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Um em cada três colaboradores (35%) tem conhecimento de abuso de autoridade, enquanto 32% relataram estar cientes de casos de bullying e assédio. Em paralelo, 20% dos colaboradores reconheceram ter conhecimento de assédio sexual. Apesar disto, um terço dos colaboradores que souberam de má conduta optaram por não a relatar. Os principais motivos para esta falta de denúncia incluem o medo de prejudicar as suas carreiras (34%) e a preocupação de que a organização não tomaria medidas corretivas (34%).
Os dados constam do estudo europeu "Ethics at Work" efetuado a 12 mil pessoas de 16 países europeus. Em Portugal, conta com a parceria da Católica Porto Business School.
A análise mostra ainda que, entre os dois terços dos colaboradores que levantaram preocupações (64%), quase metade (46%) enfrentou desvantagens pessoais ou retaliação por terem falado abertamente, e 28% expressaram insatisfação com o resultado. Apenas 61% dos colaboradores afirmam que as suas organizações oferecem meios confidenciais de denúncia.
Lauren Branston, CEO do Institute of Business Ethics, destaca a importância de criar um ambiente seguro para que os colaboradores se sintam à vontade para expressar as suas preocupações: "Se estamos realmente comprometidos em prevenir comportamentos prejudiciais no local de trabalho, uma cultura de denúncia segura é crucial."
A análise refere que um em cada quatro colaboradores (25%) está ciente dos comportamentos que violam a lei ou os padrões éticos das suas organizações no último ano. Este número representa um aumento significativo em relação aos 18% registados em 2021.
O Ethics at Work é um estudo conduzido pelo Institute of Business Ethics, de três em três anos, realizado pela primeira vez em 2005. Portugal foi incluído no grupo de países participantes em 2018.
Helena Gonçalves, coordenadora do Fórum de Ética da Católica Porto Business School, explica que se trata "de um inquérito feito a uma amostra representativa da população ativa em cada país, onde são analisadas três grandes áreas: a cultura ética; a identificação de riscos éticos; e o apoio à ética no local de trabalho."
O estudo revela também que há uma maior consciencialização sobre o problema, mas que existe uma divisão geracional na vontade para denunciar as más condutas. Ou seja, colaboradores mais jovens (18-34 anos, 70%) são mais propensos a levantar preocupações em comparação com colegas mais velhos (35-54 anos, 61%) e aqueles com 55 anos ou mais (54%). Porém, os colaboradores mais jovens (52%) são mais propensos a sofrer retaliação após relatar preocupações do que os seus colegas mais velhos.
Lauren Branston conclui que "quando os trabalhadores não sentem que os problemas serão tratados internamente, podem procurar outras formas de se manifestar. Estamos a ver um aumento na disposição dos colaboradores, especialmente dos mais jovens, de buscar alternativas para expor as suas preocupações."
O tema e os resultados globais e nacionais vão ser alvo de análise e debate na conferência anual do Fórum de Ética da Católica Porto Business School, que terá lugar a 12 de novembro.