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César das Neves critica "palermices" dos intelectuais que chumbam anos de Cavaco Silva

O economista, que foi assessor de Cavaco Silva enquanto este foi primeiro-ministro e de quem é também co-autor, defende os anos de governação do ex-presidente e aponta o dedo à "má qualidade da classe intelectual" nacional.

Negócios 17 de Março de 2016 às 11:51
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Há os factos, diz César das Neves. Entre eles estão que agricultura, pescas e indústria se desenvolveram nos anos de governação de Cavaco Silva; ou que o ex-primeiro ministro beneficiou dos mesmos fundos estruturais da União Europeia que os seus sucessores, mas viu a economia crescer mais; ou ainda que o seu apoio à entrada na moeda única foi uma aposta ganha para proteger os trabalhadores e consumidores. E depois há os "mitos convenientes", propalados por uma classe intelectual de "má qualidade" que mais uma vez se revelou nos balanços que fez à carreira política de Cavaco Silva, criticando sem razão, e sem se dar ao trabalho de confirmar, o legado do ex-presidente e ex-primeiro ministro.

"Os recentes balanços da carreira política de Cavaco Silva, no termo do mandato presidencial, foram pretexto para uma exposição solene das palermices que têm alimentado as elaborações dos supostos especialistas. Todos sabem, por exemplo, que foi no consulado governamental de Cavaco que a nossa agricultura, pesca e indústria foram desmanteladas a mando de Bruxelas. Todos sabem, mas ninguém se dá ao trabalho de confirmar. Se dessem, descobririam que o produto agrícola não caiu nesses anos, antes subiu 20% acumulados, as pescas 18%, a indústria 57%", escreve o economista na sua habitual coluna de opinião no Diário de Notícias, que explica depois de onde, no seu entender, vem o mito. É que o emprego recuou nestes sectores neste período, mas tal deveu-se a ganhos de produtividade, "precisamente aquilo que a elite tanto anseia, mas que não sabe o que implica".

César das Neves acrescenta ainda que, neste período, o emprego nos serviços aumentou 30%, absorvendo o emprego destruído nos outros sectores, e elevando o peso do emprego no sector terciário para 66%, muito abaixo do registado na Alemanha, na Espanha ou na média da União Europeia. "O que aconteceu então em Portugal foi o desenvolvimento da economia, que se modernizou, crescendo o peso dos serviços (…) O nosso atraso não se deve ao excesso de serviços mas à falta deles; não temos omissão de indústria mas exagero", remata.

"Outra certeza do imaginário nacional é o sucesso cavaquista se dever exclusivamente aos fundos estruturais" como se os seus sucessores não tivessem beneficiado do mesmo, continua o economista, lamentando que "mais uma vez", ninguém tenha ido ver os dados. César das Neves foi e encontrou que "o total acumulado de dinheiro obtido desde a entrada na CEE, em 1986, até 1995 (líquido do que pagámos) representou uns impressionantes 21% do PIB. Mas nesses anos o produto português aumentou 56% acumulados", graças ao dinamismo das empresas. Já nos "dez anos seguintes, de 1996 a 2005, Portugal voltou a receber os mesmos 21% do PIB, mas o crescimento foi só de 29%", compara.

Finalmente, o professor da Universidade Católica, que foi assessor de Cavaco Silva em São Bento entre 1991 e 1995, e publicou com ele em 1992 o livro "Finanças Públicas e Política Macroeconómica", atira às "luminárias" que defendem que a "desgraça" nacional se deve à entrada na moeda única, de que Cavaco Silva seria o único responsável, mas sem nunca avançarem com alternativas e esquecendo que a entrada no euro ocorreu três anos após o fim do último mandato como primeiro-ministro. Mas César das Neves considera que a entrada na moeda única, pelo contrário, poupou os trabalhadores e consumidores a constantes desvalorizações da moeda que lhes roubariam poder de compra. "A desvalorização interessa muito a certos grupos de pressão, que influenciam os opinadores, mas não à população nacional, que bem sofreu nos anos da sua vigência", escreve.

E é aqui que o colunista chega a uma conclusão sobre o que alimenta de forma mais geral o que chama de "mitos convenientes": uma tentativa de justificar e recuperar "o mito dos direitos inalienáveis que alguns grupos foram gozando, muito acima do que a produção nacional podia pagar" e que beneficiou "funcionários, pensionistas, escolas, hospitais, banca, construtoras, municípios e tantos outros ganharam muito graças ao crescente endividamento público e privado, que a entrada no processo de unificação monetária permitiu, e que rebentou em 2008".

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