Notícia
Incêndios: Especialista defende organismo "totalmente dedicado" à prevenção
O especialista florestal Paulo Fernandes, membro da comissão técnica independente para a análise dos fogos que começaram em Junho em Pedrógão Grande e Góis, defendeu à Lusa a criação de um organismo público "totalmente dedicado aos incêndios".
20 de Outubro de 2017 às 07:48
O relatório da comissão técnica independente, tornado público a 12 de Outubro e que deverá ser analisado no Conselho de Ministros extraordinário agendado para sábado, propõe a criação de uma Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais, cujo objectivo passaria, segundo Paulo Fernandes, por "dar algum cimento ao nosso sistema de prevenção a combate de incêndios".
"Basicamente, a prevenção quase não tem orçamento de dinheiros públicos", disse à Lusa o professor no Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), acrescentando que o actual sistema de prevenção a combate de incêndios "não tem coordenação global", o que resulta em "grandes desequilíbrios de distribuição de recursos".
Paulo Fernandes já tinha proposto um plano nacional de defesa contra incêndios em 2006, "que na altura não foi aceite pelo poder político", pelo que a proposta de uma nova agência de combate integrado a incêndios consiste ainda num "compromisso entre o que existe e o que devia existir".
"Nós preferíamos algo mais substancial", adiantou o membro da comissão técnica, admitindo que "esta agência é uma medida de recurso" que se baseia num modo de "trabalhar com a forma como o sistema está estruturado" e de forma a "injectar algum conhecimento técnico muito necessário - como se viu este ano - e que não existe no sistema".
O engenheiro florestal lamenta o "contraste que se faz sempre entre tudo o que se gasta em combate e o muito pouco que se gasta em prevenção", explicando assim a dimensão em área dos incêndios que causaram mais de 40 mortes no fim de semana de 14 e 15 de Outubro.
"Neste domingo tivemos dois incêndios de 60 mil hectares, que é algo completamente inesperado. Incêndios deste tamanho, no mundo, só ocorrem onde não vive ninguém", considerou o investigador, entendendo que, "basicamente, é como se esses fogos não tivessem tido qualquer combate, ou se tivessem propagado livremente."
Para Paulo Fernandes é já "muito difícil coordenar bombeiros de muitas corporações no mesmo incêndio, que basicamente obedecem aos seus comandantes e não ao comandante da operação. Se a isso somarmos os Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS), a Força Especial de Bombeiros, os sapadores florestais e os bombeiros florestais da indústria de celulose, é muita gente de proveniência variada e muito difícil de coordenar."
O professor na UTAD considera que a profissionalização de quem combate o fogo depende da evolução da Escola Nacional de Bombeiros, pelo que o relatório da comissão técnica recomenda a sua integração no sistema nacional de ensino.
"O que se propõe, já que ela é totalmente financiada por dinheiros públicos, é que passe a integrar o sistema de ensino público, como uma escola de ensino profissional e também com instituições de ensino superior, uma vez que há poucas pessoas qualificadas para dar essa formação", sublinhou o especialista.
Paulo Fernandes acredita que "um melhor sistema de combate a incêndios tem de integrar competências que no sistema atual são escassas, ou não têm massa crítica", lamentando que esteja ausente no sistema actual "um conhecimento mais avançado que tem a ver com a previsão, com a antecipação, e muito a ver com o aproveitar bem a informação meteorológica que existe e com a previsão do comportamento do fogo."
"Além de ser um sistema muito baseado no voluntariado", aponta, concluindo que "isso faz com que não haja a devida atenção ao espaço florestal e com que as técnicas que se usam para combater os fogos sejam excessivamente baseadas na água, adequadas a defender povoações ou casas, mas bastante menos eficazes para proteger a floresta".
"Basicamente, a prevenção quase não tem orçamento de dinheiros públicos", disse à Lusa o professor no Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), acrescentando que o actual sistema de prevenção a combate de incêndios "não tem coordenação global", o que resulta em "grandes desequilíbrios de distribuição de recursos".
"Nós preferíamos algo mais substancial", adiantou o membro da comissão técnica, admitindo que "esta agência é uma medida de recurso" que se baseia num modo de "trabalhar com a forma como o sistema está estruturado" e de forma a "injectar algum conhecimento técnico muito necessário - como se viu este ano - e que não existe no sistema".
O engenheiro florestal lamenta o "contraste que se faz sempre entre tudo o que se gasta em combate e o muito pouco que se gasta em prevenção", explicando assim a dimensão em área dos incêndios que causaram mais de 40 mortes no fim de semana de 14 e 15 de Outubro.
"Neste domingo tivemos dois incêndios de 60 mil hectares, que é algo completamente inesperado. Incêndios deste tamanho, no mundo, só ocorrem onde não vive ninguém", considerou o investigador, entendendo que, "basicamente, é como se esses fogos não tivessem tido qualquer combate, ou se tivessem propagado livremente."
Para Paulo Fernandes é já "muito difícil coordenar bombeiros de muitas corporações no mesmo incêndio, que basicamente obedecem aos seus comandantes e não ao comandante da operação. Se a isso somarmos os Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS), a Força Especial de Bombeiros, os sapadores florestais e os bombeiros florestais da indústria de celulose, é muita gente de proveniência variada e muito difícil de coordenar."
O professor na UTAD considera que a profissionalização de quem combate o fogo depende da evolução da Escola Nacional de Bombeiros, pelo que o relatório da comissão técnica recomenda a sua integração no sistema nacional de ensino.
"O que se propõe, já que ela é totalmente financiada por dinheiros públicos, é que passe a integrar o sistema de ensino público, como uma escola de ensino profissional e também com instituições de ensino superior, uma vez que há poucas pessoas qualificadas para dar essa formação", sublinhou o especialista.
Paulo Fernandes acredita que "um melhor sistema de combate a incêndios tem de integrar competências que no sistema atual são escassas, ou não têm massa crítica", lamentando que esteja ausente no sistema actual "um conhecimento mais avançado que tem a ver com a previsão, com a antecipação, e muito a ver com o aproveitar bem a informação meteorológica que existe e com a previsão do comportamento do fogo."
"Além de ser um sistema muito baseado no voluntariado", aponta, concluindo que "isso faz com que não haja a devida atenção ao espaço florestal e com que as técnicas que se usam para combater os fogos sejam excessivamente baseadas na água, adequadas a defender povoações ou casas, mas bastante menos eficazes para proteger a floresta".