Opinião
Três tristes tigres
O ministro da Economia. O actual. Reagiu ontem à decisão do Tribunal Europeu contra a EDP da seguinte forma: «foi bom que tenha acontecido». Isto é, o Governo PS já tinha dito que não iria prosseguir o modelo anterior. O Governo PS já tin
Era o único, afinal, que ainda encarava o tribunal como «o último obstáculo para a implementação do programa do Governo para o sector energético». E se o acórdão tivesse sido diferente?
Se o tribunal tivesse aceite o recurso da EDP, será que o ministro mudava de ideias? E, no lugar da concorrência que o PS defendia, iria agora o Governo promover a concentração?
Meio ano já passou e não há explicações razoáveis para que nada tenha acontecido no sector energético nacional.
É intolerável que empresas demasiado importantes para a economia estejam reféns daquilo que o senhor ministro quer. Há demasiado tempo. Há demasiados ministros.
Ninguém se tinha atrevido a procurar a explicação num tribunal. O verdadeiro obstáculo não é o tribunal. É ministros a mais para economia a menos.
O impasse de Pinho tem uma explicação. Não é aquela que a maioria julga, a ignorância. Nada disso. O ministro da Economia tem uma ideia bem concreta para o futuro da energia em Portugal: uma ideia na segunda-feira, outra na terça, depois outra na quarta...
E todas elas incompatíveis entre si.
O ministro da Economia. Outro ministro, o mesmo pecado. Só que na versão original. Carlos Tavares não é o ideólogo, mas foi quem decidiu toda a estratégia de negociação.
Logo de início se percebeu que não havia negociação alguma. Que nada foi concertado ou sequer previamente falado. Com a ENI, com a Galp, menos ainda com as autoridades da concorrência. Ou seja, tudo ao contrário do que os espanhóis estão fazer.
A estratégia, por conseguinte, só podia assentar na política do «facto consumado». Esta forma de agir é uma característica distintiva dos arrogantes e dos inábeis. A arrogância é a pior forma do exercício do poder.
Carlos Tavares nunca foi arrogante. Também não tinha o poder de impor o modelo. Precisava do acordo dos italianos, adiou-o. Tinha um problema anunciado de concorrência, ignorou-o. Foi aconselhado a avançar com a cisão das empresas, para se livrar primeiro da ENI e de Bruxelas, e não fez caso.
A estratégia saiu furada e o modelo foi por água abaixo. Enquanto o petróleo pula e o mundo avança, Portugal é incapaz de decidir algo de relevante sobre o futuro energético, porque há três anos discute algo que nunca existiu.
Vivemos num equilíbrio de incapacidades e incompetências. As empresas pagam com destruição de valor e a sociedade com empobrecimento contínuo. Se houvesse tribunal para isso, Tavares era réu.
João Talone. Em Maio de 2003 aceitou presidir à EDP. Nomeação controversa. Talone acabara de desenhar o modelo de reestruturação, como consultor do Governo.
Esta mudança de funções feria o princípio da independência, a EDP era precisamente a empresa beneficiada. «Talone, gestor» tornava-se, assim, o maior herdeiro do inventário de activos da autoria de «Talone, consultor».
Além de um conflito de interesses, a nomeação também beliscava as regras da transparência: o Governo não tinha dito, à partida, que o mentor do modelo iria posteriormente assumir a responsabilidade pela sua execução.
A explicação veio a posteriori. E, mesmo pecando por tardia, era uma justificação aceitável. Talone entrou na presidência da EDP por ser seu o modelo que o Estado português veio a adoptar.
Dito de outra forma: se João Talone não teve argumentos para recusar a presidência da EDP, então, definitivamente, acaba de perdê-los para lá continuar.
Na verdade, esta é a terceira vez que o «modelo Talone» é condenado à morte. Na primeira, quando a Comissão Europeia o chumbou. Na segunda, quando o PS venceu as eleições. O tribunal limitou-se a dar extrema-unção.
Evidentemente que Talone tem culpas no cartório, porque não acautelou as sucessivas derrotas que foi acumulando. Nas empresas somos avaliados pelos resultados. E ele perdeu.
Mas custa ver um gestor profissional, que nunca precisou da política e do Estado, com reputação de homem sério e honrado, terminar assim o mandato. Já deveria ter saído pelo seu próprio pé, quando Bruxelas chumbou a operação. Acabará por sair empurrado.