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Paul no país das oportunidades

Paul Santinhos chegou ao Canadá com os pais no dia 25 de Abril de 1974. Tinha cinco anos. Vive em Toronto e é um orgulhoso luso-canadiano. Na CN Tower, em Toronto, inventou um produto para substituir o tradicional “frapé”.

23 de Junho de 2017 às 12:00
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"Somos todos iguais". A avaliação de Paul Santinhos sobre o Canadá encontra correspondência na realidade. O país é multicultural e destaca-se pelo respeito com que todos os cidadãos, independentemente da sua origem, são tratados. No Distillery District, em Toronto, pela via gastronómica, encontra-se uma ilustração desta diversidade. É possível começar um roteiro de degustação num restaurante francês a comer pernas de rãs, passar por um mexicano e provar guacamole e acabar num bar de ostras, a saborear as muitas variedades deste molusco proveniente de várias regiões do Canadá.

O Distillery District começou por ser, no século XIX, uma destilaria de bebidas alcoólicas, teve fama e actividade frenética durante a Lei Seca nos EUA, entre 1920 e 1933, acabando por fechar portas na década de 90. A zona entrou em degradação até ser comprada em 2001 pela Cityscape Holdings, a qual manteve os edifícios originais e a metamorfoseou num espaço de lazer e diversão que abriu em 2003 e se transformou numa das atracções turísticas de Toronto. Um conceito que tem um espelho em Lisboa, a LX Factory.

O Distillery District foi o local escolhido para este luso-canadiano de 47 anos contar a história do seu "fresco". A ideia parece simples. Mas só na aparência. Paul Santinhos e o seu parceiro, o inglês James Muir, demoraram cinco anos a aperfeiçoar o "Fresco Wine Cooler" até o lançarem no mercado, em 2016. O "fresco" é um recipiente para manter as bebidas frescas, o qual tem incorporado um compartimento onde se coloca o gelo, marcando assim pontos em relação ao "frapé", onde o gelo e a garrafa se encontram misturados, provocando sempre a queda de pingos de água de cada vez que é preciso servir uma bebida.

O "fresco" nasceu no restaurante 360.º da CN Tower, localizada em Toronto, a terceira maior torre do mundo com 553,33 metros de altura. Paul, empregado de mesa, e James, escanção, constataram as ineficiências do "frapé", a que se juntava um outro problema, o espaço ocupado pelo mesmo. E foi na CN Tower que imaginaram e fizeram os primeiros testes com o "fresco", nome inspirado nas "pinturas italianas", conta Paulo Santinhos, que é também representante da "Fine Wines of Portugal", uma distribuidora que representa 600 marcas de vinhos portugueses no Canadá.

O maior desafio no desenvolvimento do "fresco" foi criar uma base que não sucumbisse às mudanças de temperatura provocadas pelo gelo no alumínio de que é feito o recipiente e permite manter as garrafas a uma temperatura que oscila entre os quatro e os 10 graus. Após várias experiências falhadas, Paul e James recorreram ao International Research Development Center do Canadá, o qual criou uma fórmula para a base que agora está patenteada. "Foi o que me deu mais orgulho", garante.


Santinhos e Muir, contas redondas, investiram 270 mil dólares canadianos (182 mil euros) no "fresco", já venderam 17 mil unidades, a restaurantes e particulares, e começam agora a ver a luz ao fundo do túnel. "Ainda não nos pagámos ordenados mas agora temos movimento que chegue para o começarmos a fazer". E já têm clientes em Portugal. A cervejaria Ramiro, em Lisboa, à qual Paul gosta de levar os seus amigos canadianos, comprou-lhe 50 unidades, e o Solar dos Presuntos também se prepara para lhe fazer uma encomenda.

Paul Santinhos vive no Canadá desde os cinco anos, onde chegou com os pais a 25 de Abril de 1974. O pai tinha uma licença de imigração para ser pastor em Saskatchewan, no Oeste do país, mas trocou as voltas às autoridades e acabou por ficar em Toronto, onde trabalhou na construção civil. Com os ecos da revolução, os progenitores ainda pensaram em regressar a Portugal, mas acabaram por recuar na materialização do desejo.

Paul é um luso-canadiano realizado. "No Canadá, há sempre trabalho. Dá para vir com nada e seguir em frente". Mas as raízes portuguesas são profundas. Vem com frequência ao país e acompanha a selecção de futebol nos quatros cantos do mundo. Esteve nos mundiais do Brasil e da África do Sul e nos europeus da Alemanha, Áustria/Suíça e França. "Quando era criança, depois da escola inglesa, os meus pais obrigavam-me a frequentar a escola portuguesa. Antes não dava valor, agora dou. O que não gostava quando era pequeno agora adoro", resume.

Canadá e Toronto, onde Paul vive, são um viveiro de oportunidades e um exemplo de respeito pelas origens de cada um. Nesta sociedade multicultural cabem portugueses, espanhóis, croatas, filipinos, paquistaneses, curdos, escoceses, irlandeses e chineses, entre muitos outros. Todos têm as mesmas oportunidades e fazem questão de juntar a cidadania do país onde vivem com aquela que lhes foi atribuída por nascimento. "Somos todos iguais" declara Paul Santinhos, que faz parte de uma comunidade de mais de 400 mil luso-descendentes.

O Canadá tem 35 milhões de habitantes, 21% dos quais são imigrantes (a maioria deles asiáticos), sendo que representam 31% dos trabalhadores altamente qualificados do país. Toronto, por sua vez, é uma das cidades mais multiculturais do mundo, onde são falados 140 idiomas ou dialectos. Esta diversidade acaba por ser a cola que une o Canadá, que em 2017 comemora 150 anos como país independente. Uma característica assumida pelo primeiro-ministro canadiano. Em Janeiro deste ano, quando Donald Trump decidiu proibir a entrada nos Estados Unidos da América de cidadãos de sete países muçulmanos, Justin Trudeau deixou a seguinte mensagem do Twitter: "Aos que fogem da perseguição, do terror e da guerra, fiquem a saber que o Canadá vos acolherá independentemente da vossa fé. A diversidade é a nossa força #Bem-vindosaoCanadá." Um mês depois, o embaixador canadiano em Portugal, Jeffrey Marder, reforçava a mensagem numa declaração à agência Lusa: "Vemos na diversidade uma força e também uma riqueza económica".
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