Opinião
Os incêndios e a geografia humana
Os incêndios são também o resultado da geografia humana do país que se faz com a desertificação do interior e o abandono do território. Mas há ainda a geografia política que obriga António Costa a reorientar a bússola.
Ainda no rescaldo da tragédia de Pedrógão Grande, o país está mergulhado num debate sobre os incêndios e a sua prevenção, havendo agora uma corrida acelerada à denominada reforma florestal como esta fosse a panaceia para todos os males.
Francisco Moita Flores, no Correio da Manhã, muda o rumo da reflexão e aponta-a na direcção da geografia humana do país. "Não vale a pena reformular políticas florestais sem enfrentar o maior desafio: combater a desertificação humana. Dar vida ao interior do país para que a floresta seja vivida. Não há como fugir a esta verdade incontornável por melhores que sejam os discursos desculpabilizantes de políticos".
No Expresso, Henrique Monteiro, caminha no mesmo sentido. "O crime é simples de identificar: abandono, puro e simples, do território". E, com o dedo apontado a "todos os políticos passados e presentes" e às cadeias de comando da Protecção Civil, bombeiros e GNR, continua: "Meus caros: todos vós, uns com mais culpas do que outros, abandonaram o interior. E esse abandono nem compensado foi por uma descentralização. Pelo contrário, colocaram quase tudo no litoral".
Ricardo Costa, também no Expresso, opta por centrar a sua análise nos políticos do presente, ou seja, neste Governo, e no impacto que o incêndio de Pedrógão Grande (64 mortos contabilizados) terá na sua acção futura É "a política depois da tragédia" que obrigou o Governo a mudar as regras de comunicação perante o país.
"O Verão será de uma grande exigência, porque esta não é uma tragédia que se esqueça e porque tudo o resto parece ridículo a seu lado. A economia vai seguramente crescer, o desemprego baixar e o rating subir. Mas isso já não será uma agenda política auto-suficiente".