Opinião
Grécia, radicais encontram radicais
No domingo, os gregos vão às urnas para escolher o próximo governo, com a possibilidade de a Coligação da Esquerda Radical (Syriza) de Alexis Tsipras, com intenções de voto de cerca de 30%, chegar ao poder.
A ascensão meteórica de um partido que há meia dúzia de anos convencia 5% do eleitorado evidencia o radicalismo das políticas que foram seguidas na Europa nos últimos anos, sob a batuta alemã e a complacência da Comissão Europeia.
A Europa precisa de encontrar um melhor equilíbrio na política económica e para isso necessita que seja criado a nível europeu um espaço de negociação e debate que desapareceu com a violência da crise. E é isso que o Syriza, como aliás o Podemos em Espanha, pode oferecer à Europa neste momento - mesmo que duvidemos, e há boas razões para isso, da coerência destas duas forças partidárias.
Se o Syriza chegar ao poder no domingo, então pela primeira vez na crise europeia teremos um choque de radicais. O que virá depois será com certeza interessante. E pode até ser positivo. É que, pelo menos do ponto de vista da política económica, defender uma reestruturação de dívida pública grega, como faz Alexis Tsipras, dificilmente é mais radical do que a proposta europeia de que o país gere excedentes primários superiores a 4% do PIB por várias décadas.
Não nos enganemos: o poder de resistência dentro do aparelho europeu a políticas macroeconómicas mais razoáveis é enorme e não deve ser subestimado. A timidez do plano de investimento de Jean-Claude Juncker e a injustificada hesitação no BCE em avançar com um programa de compra de dívida pública são bem provas disso.
Jornalista