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Empresas portuguesas com foco no pilar social da sustentabilidade

Apesar de se falar mais em temáticas ambientais, as empresas em Portugal promovem mais iniciativas de âmbito social, sobretudo a nível interno. Gestão de resíduos e promoção do capital natural carecem de mais atenção.

07 de Junho de 2024 às 17:47
Diana Ramos, Miguel Maya, e Afonso Arnaldo, debatem os resultados do estudo "O estado da sustentabilidade das empresas portuguesas." Duarte Roriz
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As empresas portuguesas estão a atuar maioritariamente em iniciativas do pilar social, contudo, com um foco em iniciativas internas e não tanto no desenvolvimento social da comunidade, conclui o estudo "O estado da sustentabilidade das empresas portuguesas" levado a cabo pela Deloitte. No pilar ambiental, as empresas estão a desenvolver iniciativas de combate às alterações climáticas, nomeadamente investindo em frotas mais verdes ou no recurso a energias renováveis. Na área ambiental o que fica mais aquém é a área da poluição e resíduos (46%) e de natureza e recurso naturais (31%).

O estudo incidiu também sobre o pilar de governação da tríade ESG (ambiental, social e governação, na sigla em inglês), detetando que as maiores iniciativas estão relacionadas com compliance, comunicação e liderança nas capacidades internas dos recursos. O estudo abordou 120 entidades de vários setores de atividade, entre fevereiro e abril de 2024, recebendo respostas de 42 entidades, sendo que a esmagadora maioria são grandes empresas e apenas 8% são PME.

"O que sobressai à vista é o peso do pilar ‘S’ nas empresas nacionais. Estes dados mostram que falamos muito de ambiente, mas tanto o ambiente como a governance ficam mais aquém quando se trata de atividades concretas das empresas, salientando sobretudo as atividades no campo social", sintetizou Inês dos Santos Costa, Associate Partner, Sustainability and Climate da Deloitte, na apresentação do estudo na Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20|30.





Numa escala de maturidade que enquadra as empresas em níveis que vão desde a Compreensão, Desenvolvimento, Desempenho até à liderança, nos múltiplos aspetos ESG, as empresas sob analise demonstraram um maior grau de maturidade nas questões referentes aos temas sociais, com uma classificação média no grau Liderança (59%). Nos temas ambientais e de governação, as empresas apresentam situam-se maioritariamente em Desempenho, nomeadamente 62% nos aspetos ambientais e 48% nos aspetos relativas à governação.

Do ponto de vista do pilar social, as melhores oportunidades de melhoria têm a ver com o impacto das empresas nas comunidades onde operam. "Há muito foco sobre a realidade nas empresas, mas ainda não estamos lá no impacto social das empresas nas comunidades. Fazem-no quase como benevolência ou filantropia e não como a perspetiva de como se pode alavancar este valor dentro da estratégia de negócios da empresa. Esta é uma questão que importa trabalhar", referiu.




Para Inês Costa, "estamos num momento de grande transformação das empresas e grande pressão regulatória a vários níveis, não só ao nível da CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive), mas também outro tipo de legislação que vai entrar em vigor nos próximos anos, como a Due Diligence Directive. Mas outras como o regulamento de eco design para produtos, que vai trazer o passaporte do produto, ou outras regulações associadas ao combate ao greenwashing. Portanto, toda esta transformação vai levar a que empresas invistam internamente em competências e capacidades".





Desmontando por setores de atividade, as empresas das áreas de governo e serviços públicos conseguem ter uma melhor performance de atividades concretas face aos restantes setores, sendo que os serviços financeiros seguem nessa liderança.

 

Portugal deve preparar-se para o futuro

Ao estudo sobre o estado da sustentabilidade das empresas portuguesas seguiu-se um debate entre Afonso Arnaldo, partner e Sustainability & Climate Leader da Deloitte, e Miguel Maya, CEO do Millennium bcp.

Afonso Arnaldo defendeu que Portugal se deveria preparar para o futuro, uma vez que o país "vale menos de 1% em termos de emissões, portanto, por melhor aluno que sejamos, não devemos deixar de nos prepararmos para o futuro".



Referiu, no entanto, que "a própria administração pública portuguesa já reconhece que nos devemos concentrar a preparar-nos para a situação de isto correr mal e acordarmos um dia com água pelo joelho no Cais do Sodré".

No caso das empresas, o partner da Deloitte reconheceu que estas "estão a fazer o seu caminho", uma vez que "existe uma crescente preocupação pela área, seja pela via das regulamentações impostas, seja pela sensibilidade das empresas cada vez maior".

Ainda assim, e citando o estudo da Deloitte que demonstra que na área da circularidade as empresas portuguesas ainda "estão muito aquém do que deveriam estar", o caminho será levar o tema da sustentabilidade a toda a orgânica da empresa. "O caminho ideal será que deixemos de ter uma pessoa a pensar nestes temas e pensarmos todos, para todos contribuirmos para a sustentabilidade. Este caminho está a ser feito˜, referiu.

Por sua vez, Miguel Maya defendeu que para se proteger a economia e as pessoas é necessário proteger os riscos físicos. Dada a elevada exposição de Portugal aos efeitos das alterações climáticas, "a prioridade de Portugal para proteger a economia e as pessoas deveria ser proteger os riscos físicos", frisou.


O CEO sublinhou também que o país e a Europa devem promover medidas para combater as alterações climáticas, mas estas não devem colocar as empresas em desvantagem num mercado aberto que concorre com empresas de outras geografias não sujeitas a normas tão apertadas.

Na realidade, o presidente executivo do BCP admitiu que já existem projetos imobiliários e industriais com financiamento rejeitado por incumprimento de requisitos que reduzem os riscos ambientais e associados à transição. "Na habitação já há projetos com determinadas certificações energéticas que já não financiamos", explicou.



Miguel Maya também adiantou que o banco já "só financia nova construção, desde que cumpra determinados requisitos". "Há muitos projetos que não cumprem esses requisitos e que ficam excluídos. E outros projetos de maior dimensão que também não cumprem esses requisitos", exemplificou, explicando de seguida que se na lista de chumbos estão projetos de investimento industrial.

 

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