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Carlos Costa insinua que Trump não entende metas e independência do BCE
O governador do Banco de Portugal admitiu que alguns dos comentários à política monetária seguida pelo Banco Central Europeu (BCE) decorressem da ignorância em relação às motivações e modus operandi da instituição, um dia depois de Trump ter tecido duras críticas às intenções manifestadas pelo BCE.
No rescaldo das críticas de Donald Trump às pistas deixadas pelo Banco Central Europeu (BCE) acerca da futura política monetária da Zona Euro, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que como tal é também parte do conselho de governadores do BCE, encara como "normal" a existência de comentários sobre os planos da instituição, sobretudo da parte de quem não está inteirado sobre os objetivos e valores de independência da mesma.
"É normal que existam comentários, nomeadamente daqueles que não entendem a independência e objetivos do BCE", disse Carlos Costa, em entrevista à televisão da Bloomberg no último dia do Forum do BCE em Sintra, Portugal.
As críticas de Trump incidiram sobre a desvalorização da moeda única europeia, a qual se verificou na sequência do discurso do presidente do BCE, Mario Draghi, também em Sintra, que admitiu mais medidas de estímulos económicos e abriu a porta à descida de juroa na região.
No Twitter, Donald Trump reagiu rapidamente, comparando indiretamente a Zona Euro à China na manipulação da moeda: "Mario Draghi acaba de anunciar mais estímulos, o que imediatamente desvalorizou o euro em relação ao dólar, tornando injustamente mais fácil para eles concorrerem contra os EUA. Fazem-no de forma impune há anos, juntamente com a China e outros".
"Tal como foi dito por Mario Draghi, o nosso objetivo não é a taxa cambial, mas sim a inflação", explicou Costa na mesma entrevista. Para além de Costa e Draghi, já o ex-economista-chefe do BCE, Peter Praet, que abandonou o cargo há dois meses, respondeu a partir de Sintra: "O BCE não pode ser culpado pela incerteza desencadeada pelo comércio", disse, apontando o dedo ao conflito comercial entre os Estados Unidos e a China, o qual tem ditado o abrandamento das economias a nível mundial.
"Há espaço para comprar mais dívida portuguesa"
Na mesma entrevista à Bloomberg, o Governador do Banco de Portugal disse que o Banco Central Europeu vai utilizar as ferramentas que tem à disposição para garantir a estabilidade dos preços na Zona Euro.
"O que espero é que se for necessário, e o ritmo de ajustamento da inflação não seja o que desejamos, possamos usar as ferramentas com a flexibilidade que é permitida" pelo tratado europeu, disse Carlos Costa.
Uma das possibilidades passa pelo reforço da compra de obrigações soberanas e nesse contexto há margem de manobra para comprar mais títulos portugueses. "No que diz respeito a Portugal, há espaço para comprar [mais títulos de dívida], uma vez que ainda estamos abaixo" da chave de capital, acrescentou o Governador.
As compras líquidas acumuladas pelo banco central português no âmbito do programa de compra de ativos estavam em maio em 1,9% do total, quando o limite (chave de capital) está em 2,5%.
Carlos Costa acrescentou na mesma entrevista que a economia portuguesa necessita de aumentar o seu crescimento potencial e reforçar na área dos bens transacionáveis. E estimou que a banca portuguesa vai continuar a reduzir a carteira de malparado.