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O Alvarinho surpreende sempre

Um indivíduo vai à Vidigueira em busca de um Antão Vaz de vinhas velhas ou e acaba por descobrir um surpreendente Alvarinho... e da colheita de 2012. O país é pequeno, mas há sempre surpresas numa ou noutra adega.

16 de Junho de 2018 às 13:00
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Depois de ter provado uma série longa de Alvarinhos de Monção e Melgaço de diferentes perfis no muito animado Alvarinho Wine Fest, em Lisboa, digamos que a minha prioridade não seria propriamente regressar aos vinhos da nobre casta da sub-região dos vinhos verdes, mas como o país, apesar de pequeno, é um labirinto que nos prega partidas, dei por mim, esta semana, na Herdade de Ribafreixo, na Vidigueira, a provar um surpreendente e guloso Alvarinho. E com idade.   

 

Em rigor, fui à herdade por causa das açordas e outros petiscos preparados pela chef Catarina Parreira, mas como uma coisa puxa a outra (nisto das comidas no Alentejo, a gente começa numa erva qualquer e termina ora num prato singelo, ora numa criação à moda do rei D. Carlos), acabei com o tal Alvarinho de 2012 às voltas no copo, mas com aquela angústia que me persegue sempre que provo o vinho de uma casta que viaja do seu solário natural para terras mais inóspitas. Não se trata de perceber (nem de longe nem de perto) onde é que a casta é mais feliz. Trata-se de, com algum rigor, tentar perceber o que é um Alvarinho do Douro, um Alvarinho da península de Setúbal, um Alvarinho de Lisboa ou um Alvarinho da planície alentejana, sendo que, em matéria vitícola, Alentejos há muitos. 

 

Ora, perante o primeiro Gáudio Alvarinho, de 2012, e feito a partir de plantas muito novas, fiquei a saber por Nuno Bicó, um dos accionistas da Ribafreixo, que Anselmo Mendes (o "sr. Alvarinho") e investigadores de várias escolas agrárias vão estudar o comportamento da casta nos diferentes terroirs do país e bem assim estudar os diferentes perfis de vinhos daqui resultantes. Num país vitícola que estuda pouco e que não percebe a mais valia da investigação, isso foi logo motivo para um brinde. Com o tal Alvarinho, claro.

 

Enfatizo mais uma vez que não estou interessado em saber onde se produz o melhor Alvarinho que, de resto, é coisa que nem sei bem o que é. Estou, isso sim, interessado na produção de conhecimento e na prova regular nos próximos anos de Alvarinhos viajantes.   

 

O que motiva um enófilo esclarecido não é o dogma, que isso é coisa de casmurros. O que o motiva é a procura constante por novos aromas e novos sabores. É a curiosidade, é a descoberta e a partilha com os amigos.

 

Um Alvarinho de Monção e Melgaço será sempre o padrão, pelo que tudo o que se faça noutras regiões partirá sempre desta bitola. Quando me perguntam por Alvarinhos, o meu espírito viaja para as vinhas do Nordeste minhoto e para as pequenas adegas onde há famílias que, há muitas gerações, tentam manter um certo perfil da casa, seja ele mais floral ou mineral, mais adocicado ou austero, mais indicado para consumo imediato ou mais adequado para descansar na cave. E isso é algo que sei porque, como qualquer enófilo interessado, acompanho com alguma atenção cada uma das novas colheitas de Alvarinho.   

 

Quando Luís Mira, da Herdade das Servas, apresentou o seu Alvarinho de 2016, teve sempre o cuidado de dizer que "este é um Alvarinho de Estremoz, um branco do Estremoz", querendo com isto dizer que o terroir quente lhe dá uma identidade própria. Nunca disse que era melhor ou pior do que outros Alvarinhos. É de Estremoz, ponto final. 

 

Agora, e para regressarmos à Ribafreixo, tira-se o chapéu à coragem da equipa de gestão em apresentar no seu restaurante um Alvarinho de 2012. Sem medos. Nuno Bicó argumenta que todos os vinhos da casa são pensados para viverem longos anos em garrafa, mas isso poderia não ser bem aceite por clientes e distribuidores obcecados com vinhos novos, para quem um branco de 2016 já é um grande risco (coitados).

 

Por causa desta atitude, podemos deliciar-nos com um vinho sério, sem frutinhas tropicais, mas com ligeiro mel, os cheiros das tílias que por estes dias estão em festa e, claro, as sempre apetecíveis notas minerais. Na boca, um vinho que pede, não peixe, mas um borrego assado. Cheio e muito equilibrado.

 

Este vinho foi provado ao lado de um Antão Vaz de vinhas velhas (40 anos) de 2014 e 2015, também ele desafiante e revelador da cultura organizacional da casa, visto que não cedeu à tentação de substituir uma vinha de Antão Vaz menos produtiva por outra mais científica e pujante. Estava soberbo com uma açorda e uns petiscos variados, mas só me lembro do Alvarinho. Por alguma razão será.

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