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Cinemateca, uma gaiola mas pouco dourada

"A Gaiola Dourada" é o filme mais visto, até agora, em Portugal. O filme não é português, embora pareça. A origem é França. E por isso não vai contar para as estatísticas do cinema português, aquelas que os operadores de telecomunicações têm falado muito nos últimos tempos para demonstrar que o dinheiro que vão pagar para a criação de obras cinematográficas é demasiado para o retorno que o cinema português tem.

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"A Gaiola Dourada" não precisou desse dinheiro. Os operadores falam em 40 milhões de fundos que vão ser canalizados para o cinema. Se este for o número real - para já os operadores não estão a pagar as taxas previstas na Lei do Cinema - não se percebe porque há-de o cinema ter 40 milhões, mas em contrapartida o teatro, a dança, os museus estão "à pele". E porque não tem a Cinemateca mais dinheiro deste bolo? 


Nas últimas semanas a direcção da Cinemateca alertou para a sua grave situação, sem fundos para prosseguir a actividade. Essa asfixia não é de hoje. No início do ano a Cinemateca abriu as portas dos seus arquivos e aí pode-se ver. Precisam de investimento. Não para carros. Não para cartões de crédito. Não para flores. Mas para preservar a memória do cinema que foi, é, e será feito em Portugal (no caso os arquivos até têm mais do que apenas produção nacional). E soube-se que o arquivo não conseguia visualizar os filmes mais recentes porque não tem a máquina necessária...

Esta é a situação de um museu, porque a Cinemateca é isso mesmo um museu (é esta a componente que valorizo nesta entidade), sem dinheiro. Ao lado, está uma indústria que vai buscar financiamento de 40 milhões de euros. Não se percebem estas disparidades. Nem se percebe a força de parte da indústria do cinema. Em detrimento de outra parte; em detrimento de outras artes.

O Estado não tem dinheiro, já sabemos. O Estado anda à procura de financiamentos privados, já sabemos. O que não sabemos, mas gostaríamos, é como se fazem as opções. Porque têm os museus dinheiro público, mas a Cinemateca não? Têm de ter dinheiro público? E porque não podem ter dinheiro público quando ao lado se financiam estradas (desnecessárias) com encargos para décadas? Porque tem o cinema 40 milhões, mas a Cinemateca fica com apenas 3 milhões? O que se quer para a cultura em Portugal?

A política da cultura é mais do que andar a distribuir subsídios. "A Gaiola Dourada" prova isso. Quase meio milhão de espectadores!

*Jornalista

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