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Mineração do mar pode prejudicar uma das pescarias mais valiosas do mundo

A pesca do atum pode ser lesada pela potencial mineração no mar-alto, revela um novo estudo. Interferência na migração destes peixes é uma das razões apontadas.

12 de Julho de 2023 às 09:28
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A potencial mineração em águas profundas no Pacífico pode prejudicar a pescaria do atum, uma das mais valiosas do mundo, avaliada em 5,5 mil milhões de dólares anuais (cerca de 5 mil milhões de euros), conclui um novo estudo publicado pela revista Nature Sustainability.

A mineração em águas profundas pode interferir na migração do atum, que está a ser impulsionada pelas alterações climáticas para áreas do Oceano Pacífico onde a possibilidade de mineração está a ser estudada.

Esta novas dinâmicas de migração aumentam o potencial de conflito entre algumas pescarias e a possível mineração na Zona Clarion-Clipperton, uma zona de fratura geológica localizada a sudeste do Havai.

Os investigadores indicam que os modelos climáticos sugerem que a distribuição do atum mudará nas próximas décadas. Dentro da Zona Clarion-Clipperton do Oceano Pacífico, a biomassa total de determinadas espécies deve aumentar em relação às existentes na atualidade. Nomeadamente, 10 a 11% para o atum patudo, 30 a 31% para o gaiado e 23% para o atum albacora.

"As interações entre mineração, populações de peixes e mudanças climáticas são complexas e desconhecidas. No entanto, esses aumentos projetados na sobreposição indicam que o potencial de conflito e as repercussões ambientais e económicas resultantes serão exacerbados num oceano com clima alterado. Isso tem implicações para a gestão holística e sustentável dessa área", pode ler-se no estudo.

Recorde-se que a mineração no mar profundo é polémica, porque contrapõe dois grandes interesses atuais: a proteção do planeta e a recolha de metais essenciais às revoluções verde e digital e que existem em abundância em determinadas zonas do alto-mar.

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, sigla em inglês) está a discutir a regulamentação da exploração da área internacional do oceano, ou seja, toda a área que não faz parte da jurisdição de cada país e que corresponde a 90% do oceano, com águas entre os 200 metros e os 7.000 metros de profundidade.

Uma discussão polémica onde os opositores defendem que não se deve explorar uma zona sem estudar as eventuais consequências para o planeta e comunidades circundantes, tendo em conta que as máquinas de mineração "aspiram" o fundo para recolher esses metais, levantando plumas de sedimentos que estão estáveis no fundo do mar há milhões de anos, com impactos desconhecidos para o planeta. Para além do ruído e outros impactos associados.

 

"Se os projetos de exploração mineira em alto-mar forem autorizados pela ISA a passarem para a fase de exploração, provavelmente seriam causados impactos ambientais substanciais. Além disso, é provável que ocorra conflito entre a pesca e a mineração em alto-mar, dada a sobreposição espacial existente", destacam os investigadores.

Por cá, os Açores, situados numa zona rica em metais, já tomaram posição sobre esta matéria e proibiram a mineração nas suas águas, mas a nível nacional esse passo não foi dado. 

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