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Vamos invadir Espanha

O eng. Sócrates já anunciou as três prioridades da sua política externa: Espanha, Espanha e Espanha. Barroso disse o mesmo num polémico encontro com empresários em S. Bento. Até Guterres, no segundo Governo, depois de Champalimaud, «descobriu» em Espanha

Portanto, a nossa relação política com Espanha só é diferente com Sócrates porque agora sai em triplicado. Entretanto, aconteceu o mesmo com a economia. A conclusão é unânime: a integração das duas economias não é uma opção ideológica.

Nem sequer é uma opção política. Já foi. Mas há vinte anos, no momento da adesão à CEE. A partir daí, a iberização é uma consequência natural. Do modelo económico desenhado pela vontade humana (o liberalismo). E de outras fatalidades de origem divina (a geografia).

Sócrates está a dizer que os políticos têm uma palavra a dizer. Compete-lhes agir sobre essa inevitabilidade. Não ignorá-la. Contrariá-la menos ainda. E assume, ao El País, que a nossa soberania económica é um jogo de forças com Madrid.

Toda a gente já viu isso. O que é novo, e estimulante, a disposição do primeiro-ministro em entrar no jogo. Não há outra forma de vencer.

Milhares de linhas já foram escritas sobre a invasão espanhola. Outras tantas sobre a forma como o poder político deve «compensar» a desvantagem dos nossos grupos, dada a escala.

A resistência de Itália à aquisição de bancos seus, por parte de estrangeiros, confirma o que «todos fazem». Espanhóis e franceses são piores. Evoca-se os centros de decisão nacionais. Os sectores estratégicos. As cumplicidades necessárias.

A Telefonica perde o pudor e cavalga sobre a PT. A Iberdrola, via CTT, elimina a vantagem da EDP e ganha acesso directo aos clientes. O BBVA acabará por fazer uma «oferta generosa».

Ninguém fica indiferente a isto. Incomoda. Mas há pior. A reacção, deprimente e retrógrada, de quem tenta na secretaria aquilo que a competência deveria garantir no terreno de jogo.

É deprimente porque se olha para a concorrência e, em vez de estímulo, vê-se a condenação. É retrógrado, no pleno sentido do termo, porque trava o progresso do país. Exalta a mentalidade do passado. E, paradoxalmente, leva à subalternidade. Só existe algo mais insuportável que a arrogância castelhana: é aceitar que estamos à mercê.

Sócrates parece não pactuar com fatalismos. Em vez de fechar Portugal, exige que Espanha abra. É isso que, a partir de 1985, explica o formidável salto das relações ibéricas. E do desenvolvimento que os dois países conheceram.

A estrutura da nossa economia tem indústrias de elevado valor acrescentado e sectores de trabalho intensivo. Uns são estrangeiros. Outros estão a sair do país. Nos últimos anos investiu-se muito onde era fácil (imobiliário) ou protegido.

O novo Governo coloca a concorrência no centro da sua política económica. Competir dá muito trabalho. Mas não se conhece outro caminho para a prosperidade.

Sigamos Sócrates, Guterres, Barroso e o cherne. O «problema espanhol» é que enquanto Portugal o discute, a Espanha faz negócios e ganha com ele.

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