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Mais do que instruir, é preciso promover a aprendizagem

O modelo de transmissão de conhecimento entre professor e aluno está ultrapassado, é ineficiente e pouco eficaz. Na academia, falta proximidade com as empresas. Este foi o tema de mais um debate do Negócios na conferência dedicada à sustentabilidade.

29 de Janeiro de 2025 às 22:51
Ciclo de conferencias Negocios Sustentabilidade - Conferencia Social, que decorreu no auditorio Carvalho Guerra, da Catolica Porto Business School. Debate - O futuro da educação em tempos de transições Afonso Mendonça Reis, Empreendedor social de educação e presidente do júri, Global Teacher Prize Portugal André Rosendo, Fundador, Open Learning School Mónica Vieira, Coordenadora-geral, Teresa e Alexandre Soares dos Santos – Iniciativa Educação Sofia Salgado, Professora, Católica Porto Business School Moderadora: Helena Garrido, Jornalista e Curadora da iniciativa Negócios Sustentabilidade
Fábio Poço/Movephoto
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O elevador social está avariado, a pobreza é intergeracional e a educação é o ingrediente que pode definir o sucesso ou insucesso de uma criança. "Instrução é quando temos alguém a debitar para uns tantos que estão a ouvir. Só aprendemos por interesse ou necessidade. De resto, memorizamos", começou por dizer André Rosendo, fundador da Open Learning School, uma rede internacional de escolas com uma proposta diferenciadora.

"Este projeto começou por necessidade própria", conta, lembrando que procurava dar às filhas a melhor educação académica ao seu alcance. O desafio, porém, estava em conseguir um ensino de qualidade, à altura de escolas de elite, mas acessível a mais alunos. No debate sobre "O futuro da educação em tempos de transições", moderado pela jornalista Helena Garrido, André Rosendo explicou que se inspirou em conceitos como a Escola da Ponte em que "só se aprende o que se quer e quando se quer".



Na Open Learning School não há estrutura formal de aulas, turmas ou anos curriculares, mas antes um currículo livre que cada aluno desenha à sua medida. "A minha filha com cinco anos já falava cinco idiomas. Hoje, lê e escreve e três línguas", partilhou. Esta flexibilidade, diz Rosendo, será fundamental para as profissões do futuro.

Afonso Mendonça Reis, empreendedor social de educação e presidente do júri do Global Teacher Prize Portugal, lembrou como o principal preditor de desempenho escolar a formação académica da mãe. Através do projeto Leaders Gang, a equipa procurou identificar um conjunto de alunos que tiver uma grande melhoria de desempenho académico, apesar do contexto socioeconómico e acompanhá-los, mensalmente, com um plano de formação que prioriza "a autodeterminação dos jovens", a "autonomia" e a literacia financeira no secundário.

O passo seguinte foi, três anos volvidos, comparar os resultados deste grupo de jovens com outros cujas condições socioeconómicas eram mais favoráveis. Os resultados, diz, são promissores. "Vimos que há superação e mérito. A literatura da liderança diz-me que se estas pessoas continuarem a ser apoiadas têm boas hipóteses de conseguir manter esta trajetória", afirma.

Especialista em aprendizagem, Mónica Vieira, coordenadora-geral da Teresa e Alexandre Soares dos Santos – Iniciativa Educação, refere que estes conceitos de ensino alternativo não se generalizaram no país nas últimas cinco décadas porque o país demorou vários anos a recuperar o atraso na educação. "O desafio do acesso [à escolaridade] foi aquele a que conseguimos dar resposta nos últimos anos. Agora a questão é a qualidade", assegura. Num país em que 23% dos alunos "não consegue ter capacidade de leitura adequada", é difícil aumentar qualificações sem resolver estas dificuldades.

"É muito difícil que uma escola consiga prever hoje quais serão as profissões daqui a dez anos", continua. O trabalho tem de ser, por isso, no sentido de preparar as crianças e jovens com soft skills e outras competências menos formais, de forma que se consigam adaptar a qualquer situação ou exigência.

A professora Sofia Salgado, da Católica Porto Business School, considera que é preciso promover "mais aproximação" entre a academia e o tecido empresarial para que os currículos sejam cada vez mais próximos das necessidades do mercado de trabalho. Ainda assim, não tem dúvidas de que "a formação continua a ser muito boa e pertinente", em especial nas escolas de economia e gestão. "Portugal está muito bem posicionado na Europa e no mundo nesta área", reforça.

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