingo, a sede encontrar-se-á aberta com um livro de condolências disponível para militantes e apoiantes prestarem o seu tributo a Soares.
Na página do PS, na rede social Facebook, o registo é também de pesar: o símbolo do partido, em cor-de-rosa, foi trocado pela mesma imagem mas a preto e branco.
O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, afirmou que Portugal deve muito a Mário Soares, realçando o trabalho desenvolvido nos "anos de implementação da democracia". Numa declaração à agência Ecclesia, o cardeal-patriarca sublinhou o "contributo notável e irrecusável" de Mário Soares, adiantando que é agora tempo "para agradecer e enaltecer" o seu papel para o "estabelecimento da democracia em Portugal". De acordo com Manuel Clemente, as instituições democráticas em Portugal, como "felizmente" existem hoje, devem "muito" a Mário Soares, "sobretudo nos anos de implementação da democracia nos anos 70" do século XX.
A agência Ecclesia lembra que em 2007, Mário Soares foi indicado para presidir à Comissão da Liberdade Religiosa, cargo no qual seria reconduzido em 2011. Como presidente da República, recebeu o Papa João Paulo II na viagem a Portugal, em 1991 e antes, a 27 de abril de 1990, realizou uma visita oficial ao Vaticano.
O antigo secretário-geral do Partido Socialista e actual vice-presidente do Banco Central Europeu, Vítor Constâncio, lamentou a morte de Mário Soares como a perda do "maior político português do século XX". Numa declaração escrita enviada à Lusa, Constâncio sublinhou que "democracia e participação no projecto europeu foram as ideias mestras pelas quais se bateu toda uma vida e que felizmente (...) conseguiu realizar", esperando "que o país lhe saiba agradecer devidamente". "Pessoalmente, sinto a sua perda como a de um amigo que marcou a minha vida e que assim sempre recordarei", referiu Vítor Constâncio, que foi ministro das Finanças do então primeiro-ministro Mário Soares em 1978. O antigo governador do Banco de Portugal realçou que Mário Soares foi o mais influente político "nos destinos estruturantes da modernidade" do país.
O rei Felipe VI de Espanha enviou ao Presidente da República portuguesa uma mensagem de pesar pela morte de Mário Soares, considerando que o papel na transição democrática fez dele "um dos grandes líderes portugueses e europeus" do século XX.
"A sua tarefa e legado político em Portugal e o seu papel decisivo no sucesso da transição democrática da sociedade portuguesa converteram-no num dos grandes líderes portugueses e europeus do último século", lê-se na mensagem de Felipe VI para Marcelo Rebelo de Sousa. O soberano e a rainha de Espanha expressam ainda o seu "apoio e carinho" à família de Mário Soares e "ao querido povo português" recordando momentos partilhados com os portugueses, conclui a mensagem.
O Grande Oriente Lusitano (GOL) - Maçonaria Portuguesa sublinhou a contribuição de Mário Soares para a construção do Estado Social de Direito e de uma democracia cívica participativa de todos, em declaração enviada à agência Lusa. No texto, assinado pelo grão-mestre, Fernando Lima, o GOL, "defensor estrénuo da liberdade, igualdade e fraternidade, e de um Estado Social de Direito, sublinha, neste momento, a contribuição do Dr. Mário Soares para a construção desse Estado e de uma democracia cívica participativa de todos, de que será sempre uma referência histórica".
Fernando Lima também anunciou que o GOL se vai associar às homenagens públicas a prestar e que "homenageará por si um dos símbolos dos seus valores".
O ex-presidente do Governo espanhol e ex-lider do PSOE, Felipe Gonzalez, prestou homenagem a Mário Soares num comunicado em que salienta a sua "firmeza" e "coragem política" contra a "ditadura salazarista" e a "deriva autoritária comunista".
"No momento da sua morte, a melhor homenagem a este patriarca da Democracia portuguesa, é recordar a sua firmeza, a sua coragem política, inclusivamente nos momentos em que muitos baixaram os braços e viram como inevitável a chegada de uma ditadura militar comunista", afirma Gonzalez num comunicado enviado à agência Lusa em Madrid.
O líder histórico do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) começa por considerar que "Mário Soares era, antes de mais, um amigo" e que "por isso é difícil falar na sua ausência".
Gonzalez sublinha que o ex-presidente português era um democrata convencido da necessidade de acabar com a ditadura salazarista e que enfrentou, logo em seguida, a "deriva autoritária comunista", para desenvolver as suas ideias: "O socialismo democrático".
"Por essas convicções lutou sempre, durante mais de 70 anos. Sabia que apenas num espaço de liberdades democráticas poderia avançar com os seus projectos políticos", escreve Gonzalez.
O socialista espanhol recordou que Soares era uma "europeísta convencido" e essa "visão" levou-o a ser "muito crítico" das políticas da União Europeia (UE), depois de rebentar a crise financeira de 2008.
"Nunca desfaleceu. Nunca deixou de ser um homem livre que lutava contra todas as formas de autoritarismo. Nunca deixou de lutar pelo socialismo democrático. Assim viveu e assim morreu Mário Soares", conclui.
Felipe Gonzalez foi secretário-geral do PSOE entre 1974 e 1997 e presidente do Governo espanhol entre 1982 e 1996, tendo tipo um papel político fulcral a partir da instauração da democracia em Espanha em 1977.
O ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, considerou que Mário Soares "foi a maior figura da democracia portuguesa, enaltecendo "a coragem política, a visão e o sentido estratégico e a enorme intuição" do antigo Presidente da República. Em declarações à agência Lusa, Marques Mendes falou das "qualidades políticas de Mário Soares", que hoje morreu aos 92 anos em Lisboa, qualidades "absolutamente marcantes num político" que fizeram do antigo chefe de Estado "um político absolutamente decisivo". "Do meu ponto de vista, o doutor Mário Soares foi a maior figura da democracia portuguesa pelas suas qualidades políticas que ele evidenciou e que do meu ponto de vista são sobretudo a coragem política, a visão e o sentido estratégico e a sua enorme intuição", disse.
Para o antigo líder do PSD, Mário Soares "foi a maior figura da democracia portuguesa especialmente pela influência que teve nas principais fases quer da construção quer da implementação" do regime democrático português. A primeira destas "três fases capitais" foi antes do 25 de Abril, na luta de Mário Soares "pela liberdade, quer quando foi preso - e esteve 13 vezes preso - quer quando foi exilado quer quando esteve deportado".
"Segunda fase igualmente marcante já depois do 25 de Abril, em 1975, o combate ao PREC e ao totalitarismo de esquerda que se pretendia implantar em Portugal. É marcante o célebre debate com Álvaro Cunhal que é um dos momentos raros da nossa democracia", recordou.
O comentador político destaca ainda "a influência decisiva que teve na integração europeia" já que foi Mário Soares "enquanto primeiro-ministro a pedir a adesão à CEE e foi Mário Soares, enquanto primeiro-ministro do Bloco Central a assinar o tratado de adesão".
"E finalmente o seu enorme contributo para a normalização democrática de Portugal", disse ainda.
Para esta normalização, Marques Mendes destaca dois momentos, o primeiro em "1982, em que Mário Soares fez uma revisão constitucional patriótica com [Francisco Pinto] Balsemão e com Freitas do Amaral.
"E depois enquanto Presidente da República - o primeiro Presidente da República civil - em que deu um contributo para consolidar e normalizar a nossa vida democrática", destacou.
O Governo do México lamentou a morte de Mário Soares e destacou os seus esforços para a transição democrática em 1974, visão europeísta, e promoção da justiça e igualdade. "O México reconhece o trabalho de Mário Soares como o de um estadista que durante mais de 40 anos lutou pelo bem-estar do povo português, participando na transição democrática de 1974 e liderando os esforços para a entrada de Portugal na União Europeia", indica um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, cuja pasta é de Luis Videgaray.
O Executivo mexicano destacou que a nível internacional, "a figura de Mário Soares vai ser recordada como uma referência do compromisso para com a promoção de acções para uma maior justiça e igualdade". Assim, o México expressou as suas condolências e solidariedade ao Governo e povo de Portugal, assim como à família de Mário Soares.
O México "atribuiu a condecoração da Ordem Mexicana Águila Azteca a Mário Soares em 2003, em reconhecimento pelo seu excelente trabalho durante a sua longa carreira, especialmente pela sua contribuição para o fortalecimento da relação entre o México e Portugal, e pela sua luta a favor da liberdade e da democracia", conclui o comunicado.
O comissário europeu Carlos Moedas lamentou a morte do antigo Presidente da República Mário Soares, considerando que Portugal perde "um grande democrata e um europeu da primeira hora". "Com o falecimento de Mário Soares, Portugal perde hoje um grande democrata e um europeu da primeira hora. Os meus sentimentos", escreveu o comissário português do colégio da Comissão Europeia na sua conta na rede social twitter.
Vasco Rocha Vieira, último governador de Macau, nomeado por Mário Soares, considerou o antigo Presidente da República "um grande político, um grande homem e um grande português", que viu "o tempo à frente do seu tempo". "Devemos muito ao doutor Mário Soares: o Portugal da liberdade, da democracia, da abertura ao exterior, de uma nova visão do mundo e da sua capacidade de ser maior do que o seu espaço nacional. Portugal e os portugueses devem-lhe isso e devem recordá-lo como um grande político, um grande homem e um grande português", afirmou Rocha Vieira. Em declarações à agência Lusa, o último governador de Macau sob administração portuguesa, entre 1991 e 1999, destacou a visão estratégica de "um grande senhor" da política.
"Um homem que viu o tempo à frente do seu tempo. Esteve nas grandes decisões estratégicas de Portugal moderno, na segunda metade do século XX, e, principalmente, depois da implementação da democracia em Portugal. Apontou rumos, apontou estratégias e teve a perceção de que Portugal, na escala nacional, precisava de se expandir para outros mercados, para outros espaços, nomeadamente União Europeia, na altura CEE, e a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)", vincou Vasco Rocha Vieira.
Além disso, o general sublinhou "a noção muito clara" que Mário Soares tinha de que Portugal, para lá destes espaços, "precisava também de alianças para garantir" a segurança e a defesa do país, razão pela qual o antigo Presidente da República foi "um grande defensor da presença activa de Portugal na Nato".
A deputada e presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta, afirmou que Mário Soares foi um homem que mudou a história de Portugal, da Europa e do mundo, lembrando que mudou também a sua vida. "O dr. Mário Soares foi um homem que mudou a história de Portugal, da Europa e do mundo e, no que me diz respeito, mudou a minha vida", declarou Helena Roseta, contactada pela Agência Lusa.
A presidente da Assembleia Municipal de Lisboa assinalou o impacto que a candidatura de Mário Soares a Presidente da República em 1986 provocou no seu percurso político, "todo feito no PSD".
"Eu era dirigente no PSD, uma pessoa com o percurso político todo feito no partido e tive de sair para apoiar o dr. Mário Soares e a partir daí passei a ser independente", recordou a deputada, eleita como independente nas listas do PS.
Helena Roseta, arquitecta, aderiu ao PSD após o 25 de Abril de 1974, foi eleita deputada constituinte em 1975 e à Assembleia da República, em 1976. Após sair do PSD, em 1986, para apoiar a candidatura presidencial de Mário Soares, Helena Roseta integrou as listas do PS como independente nas legislativas.
O ex-Presidente da República, Mário Soares, foi "provavelmente a maior figura da democracia portuguesa", "homem de cultura e visão", disse à agência Lusa o músico Rui Veloso, que o conheceu em 1969. Mário Soares foi, "provavelmente, a maior figura da democracia portuguesa. Homem de cultura e visão", disse à agência Lusa o músico, que foi o autor de um dos hinos da campanha presidencial de Mário Soares em 1986, o "Rock da Liberdade". "Recordo bem os idos do PREC [Período Revolucionário em Curso] em que foi o catalisador. Devemos-lhe a democracia depois de 25 de Novembro [de 1975]", acrescentou.
Rui Veloso disse que Mário Soares era "amigo de longa data" dos seus pais, que estiveram também ligados à oposição à ditadura, o regime político anterior ao 25 de Abril de 1974. "Estive com ele muitas vezes e sempre teve a amabilidade de perguntar pelos meus pais".
"Conheci-o em 1969, por altura dos 80 anos do meu tio-avô Amadeu Gaudêncio, na Nazaré, sempre, como aliás os meus pais, ligado à oposição e grande amigo de João Soares [pai de Mário Soares], que também conheci fugazmente", afirmou o músico.
"A minha mãe deve estar muito triste, assim como muitos portugueses que se lembram deste homem que fez da sua vida a luta pela liberdade".
Rui Veloso recordou o seu espectáculo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em 1987, em que o então Presidente da República Mário Soares o cumprimentou, perante uma sala esgotada. "Lembro quando fiz o Coliseu em Lisboa [em 1987] e me empurraram, literalmente, no final para a tribuna presidencial e do abraço que me deu, em frente a um Coliseu em delírio...", contou o músico à agência Lusa.
O ex-presidente do Brasil, José Sarney, considerou que "Portugal está hoje mais pequeno com a morte de Mário Soares". José Sarney, que foi o primeiro Presidente brasileiro depois da ditadura militar que vigorou durante 21 anos, destacou, em comunicado, que Mário Soares "foi a grande figura do país no século 20. Foi o responsável pela salvação de Portugal na grande crise ideológica que viveu depois da revolução dos Cravos".
O político brasileiro disse ter uma "admiração extraordinária" pelo ex-presidente de Portugal reforçando que "foi um grande estadista europeu e um dos maiores do mundo. Conseguiu marcar a presença do seu país nas grandes decisões mundiais".
Sobre a importância de Mário Soares para as relações entre Brasil e Portugal, o ex-presidente brasileiro afirmou ainda que "Mário Soares tinha pelo Brasil um grande amor, correspondido pelo grande amor que Brasil tem por ele. Aqui ele sempre foi das figuras mais veneradas entre líderes estrangeiros". "Perdi um grande amigo. Solidarizo-me com o povo português pela grande perda que acaba de sofrer. Glória a Mário Soares. Ele merece todos os reconhecimentos dos brasileiros", concluiu José Sarney.
O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, considerou que, "com a morte de Mário Soares, Portugal e a Europa perdem grande estadista" e "um "visionário", cujo "legado vai perdurar", pois o antigo Presidente da República é "uma inspiração".
Em mensagens publicadas na sua conta na rede social twitter, aponta que Portugal e a Europa perdem "um visionário, um pragmatista, um reformista, um lutador e um democrata".
"Como progressista, Soares é mais que uma figura histórica: é uma inspiração. Promoveu a liberdade, a igualdade e a dignidade. O seu legado vai perdurar", escreve Schulz. Também ele socialista, acrescenta ainda que Mário Soares "trouxe Portugal para o coração da família europeia" - referindo-se ao seu papel no processo de adesão à União Europeia -, proporcionando desse modo "aos cidadãos portugueses mais prosperidade, protecção social e liberdades".
O antigo primeiro-ministro José Sócrates lamentou a morte do "grande companheiro político e amigo" Mário Soares, que classificou de "dirigente político carismático" que "ficará para a História". José Sócrates salientou, em declarações à SIC, a "vida política tão rica e diversificada" de Mário Soares, recordando-o como um dos "grandes combatentes pela liberdade e pela democracia" em Portugal.
Sócrates lembrou ainda a forma como Mário Soares enfrentou a ditadura, sofrendo a "prisão, o exílio e o desterro" antes do seu regresso triunfal após o 25 de Abril.
Além de "combatente pela liberdade", Sócrates disse que Mário Soares deve ser recordado como o político da "reconciliação", mormente depois da primeira vitória nas eleições presidenciais em que o país "estava tão dividido".
"O país estava tão dividido e ele apaziguou o país", sublinhou Sócrates, acrescentando que esses e outros factos transformaram Mário Soares num dos "políticos portugueses mais influentes" e também num dos "grandes políticos europeus".
Em termos pessoais, Sócrates classificou Mário Soares como um "grande companheiro político e amigo", observando que "ficará para sempre no coração" a atitude e o apoio que lhe prestou nos últimos tempos.
"O que ele fez por mim nos últimos tempos ficará para sempre no coração", disse Sócrates, que chegou a estar preso preventivamente na cadeia de Évora no âmbito da "Operação Marquês", tendo, na altura, recebido a visita de Mário Soares.
Sócrates disse ainda recordar ainda Mário Soares como "um homem de espírito, bom companheiro e divertido", que "tinha muitos amigos", de diversos quadrantes políticos. Nas suas palavras, foi um "querido amigo que o inspirou e motivou" e que deixa um legado de alguém que sempre combateu com convicção e determinação.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, manifestou-se "profundamente sentido" com a morte de Mário Soares, destacando o seu "papel essencial" na consolidação da democracia portuguesa e "como impulsionador da adesão de Portugal" à União Europeia.
Numa mensagem de condolências enviada ao primeiro-ministro, António Costa, e que pede que seja estendida à família de Mário Soares e ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente do Conselho Europeu aponta que ficou "profundamente sentido ao tomar conhecimento do falecimento de Mário Soares", sendo este o momento de lamentar a sua perda e "reflectir sobre a sua vida política".
"Recordo o papel essencial que Mário Soares desempenhou na consolidação da democracia portuguesa - enquanto primeiro chefe de governo constitucionalmente eleito, e Presidente da República - e como impulsionador da adesão de Portugal às Comunidades Europeias", escreve Tusk na mensagem enviada hoje a António Costa e divulgada em Bruxelas.
A UGT lamentou a morte do antigo Presidente da República Mário Soares, considerando que Portugal e o regime democrático perderam "o patriarca da actual democracia". "Portugal e o regime democrático como hoje o conhecemos perderam o seu impulsionador. Mário Soares foi, sem dúvida, o patriarca da actual democracia e uma das mais importantes figuras políticas em Portugal e na Europa", afirmou a UGT, em comunicado. A central sindical evidencia, na nota divulgada, que Mário Soares foi um dos grandes impulsionadores da criação da UGT "como resposta aos valores que sempre defendeu -- pluralismo, contrário às teses da unicidade sindical e do discurso e pensamentos únicos".
"Lembramos com honra e saudades as suas visitas às antigas sedes da UGT e os seus variados apoios às posições da central sindical na defesa do diálogo social e da concertação", refere a UGT.
A estrutura sindical termina, manifestando as suas condolências à família, em particular aos filhos e netos de Soares, e ao Partido Socialista, do qual Mário Soares foi um dos principais fundadores e o primeiro secretário-geral.
O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, considerou que Angola "perdeu um amigo", com a morte de Mário Soares, uma "personalidade de estatuto internacional" que lutou pela democracia em Portugal e pela reconciliação angolana. "Angola perdeu um amigo e eu presto a minha homenagem a este homem que marcou a nossa história com as lições de democracia que nos deixa", disse o líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), em declarações à Lusa. Para Isaías Samakuva, o percurso de luta pela liberdade do antigo Presidente português Mário Soares "influenciou o curso da história de Angola", pelo que a sua morte é uma "perda, não só para os portugueses, como também para todos os amantes da democracia".
"Contribuiu para o processo democrático que temos hoje e fez sempre tudo o que pôde para aconselhar os angolanos para um verdadeiro processo de reconciliação nacional", sublinhou Samakuva. O secretariado executivo do Comité Permanente da Comissão Politica da UNITA emitiu igualmente uma nota de condolências, recordando que "numa altura em que raras eram as vozes que falavam de paz, reconciliação nacional e democracia para Angola", Mário Soares "ergueu com coragem a sua voz para defender esses valores".
"Trata-se de uma figura ímpar da História Contemporânea. A UNITA está convicta de que, com a sua morte, Portugal e os países africanos de expressão portuguesa perderam um grande amigo", lê-se na mesma nota, enviada à Lusa.
O presidente do Governo dos Açores, o socialista Vasco Cordeiro, considerou o ex-chefe de Estado Mário Soares como "um gigante do século XX português" e destacou o seu papel nas autonomias regionais. "A importância da figura do doutor Mário Soares torna este um momento de uma perda incalculável para o nosso país, pelos valores que defendeu, antes e depois da democracia no nosso país, pela forma como se comprometeu com esse combate, dando um exemplo de empenhamento, o impacto que teve também no moldar do Portugal democrático, todos estes factos tornam o doutor Mário Soares num gigante do século XX português", afirmou Vasco Cordeiro, no Palácio de Santana, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel. O presidente do executivo regional, também líder do PS/Açores, apontou ainda o papel do antigo Presidente da República nas autonomias regionais.
"O facto é que é sob a liderança do doutor Mário Soares que o Partido Socialista, maioritário na Assembleia Constituinte, aprova também na Constituição este modelo de descentralização política que são as autonomias regionais e essa importância é algo que também diz muito quer aos açorianos, quer aos madeirenses", acrescentou Vasco Cordeiro.
Para Vasco Cordeiro, "pelo seu exemplo, pela dedicação que constituiu toda a sua vida ao país, pela forma como se envolveu nos combates pela liberdade, pela democracia, por aquilo em que acreditava e que foi consagrado para benefício de todos, é uma figura inspiradora" para os portugueses. O chefe do Governo dos Açores acrescentou ter tido "o privilégio" do apoio expresso de Mário Soares quando, em 2012, se candidatou, pela primeira vez, à presidência do executivo regional.
"É algo que me toca, também muito, e que recordo sobretudo neste momento", declarou Vasco Cordeiro, que expressou condolências à família e anunciou que uma delegação do Governo Regional e outra do PS/Açores estarão presentes no funeral do antigo Presidente da República.
O presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, lamentou a morte de Mário Soares, que classificou como "um dos maiores lutadores que ajudaram a criar as condições para que os 'capitães' pudessem realizar Abril". "Portugal perdeu um dos seus principais cidadãos, um lutador intemerato e incansável pela liberdade, pela democracia, pela justiça, pela igualdade, pela paz, pela solidariedade, isto é, pelos direitos humanos", escreve Vasco Lourenço na página da rede social Facebook da associação a que preside.
Para Vasco Lourenço, "a Europa perdeu o principal obreiro da adesão de Portugal à União Europeia, tal como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa vê partir quem, depois de ter contribuído decisivamente para o fim do colonialismo e para a consumação das independências, foi o grande impulsionador da organização que esses oito países construíram".
"Mário Soares continuará como uma das grandes referências de Portugal e da sua História, um dos maiores lutadores que ajudaram a criar as condições para que os «capitães» pudessem realizar Abril", lê-se no comunicado.
Segundo Vasco Lourenço, Mário Soares manteve-se "fiel a si próprio e aos seus ideais até aos últimos dias da sua vida cívica e política, indiferente às acusações de radicalização à esquerda, que os defensores do liberalismo económico-financeiro lhe fizeram".
"É com tristeza que todos os combatentes da liberdade assistem à partida de um dos seus mais notáveis representantes e curvamo-nos à sua memória", prossegue Vasco Lourenço, que se despede com um "até sempre, Mário!".
O Presidente moçambicano disse ter recebido com "profunda mágoa e consternação" a notícia da morte de Mário Soares e que não é possível falar das relações entre os dois países sem referir a "imponente figura" do antigo estadista português.
"A sua partida deixa um vazio difícil de preencher, porque não há como falar de Portugal e Moçambique sem se referir à sua imponente figura na construção desta amizade, e deste entendimento que hoje perdura, irmanando os dois países", afirmou Filipe Nyusi, numa mensagem difundida no portal da Presidência moçambicana. O chefe de Estado recordou Mário Soares como "um dos que se juntaram ao povo moçambicano no culminar da luta pela independência" e que, através do seu papel na descolonização, "permitiu a proclamação da independência total e completa de Moçambique". O Presidente moçambicano disse que Mário Soares fez com que "Moçambique e Portugal tivessem, ainda hoje, estes laços históricos em vários domínios, e cujo futuro está cimentado no mais profundo sentimento de amizade e irmandade". O seu contributo coloca-o como "destacável personagem na manutenção das relações entre os dois estados e povos, que guardam a sua memória num nicho de respeito merecido", prosseguiu o Presidente moçambicano.
"Não há palavras suficientes que possam preencher o vazio deixado por Mário Soares, tanto para o povo português, assim como para o povo moçambicano, restando-nos apenas curvarmo-nos à grande figura de um homem que lutou pelo que sempre acreditou", declarou ainda Filipe Nyusi.
Negócios
09 de Janeiro de 2017 às 01:36