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O mundo está a braços com uma emergência climática que está a obrigar a uma transformação de toda a sociedade. As cidades, como polos aglutinadores da maioria da população do planeta, representam, por isso, um dos maiores desafios desta transição. O tema esteve em debate na talk ‘Bem-Estar e Cidades Sustentáveis - Utopia ou realidade?’, que teve lugar a 7 de outubro, naquele que é o segundo ciclo de talks sobre sustentabilidade organizado pelo Jornal de Negócios.
Segundo a ONU, as cidades representam 60% do produto económico gerado e são responsáveis 75% das emissões de carbono. Emissões essas que temos de eliminar para chegarmos à neutralidade carbónica. Então, "não há outra forma de resolvermos os nossos problemas relacionados com sustentabilidade ambiental sem ser através das cidades", começa por referir Miguel Eiras Antunes, partner e líder global de Smart Cities da Deloitte. Mas isto representa "um grande desafio, porque cada cidade é independente e a única forma de termos um impacto relevante na sociedade é trabalharmos de forma relativamente integrada", acrescentou.
Pela sua posição costeira e com clima mediterrânico, Portugal é um dos países da Europa mais vulneráveis às alterações climáticas. Ao que acresce problemas graves de ordenamento do território. "O curioso nas cidades é que tanto podem sofrer com os impactos dos eventos extremos das alterações climáticas, como podem elas próprias, pelo seu mau planeamento, originar e ampliar esses fenómenos. Por exemplo, nós temos em Portugal problemas graves ligados aos leitos de cheia em zonas construídas que nunca deveriam ter sido ocupadas. Temos muitas zonas impermeabilizadas que vão causar problemas quando houver esses eventos extremos. Construímos em zonas costeiras vulneráveis, que estão sujeitas à subida do nível médio do mar e aí também vamos te problemas", assinala a socióloga Luísa Schmidt.
Ricardo Camacho, coordenador da Comissão Técnica de Sustentabilidade da Ordem dos Arquitetos, reforça que o ordenamento do território tem um papel vital para tornar as cidades mais sustentáveis. Porém, "num pais onde 97% é privado, é muito difícil pensarmos numa implementação a grande escala de grandes medidas. Porque na realidade a dependência da propriedade privada é enorme". Por outro lado, devido à concentração de pessoas na cidade, "a ideia de atingir a neutralidade está muito mais dependente das nossas casas do que de grandes ações a grande escala no território. Porque, segundo valores da Comissão Europeia, 85 a 95 % dos edifícios vão ser os mesmos em 2050 e garantir a eficiência desses edifícios é fundamental".
Reveja a talk aqui.