Opinião
A Santa Casa de António Costa
António Costa resolveu embrulhar em papel de lustro o acordo que o seu governo anunciou com o chamado sector social – Misericórias e IPSS (Instituições Privadas de Solidariedade Social).
Diz o primeiro-ministro que não se trata de passar para o privado responsabilidades que a esquerda à sua esquerda nunca aceitou retirar do Estado. E que mesmo algum Partido Socialista achou assistencialismo a mais quando, há 20 anos, António Guterres entrou pelas parcerias Estado/IPSS. O social-cristão Guterres intuiu o modelo.
Na altura, a ala esquerda do PS (que nunca encaixou a costela católica do consulado guterrista) veio a terreiro bramar contra a transferência crescente de competências do Estado para o sector social privado. E Guterres (ao contrário de Sampaio de quem Costa foi delfim na família socialista) nunca foi visto pela esquerda da esquerda como muito fiável.
Mas 20 anos em política são uma eternidade. António Guterres é hoje secretário-geral da ONU com o encómio nacional. António Costa tornou-se no agregador das esquerdas que tem sido sábio a meter no bolso. E, com sondagens nos 40 por cento, decidiu começar a trabalhar o sector sem o qual nenhum partido pode sonhar com uma maioria absoluta.
Estamos a falar do eleitorado do centro, aquele que ora cai para o PS ora cai para o PSD e que adora ver concertar políticas e fazer pontes. Um desenho em que política social com cheirinho a misericórdias cai que nem gingas.
Mas Costa não está, mais uma vez, a falar a sério. Com a lata que o caracteriza e antes que o acusem de estar a ceder a "interesses" que Bloco e Partido Comunista terão dificuldade em engolir, o primeiro-ministro veio dizer, em tom suave, que está apenas a dar continuidade às políticas sociais de António Guterres, o primeiro-ministro do rendimento mínimo garantido.
Só que o Governo que verdadeiramente deu gás ao sector social e teceu uma rede nunca vista entre Estado e IPSS não foi o de Guterres. Foi o de Passos Coelho e Paulo Portas que, no meio da tempestade que herdaram do desgoverno Sócrates e para evitar que a pobreza atingisse níveis de tragédia, fizeram do sector social privado um verdadeiro pilar das políticas sociais. O trabalho deixado pelo ministro Pedro Mota Soares (CDS) e pelo secretário de Estado Marco António Costa (PSD) fala por si.
Claro que é maçador dizer a Catarina Martins e a Jerónimo de Sousa que o Governo que mais fez cativações, que trabalha para deixar um défice zero, que é o campeão dos cortes na despesa e que cumpre à risca as exigências do euro, está obrigado a pedir ajuda às Misericórdias.
Devemos, pois, saber enquadrar a intenção de Costa. Mas o mais elementar pudor aconselharia o primeiro-ministro a deixar a memória do guterrismo em paz. Render-se-á a geringonça à Santa Casa?
P.S. Isabel Mota é boa escolha para a Gulbenkian? É, como se vê. Mas tem de se ver mais.
Na altura, a ala esquerda do PS (que nunca encaixou a costela católica do consulado guterrista) veio a terreiro bramar contra a transferência crescente de competências do Estado para o sector social privado. E Guterres (ao contrário de Sampaio de quem Costa foi delfim na família socialista) nunca foi visto pela esquerda da esquerda como muito fiável.
Estamos a falar do eleitorado do centro, aquele que ora cai para o PS ora cai para o PSD e que adora ver concertar políticas e fazer pontes. Um desenho em que política social com cheirinho a misericórdias cai que nem gingas.
Mas Costa não está, mais uma vez, a falar a sério. Com a lata que o caracteriza e antes que o acusem de estar a ceder a "interesses" que Bloco e Partido Comunista terão dificuldade em engolir, o primeiro-ministro veio dizer, em tom suave, que está apenas a dar continuidade às políticas sociais de António Guterres, o primeiro-ministro do rendimento mínimo garantido.
Só que o Governo que verdadeiramente deu gás ao sector social e teceu uma rede nunca vista entre Estado e IPSS não foi o de Guterres. Foi o de Passos Coelho e Paulo Portas que, no meio da tempestade que herdaram do desgoverno Sócrates e para evitar que a pobreza atingisse níveis de tragédia, fizeram do sector social privado um verdadeiro pilar das políticas sociais. O trabalho deixado pelo ministro Pedro Mota Soares (CDS) e pelo secretário de Estado Marco António Costa (PSD) fala por si.
Claro que é maçador dizer a Catarina Martins e a Jerónimo de Sousa que o Governo que mais fez cativações, que trabalha para deixar um défice zero, que é o campeão dos cortes na despesa e que cumpre à risca as exigências do euro, está obrigado a pedir ajuda às Misericórdias.
Devemos, pois, saber enquadrar a intenção de Costa. Mas o mais elementar pudor aconselharia o primeiro-ministro a deixar a memória do guterrismo em paz. Render-se-á a geringonça à Santa Casa?
P.S. Isabel Mota é boa escolha para a Gulbenkian? É, como se vê. Mas tem de se ver mais.
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