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A União Europeia (UE) não disporá de financiamento suficiente para a Agenda Estratégica para 2024-2029, acordada pelos líderes europeus no passado mês de junho e que apela ao investimento nas transições ecológica e digital, alerta a Finance Watch.
A nova Agenda Estratégica dá prioridade às despesas e ao investimento na defesa, nas transições ecológica e digital, no sistema de saúde e na educação. No entanto, estes objetivos, em especial no que se refere à transição ecológica e digital, podem enfrentar um défice de financiamento por parte do capital privado, exigindo um debate pragmático sobre a abordagem financeira para apoiar os planos estratégicos a longo prazo da Europa, assinala a organização num novo relatório.
As alterações climáticas, por si só, exigirão que a UE invista anualmente entre 5% e 10% do seu PIB durante as próximas décadas. No atual contexto de escassez de fundos públicos, os líderes da UE estão a contar com os mercados de capitais para fornecer o dinheiro necessário, mas os mercados de capitais só poderão financiar um terço desses investimentos, destacam os analistas.
O grupo de interesse público afirma que este tem sido um aspeto até agora ignorado no debate sobre a União dos Mercados de Capitais, mas significa que dois terços dos investimentos estratégicos essenciais da UE poderão ficar sem financiamento.
"Com uma regulamentação bem direcionada e muita vontade política, pensamos que os mercados de capitais podem financiar até um terço das necessidades climáticas da UE, nos casos em que o rendimento financeiro seja suficiente. Mas se as outras necessidades não forem financiadas e a UE ficar exposta, entre outras coisas, a alterações climáticas não mitigadas, os governos terão de enfrentar custos fiscais muito mais elevados no futuro", destaca Thierry Philipponnat, economista-chefe da Finance Watch e autor do relatório.
A não realização dos investimentos necessários nos próximos anos implicaria o risco de perturbações económicas e o subsequente colapso das receitas fiscais, com um custo várias vezes superior ao dos investimentos necessários, alerta a organização.
O relatório insta a Comissão Europeia a confirmar a realidade desta crise de investimento e a criar as condições para um novo debate sobre a arquitetura financeira da UE. Apela à Comissão Europeia para que proceda à sua própria avaliação, quantificando em que medida uma União dos Mercados de Capitais plenamente bem-sucedida poderia contribuir para a sustentabilidade e os objetivos estratégicos da UE, de modo a poder avaliar qualquer défice de investimento remanescente.
O relatório alerta para o facto de que, se as temperaturas globais atingirem +3° C até ao final do século, como atualmente previsto, os custos fiscais e sociais subirão para níveis que poderão ser insuportáveis para as finanças públicas.
Embora alguns tipos de investimento inicial, como certos projetos de energias renováveis, possam ser financiados nos mercados de capitais, a maioria dos investimentos iniciais necessários para reduzir este perigo não produziria um rendimento financeiro suficiente para o financiamento privado. "Têm de ser financiados por fundos públicos, o que atualmente não é viável, ou correm o risco de não serem financiados. A situação exige uma nova reflexão sobre a forma como a UE pode evitar a criação de uma futura bomba-relógio fiscal causada pelo subinvestimento", assinalam os analistas.