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WSJ: Novo resgate a Portugal "seria golpe na moral da União Europeia"

O jornal norte-americano recorre ao crescimento lento da economia e ao elevado endividamento do país para justificar que aumentam os receios de que seja necessário recorrer a um novo pedido de apoio tal como aconteceu em 2011.

Miguel Baltazar/Negócios
12 de Outubro de 2016 às 10:08
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O clima de investimento e o fraco crescimento económico assente na procura interna, aliados ao elevado endividamento e malparado na banca voltam a reacender preocupações com Portugal e um eventual novo recurso a um resgate seria um golpe para a confiança do espaço europeu, zona euro incluída.


Quem o diz é o Wall Street Journal (WSJ), num artigo de análise dedicado ao país publicado esta terça-feira, na semana da apresentação do Orçamento do Estado para 2017 e no qual o jornal norte-americano recorda a evolução dos indicadores recentes e os avisos de instâncias internacionais, como o FMI, nomeadamente a vulnerabilidade da economia lusa perante as oscilações internacionais de mercado.


"Uma recaída portuguesa seria um golpe na moral da União Europeia já a braços com um crescimento lento, políticas populistas e na ressaca da decisão do Reino Unido de abandonar o bloco," escreve a publicação, que acrescenta ainda que os remédios aplicados durante o programa da troika "parecem agora insuficientes."


"Um pedido de resgate de Portugal, embora seja mais improvável um efeito de contágio a outros países como vimos em 2011, levantaria de novo questões quanto à ao futuro da zona euro e provavelmente tornaria o clima político na Europa mais hostil," reforçou à publicação David Schnautz, estratega do banco alemão Commerzbank.


Segundo o WSJ (que enviou o alerta aos leitores na Europa com esta notícia) a aproximação das eleições legislativas do ano passado levou a afrouxar o ritmo das reformas em curso, além de ter deixado por resolver o problema do elevado endividamento do país. O crescimento da economia pretendido com a reversão das medidas de austeridade pelo Governo de Costa com apoio do BE e PCP (com devolução de rendimentos que teria impacto no consumo) "não aconteceu".


Para o WSJ, os dados conhecidos recentemente mostram que a recuperação da economia portuguesa está a ser mais difícil do que o inicialmente esperado, aludindo à queda de 1,8% do investimento prevista pelo Banco de Portugal e com o facto de a economia estar a crescer a metade do ritmo que o Executivo prevê para a totalidade do ano – 0,9% nos primeiro e segundo trimestre, quando o Governo de António Costa estima o PIB a subir 1,8% em 2016. "As famílias estão a abrandar o seu consumo de bens duradouros e não duradouros," refere a publicação.


A possibilidade de um novo recurso a apoio económico e financeiro voltou a ensombrar o Governo nas últimas semanas, depois de uma resposta do ministro das Finanças, Mário Centeno, a uma jornalista da CNBC ter criado a oportunidade para a questão regressar à ordem do dia.


"Essa é a minha principal tarefa. O compromisso que temos na frente orçamental e na redução da despesa pública é precisamente nessa direcção", respondeu, quando perguntado se iria "fazer tudo o que for necessário para evitar que Portugal tenha um segundo resgate?".

De então para cá, várias vozes se têm ouvido negando a necessidade ou a iminência de novo pedido de ajuda: ao Governo e aos partidos que o apoiam na Assembleia da República juntaram-se a antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, o comissário europeu Carlos Moedas (apesar do seu colega alemão, Günther Oettinger, ter admitido que a probabilidade é "maior do que zero por cento"), economistas e analistas e agências de notação como a Moody's e DBRS.


Além dos sinais do desempenho da economia, da proposta de Orçamento e das dificuldades do entorno internacional, o país aguarda ainda para 21 de Outubro pela decisão desta agência de rating canadiana, a única que classifica as obrigações portuguesas com grau de investimento, condição necessária para o país continuar a constar da lista de compra de activos do BCE que tem conseguido reduzir os custos de financiamento dos países do euro nos mercados internacionais.


A agência fez por diversas vezes avisos sobre a economia nacional nos últimos meses, agravando os juros da dívida de Portugal em mercado secundário, o que no entanto não tem tido repercussão no custo de financiamento aquando da ida do Tesouro aos mercados para se financiar.

Uma reunião esta segunda-feira de Centeno com a DBRS, no final da qual o ministro se mostrou convencido de que a agência manterá a classificação a Portugal, acabaria por ter um efeito de descompressão nos juros, que baixaram dos 3,5%. As yields da obrigação a dez anos sobem esta quarta-feira pela primeira vez em três sessões, 2,8 pontos base para os 3,399%.

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