Notícia
La La Land: Nostálgica terra prometida
Apaixonado e apaixonante. Esta é a música de como o sonho procura vingar num sistema de interesses. Entre a explosão de cores, há uma tristeza latente. E, entre Los Angeles e Paris, um céu de estrelas.
La La Land
Da bateria de "Whiplash - Nos Limites" para o musical. O regresso do realizador Damien Chazelle é uma autêntica corrida aos Óscares: "La La Land - Melodia de Amor" concorre em 14 categorias. Nos últimos Globos de Ouro, trouxe para casa sete troféus.
Há umas notas de piano, facilmente tristes, que insistem em voltar à memória. Como se procurassem lembrar que ali - atrás de todas as danças, canções e sapateados - reside a verdadeira alma de "La La Land".
A estranheza dura apenas uns segundos. A primeira canção, animada, promete mais um dia de sol em Los Angeles. Damien Chazelle sabe que dará mais do que isso, com uma câmara que se afirma desde logo presente - intermediário natural até nas empreitadas técnicas mais complexas. Confia-se e o envolvimento começa, até não se poder fugir.
Emma Stone e Ryan Gosling. Ela é Mia, aspirante a actriz. Ele é Sebastian, ansioso por abrir um bar de jazz onde a música é vivida como no tempo dos seus ídolos. Entre eles e esses sonhos, uma paixão e um sistema mundialmente conhecido: Hollywood. Eis um par de sonhadores num mundo de dinheiro e fama.
Narrativa simples onde o lado genuíno - mesmo que as personagens comecem a dançar do nada, imagine-se - é a principal arma. Há um misto de inocência e mesquinhez que permitem a identificação quase imediata. Mia e Sebastian anseiam a glória artística, após centenas de "castings" e bandas que falharam. Quem vê também.
E é aqui que "La La Land" se torna triste, melancólico até, por mostrar que o final nunca será como desejado: ou se tem o amor digno dos grandes filmes ou o sucesso profissional. Os dois são incompatíveis. Hollywood é maquiavélica demais para permiti-lo. Em contraste, a fórmula visual do filme: uma homenagem contida mas permanente à sétima arte através dos cartazes, rostos grafitados e referências à obra "Rebel without a cause" de 1955.
Foi precisamente essa a década de ouro do musical. "La La Land" joga com a nostalgia latente e tira daí o seu sucesso, precisamente por cumprir os preceitos da época. Estilo retro na explosão de cores primárias - aplausos para as conjugações de vestidos em vermelho, verde, azul e amarelo - e um romance vivido como se não fosse uma "asneira".
Depois, com a maior das naturalidades, um sapateado ao pôr do sol ou uma valsa em suspenso nas estrelas. Mesmo quando a barreira do realismo cai, "La La Land" continua a ser credível. Pára-se uns segundos e conclui-se: não podia ser de outra maneira.
A Emma Stone - brilhante, energética no olhar - e a Ryan Gosling - introspectivo, contido - não é pedido que sejam exímios nas artes de dançar e cantar. A fragilidade nesses campos funciona, bem pelo contrário, a seu favor. Porque há ligação, tensão amorosa. Damien Chazelle sabe dar-lhe ritmo. No escuro de uma sessão de cinema, os dedos de Mia e Sebastian tocam-se. Por instantes, nada mais importa do que esse roçar silencioso das mãos.
Mesmo com todo o aparato cenográfico em volta, o foco está sempre nos actores. Em momentos cruciais, as luzes revelam como foram construídas e apagam-se. Os rostos de Stone e Gosling falam mais alto, como se mais nada em redor importasse. O realizador fá-lo precisamente no momento de enquadrar a sequência mais deslumbrante de todo o filme - o epílogo.
"La La Land" não escolhe o caminho mais fácil para terminar. Pelo contrário, é como se tudo voltasse ao início. Em poucos minutos, mostra-se que tudo poderia ter sido de outra maneira - aquela que, lá no fundo, desejávamos.
Embaladas pela música de Justin Hurwitz, e recriando a estética de outros tempos, as personagens entram num estúdio de cinema. Percorrem toda a linha narrativa. Os cenários são minimalistas, pintados. Los Angeles e Paris em poucos traços. Os olhos - e sobretudo o cérebro - são ensinados a acreditar, a desenhar o que falta.
Ouvir-se-á a buzina dos automóveis uma vez mais. É outra alma de artista a testar o talento num mundo de sortes e interesses. Terá ela sucesso na cidade das estrelas? Este filme é para os que sonham.
Da bateria de "Whiplash - Nos Limites" para o musical. O regresso do realizador Damien Chazelle é uma autêntica corrida aos Óscares: "La La Land - Melodia de Amor" concorre em 14 categorias. Nos últimos Globos de Ouro, trouxe para casa sete troféus.
Há umas notas de piano, facilmente tristes, que insistem em voltar à memória. Como se procurassem lembrar que ali - atrás de todas as danças, canções e sapateados - reside a verdadeira alma de "La La Land".
Emma Stone e Ryan Gosling. Ela é Mia, aspirante a actriz. Ele é Sebastian, ansioso por abrir um bar de jazz onde a música é vivida como no tempo dos seus ídolos. Entre eles e esses sonhos, uma paixão e um sistema mundialmente conhecido: Hollywood. Eis um par de sonhadores num mundo de dinheiro e fama.
Narrativa simples onde o lado genuíno - mesmo que as personagens comecem a dançar do nada, imagine-se - é a principal arma. Há um misto de inocência e mesquinhez que permitem a identificação quase imediata. Mia e Sebastian anseiam a glória artística, após centenas de "castings" e bandas que falharam. Quem vê também.
E é aqui que "La La Land" se torna triste, melancólico até, por mostrar que o final nunca será como desejado: ou se tem o amor digno dos grandes filmes ou o sucesso profissional. Os dois são incompatíveis. Hollywood é maquiavélica demais para permiti-lo. Em contraste, a fórmula visual do filme: uma homenagem contida mas permanente à sétima arte através dos cartazes, rostos grafitados e referências à obra "Rebel without a cause" de 1955.
Foi precisamente essa a década de ouro do musical. "La La Land" joga com a nostalgia latente e tira daí o seu sucesso, precisamente por cumprir os preceitos da época. Estilo retro na explosão de cores primárias - aplausos para as conjugações de vestidos em vermelho, verde, azul e amarelo - e um romance vivido como se não fosse uma "asneira".
Depois, com a maior das naturalidades, um sapateado ao pôr do sol ou uma valsa em suspenso nas estrelas. Mesmo quando a barreira do realismo cai, "La La Land" continua a ser credível. Pára-se uns segundos e conclui-se: não podia ser de outra maneira.
A Emma Stone - brilhante, energética no olhar - e a Ryan Gosling - introspectivo, contido - não é pedido que sejam exímios nas artes de dançar e cantar. A fragilidade nesses campos funciona, bem pelo contrário, a seu favor. Porque há ligação, tensão amorosa. Damien Chazelle sabe dar-lhe ritmo. No escuro de uma sessão de cinema, os dedos de Mia e Sebastian tocam-se. Por instantes, nada mais importa do que esse roçar silencioso das mãos.
Mesmo com todo o aparato cenográfico em volta, o foco está sempre nos actores. Em momentos cruciais, as luzes revelam como foram construídas e apagam-se. Os rostos de Stone e Gosling falam mais alto, como se mais nada em redor importasse. O realizador fá-lo precisamente no momento de enquadrar a sequência mais deslumbrante de todo o filme - o epílogo.
"La La Land" não escolhe o caminho mais fácil para terminar. Pelo contrário, é como se tudo voltasse ao início. Em poucos minutos, mostra-se que tudo poderia ter sido de outra maneira - aquela que, lá no fundo, desejávamos.
Embaladas pela música de Justin Hurwitz, e recriando a estética de outros tempos, as personagens entram num estúdio de cinema. Percorrem toda a linha narrativa. Os cenários são minimalistas, pintados. Los Angeles e Paris em poucos traços. Os olhos - e sobretudo o cérebro - são ensinados a acreditar, a desenhar o que falta.
Ouvir-se-á a buzina dos automóveis uma vez mais. É outra alma de artista a testar o talento num mundo de sortes e interesses. Terá ela sucesso na cidade das estrelas? Este filme é para os que sonham.