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Rui Peres Jorge - Jornalista rpjorge@negocios.pt 01 de Outubro de 2014 às 00:01

O principal risco de António Costa

O que quer António Costa para o País? Esta é uma das interrogações mais vezes feita desde domingo à noite e compreende várias outras: que linhas vermelhas irá traçar; que guerras vai comprar cá e na Europa; que alianças admite fazer à esquerda, mas também – e até principalmente – que cedências fará à direita.

 

Sobre tudo isto sabemos muito pouco, especialmente se considerarmos que tivemos três meses de campanha eleitoral. No contexto de umas eleições primárias de um partido, onde os vários candidatos partilham prioridades políticas, o carisma e as características pessoais talvez cheguem para ganhar. Mas por mais importante que elas sejam na política, não chegam para governar bem. Especialmente num contexto tão difícil e exigente como o que Portugal enfrenta.

 

É que não basta defender uma flexibilização do Tratado Orçamental ou uma aposta na competitividade da economia, como não chega prometer a reposição de salários e pensões ou clamar por uma redução das desigualdades. Assumir alguns destes princípios é, por si, uma posição política relevante. Mas para ser a valer Costa tem de mostrar as suas contas, os seus estudos e pareceres.

 

Tem de explicar onde foi buscar essa ideia de que consegue flexibilizar as regras europeias, que margem jurídica lhe é concedida pelos Tratados, que apoios reúne na Europa e o que admite dar em troca. Tem de ser claro sobre que BCE defende no enquadramento da UE e que relação pretende manter com a Alemanha. Tem de concretizar uma política industrial – se é que acredita nela – e que políticas concretas defende para ajudar Portugal a crescer.

 

E se tem de aliviar o actual enfoque nas contas públicas enquanto raiz de todos os problemas, o líder do PS precisa ao mesmo tempo de explicar onde ficam os seus limites à tributação, como pretende pagar as despesas e reduzir a dívida, e que medidas centrais constituem a base das prováveis reformas da segurança social, do SNS e da máquina pública.

 

E é aqui que reside o principal risco de António Costa: que não seja capaz de apresentar um quadro realista de actuação para uma pequena economia endividada e empobrecida, sem moeda própria e pouco produtiva.

 

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