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S&P: “A crise na Zona Euro ainda não acabou”

A agência Standard & Poor’s alerta que a crise no bloco do euro está ainda longe do fim e sublinha que as “políticas monetárias e orçamentais não podem per si” melhorar a trajectória da economia europeia, avisando mesmo que podem tornar-se “contraproducentes” por proporcionarem a “complacência” de alguns governos.

Reuters
23 de Outubro de 2014 às 13:56
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O título do relatório divulgado pela agência de notação Standard & Poor’s (S&P) não deixa margem para dúvidas sobre a sua perspectiva relativamente à conjuntura europeia: "A crise na Zona Euro ainda não acabou".

 

Apesar de reconhecer que "o pior já passou", a S&P continua a ver "riscos de que as actuais condições favoráveis dos mercados podem levar os governos a recuar nos seus esforços de consolidação orçamental". A agência defende que isso mesmo já está a acontecer. 

 

O problema reside no facto de "ainda haver problemas por resolver", afirma o analista da agência norte-americana, Moritz Kramer. Um dos responsáveis será mesmo o Banco Central Europeu (BCE) e o seu presidente, o italiano Mario Draghi.

 

Para este analista, o anúncio do BCE de que faria "tudo o que for necessário" para assegurar a coesão do núcleo do euro acabou por ter "a consequência inadvertida" de levar a uma espécie de "complacência" por parte de alguns governos europeus.  

 

Segundo a S&P a referida "complacência" deve-se também às "taxas de juro de longo prazo dos países terem caído para mínimos históricos", o que levou "alguns governos a adiar as necessárias, mas politicamente impopulares, reformas estruturais".

 

Tendo em conta este cenário, a agência de notação considera "que o recente abrandamento [económico da Zona Euro] não deveria parecer inesperado", que aproveita ainda para acrescentar "que um dos maiores impedimentos para uma recuperação mais robusta é a elevada dívida pública" de muitos países do bloco europeu.

 

"Só depois dos níveis de dívida pública e privada regressarem para patamares apropriados, é que nós acreditamos que as taxas de poupança podem moderar-se e a procura e o crescimento regressar", insiste Kraemer.

 

Assim, e apesar de reconhecerem que "o BCE possa continuar a expandir as suas políticas acomodatícias, por exemplo através de [um programa] de quantitative easing", a S&P reforça a ideia de que "políticas monetárias e orçamentais não podem per si" alterar a actual trajectória das economias da Zona Euro.

 

Uma das dúvidas está mesmo relacionada com as decisões futuras dos líderes europeus. "A forma como os governos vão reagir à actual volatilidade e abrandamento económico será determinante para o futuro da Zona Euro", alerta Moritz Kramer.

 

Para já, a nova Comissão Europeia, agora liderada pelo luxemburguês Jean-Claude Juncker, assegura ter preparado ainda antes do final deste ano um plano de investimento que deverá totalizar um montante de 300 milhões de euros.

 

Itália, Grécia, Espanha e Bélgica em risco de "espiral deflacionista"

 

A S&P parece concordar com a perspectiva revelada recentemente pelo presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, para quem o investimento público teria um impacto "negligenciável" nos países periféricos. Isto em resposta às vozes que clamam pelo aumento da despesa pública germânica por forma a estimular o crescimento no seio da Zona Euro.

 

Segundo o jornal La Repubblica, para a S&P um aumento da despesa pública teria "um efeito limitado" para economias como as de Itália, Espanha e França. De acordo com os cálculos desta agência citados pelo jornal italiano, um aumento de 1% da despesa pública alemã apenas proporcionaria um aumento entre 0,1% e 0,2% do PIB destes países.

 

Ainda segundo citações do La Repubblica, a baixa inflação ou a deflação que "poderão levar a um aumento ainda maior dos níveis de poupança", acaba por "aumentar o risco de uma espiral deflacionista" na Itália, Bélgica, Grécia e Espanha.

 

Apesar de no relatório hoje publicado, a S&P não nomear quais os países ou os governos que poderão estar a adiar as "necessárias reformas estruturais", encostando-se assim à sombra das políticas do BCE, tudo leva a crer que Itália e França, que recentemente garantiram não poder cumprir os limites do défice acordados com as instituições europeias, são os alvos definidos.

 

Talvez por isso, a S&P recorda que ainda recentemente baixou a perspectiva do "rating" de França para "negativa" e também o "rating" da Finlândia para "AA+", deixando somente a Alemanha e o Luxemburgo enquanto detentores do "triple A". Em jeito de avaliação das debilidades das economias do euro, a agência de notação lembra que "em 2006 eram oito" os países com "rating" de "AAA", e que agora são apenas dois, concluindo, portanto, que "está a ficar solitário no topo". 

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