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Três países que reabriram escolas tinham Rt próximo de 1
Pode a atual subida do índice de transmissibilidade ameaçar o plano de desconfinamento que o governo está a preparar? É incerto. A subida é normal nesta fase do confinamento e três dos quatro países que reabriram escolas recentemente tinham o R(t) próximo de 1.
Os quatro países europeus que reabriram escolas nas últimas semanas registavam todos nesse momento uma evolução estável do número de casos e, com exceção do Reino Unido, tinham um índice de transmissibilidade, R(t), próximo de 1.
Em Portugal, o índice de transmissibilidade tem vindo a subir nas últimas duas ou três semanas e rondará neste momento os 0,9. Esta evolução do indicador estará a ser vista com preocupação pelo Presidente da República, que transmitiu a informação aos líderes partidários numa altura em que se discute a reabertura da economia e dos estabelecimentos escolares.
"Segundo a informação que o presidente da República há bocado nos deu, o valor do R(t) teria subido outra vez e estaria já acima de 0,9", afirmou Rui Rio, no final da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa. Para o presidente do PSD, não será possível abrir escolas com este índice acima de 1.
Entre a meia dúzia de países europeus que estiveram submetidos a planos de confinamento idênticos ao português, os primeiros a reabrir escolas foram a Áustria e Holanda, a 15 de fevereiro. A Áustria era o país que estava em pior situação quando decidiu reabrir: tinha nessa altura um índice de transmissibilidade ligeiramente superior a 1 e a tendência do número de novos casos era de ligeira subida, segundo estimativas do Instituto Ricardo Jorge. Por essa altura, registava-se a mesma tendência de subida marginal na Holanda, que conseguia manter um R(t) inferior a 1, mas pouco.
Na Alemanha, que abriu os estabelecimentos escolares uma semana mais tarde (a 22 de fevereiro), a situação era idêntica. O número de novos casos não subia, mas também não descia, estava estabilizado, e o R(t), tal como na Holanda, estava próximo de 1 e subindo face à semana anterior.
Só a Inglaterra destoa deste padrão. Embora também tivesse a curva achatada em termos de novos casos, conseguia ter um R(t) bastante inferior aos seus pares, em torno de 0,85.
Este índice de transmissibilidade indica, com alguns dias de atraso, quantas pessoas são infetadas por cada novo contagio. Ou seja, se tivermos um R(t) igual a 1 isso significa que cada infetado contagia uma pessoa.
A fórmula de cálculo deste índice varia bastante consoante as entidades. O Instituto Ricardo Jorge, que no seu relatório semanal estima os R(t) dos vários países europeus, calcula o índice através do rácio entre o número de novos casos de um determinado dia e a média ponderada de casos registada nos últimos 14 dias.
Conforme explicaram os especialistas ao Negócios, o Rt tem de ser avaliado em conjunto com a incidência da doença, ou seja, a evolução do número de novos casos. "Um R(t) baixo, em torno de 0,7, é mau se a incidência for muito elevada. Pelo contrário, um R(t) próximo de 1 é bom se a incidência for baixa", disse Baltazar Nunes, epidemiologista do INSA, num artigo publicado pelo Negócios na semana passada.
Os mesmos especialistas também disseram ao Negócios que num período de confinamento é natural que o Rt baixe muito depressa e que depois comece a subir. O importante mesmo é que fique abaixo de 1.