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Os progressos "insuficientes" nas transições para tecnologias limpas e soluções sustentáveis ao longo do último ano evidenciam a necessidade de uma colaboração internacional forte e orientada para setores com elevadas emissões, a fim de permitir transições mais rápidas, mais fáceis e mais baratas para todos, evidencia o novo relatório da Agenda para o Avanço hoje divulgado.
O relatório - uma colaboração anual entre a Agência Internacional da Energia (AIE), a Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA) e os Campeões de Alto Nível das Nações Unidas para as Alterações Climáticas - mostra que os atuais esforços em matéria de energias limpas e soluções sustentáveis, embora estejam a melhorar, ainda não estão a atingir os níveis de investimento e de implantação necessários para cumprir os objetivos climáticos internacionais.
Assim, apela aos governos para que reforcem a colaboração em domínios fundamentais, como nas normas e regulamentação, na assistência financeira e técnica e na criação de mercados para impulsionar a transição.
"A transição energética está a avançar mais depressa do que muitas pessoas pensam, mas precisa de avançar ainda mais depressa. A nossa análise mostra que, embora alguns setores estejam a assistir a uma colaboração internacional mais forte, outros estão a ficar para trás", afirma Fatih Birol, diretor executivo da AIE. "Nenhum país pode enfrentar isoladamente os desafios climáticos e energéticos que se nos deparam. Trabalhar em conjunto é a única forma de conseguirmos uma transição suave para todos. Apoiarmo-nos na inovação, atrair investimentos e aumentar a procura de novas tecnologias são os elementos fundamentais para o sucesso. Se continuarmos a adiar, estamos simplesmente a aumentar os riscos", acrescenta.
O relatório examina os avanços feitos e as ações necessárias para cumprir as metas da Agenda Breakthrough, um compromisso assinado por 48 países que representam cerca de 80% da produção económica global, lançado na COP26, em 2021.
O processo anual visa alinhar as ações dos países para tornar as tecnologias limpas e as soluções sustentáveis a opção mais acessível e atrativa em cada um dos cinco sectores-chave: energia, transportes rodoviários, aço, hidrogénio e agricultura. O âmbito de cobertura foi alargado na edição deste ano do relatório, passando a abranger também os setores da construção e do cimento. Coletivamente, estes sete sectores são responsáveis por mais de 60% das emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE), ao passo que também incide em questões relacionadas com a adaptação às alterações climáticas, a natureza e a segurança alimentar.
"As energias renováveis representaram quase metade da produção mundial de eletricidade em 2022, constituindo um marco na transição energética. No entanto, a IRENA sempre destacou uma necessidade urgente: as adições de energia renovável devem triplicar até 2030 para manter uma meta de 1,5°C. Temos de ultrapassar urgentemente as barreiras sistémicas em termos de infraestruturas, políticas e capacidades institucionais. E temos de realinhar a forma como a cooperação internacional funciona. Uma cooperação internacional bem orientada pode determinar se cumprimos a nossa promessa coletiva de garantir uma existência segura em termos climáticos para as gerações atuais e futuras", destaca, por sua vez, Francesco La Camera, diretor-geral da IRENA.
O segundo relatório anual avalia os progressos realizados desde 2022 em áreas prioritárias para a colaboração internacional e apresenta uma série de recomendações para que os países trabalhem em conjunto em cada setor para ajudar a reduzir as emissões na próxima década e evitar os piores efeitos das alterações climáticas.
O relatório mostra como a transição para energias limpas e soluções sustentáveis está a acelerar em muitos setores, com uma expansão sem precedentes em tecnologias como os veículos elétricos e a energia solar fotovoltaica. Salienta que os automóveis elétricos de passageiros deverão representar 18% do total de vendas de automóveis em 2023, enquanto o investimento em tecnologias de energia limpa está a ultrapassar significativamente as despesas com combustíveis fósseis.
Mas outros setores com emissões elevadas e difíceis de eliminar, como o aço, o hidrogénio e a agricultura, não estão a fazer a transição com a rapidez suficiente, apesar dos progressos encorajadores em algumas áreas.
As recomendações do relatório abrangem a assistência financeira, a investigação e o desenvolvimento, a criação de procura, as infraestruturas, as normas e o comércio, para acelerar a transição em cada sector. As ações coordenadas em cada um dos sete setores ajudarão a mobilizar o investimento e podem criar as economias de escala necessárias para fazer baixar o preço das tecnologias cruciais e das soluções agrícolas sustentáveis, diz a AIE.
O relatório concluiu que, no ano passado, apenas se registaram progressos modestos no reforço da colaboração internacional nos domínios em que esta é mais necessária. Na maioria dos setores, a participação nas principais iniciativas de cooperação prática ainda não atinge a maioria do mercado mundial.
O relatório defende que é necessário um maior empenho político para passar de formas mais suaves de colaboração, como a partilha de boas práticas, para formas mais duras, como o alinhamento de normas e políticas, que são mais difíceis, mas podem produzir maiores ganhos na mobilização de investimentos e na aceleração da implantação.