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18 de Julho de 2005 às 13:59

Tagarelas

Há um ano, mais precisamente a 9 de Julho de 2004, o Jornal de Negócios titulava em manchete: «Retoma confirmada». Na passada semana, o título era outro: «Economia não respira». O denominador comum entre as duas notícias é que os dados que sustentam os do

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Enquanto há um ano o banco central revia as previsões em alta, agora faz o exercício inverso. E assim, no espaço de um ano, o crescimento do produto para 2005 encolheu de 1,75 para 0,5.

Não é fácil uma pessoa conseguir adaptar-se a esta sucessão frenética de altos e baixos. Os portugueses vivem numa montanha russa, com a sensação de «looping» permanente.

Fazer pequenos exercícios de regresso ao passado tem efeitos didácticos. Além de permitirem clarificar a quem devem ser atribuídos os créditos de proezas e desditas, também revelam que apesar das mudanças há sempre algumas constantes.

Há um ano, Pedro Santana Lopes estava em vésperas de passar de primeiro-ministro indigitado a primeiro-ministro empossado. Os meses que se seguiram foram aquilo que se sabe mas mesmo um executivo presidido por um prudente engenheiro Sócrates pode ter alguns pontos de contacto com o do extrovertido dr. Lopes.

A questão resume-se assim. Cada Governo tem os seus tagarelas. No anterior, o tagarela-mor era o próprio primeiro-ministro, que dava entrevistas antes mesmo de ser empossado a anunciar coisas tão diversas quanto a descentralização dos ministérios ou o aumento dos funcionários públicos. Ficará para a história por isso e muito mais.

No actual, a cacofonia vem de outras bandas. Vem de um ministro dos Negócios Estrangeiros que fala a título pessoal sobre o futuro do Tratado da Constituição Europeia para em seguida explicar a partir de Washington que a crise na Europa resulta das regras e princípios restritivos do Pacto de Estabilidade e, em consequência, apelar a uma reconfiguração do Banco Central Europeu. Freitas parece ignorar que não se diz mal da família fora de casa.

Também o competente e rigoroso ministro das Finanças se tem distinguido pelo seu carácter prolixo. Ainda não era ministro e já admitia publicamente que poderia ser inevitável aumentar os impostos, quando o primeiro-ministro indigitado tinha prometido na campanha eleitoral e continuava por essa altura a garantir que não o faria. Agora, quando o primeiro-ministro e o Governo em peso se empenham em fazer passar a mensagem de que o pior já passou, desdobrando-se em anúncios de investimentos e deslocações ao país real, vem Campos e Cunha anunciar, em artigo de opinião, que mais medidas de contenção estão na calha para 2006 e levantar o véu de que nem tudo o que está nos 25 mil milhões dos famosos PIIP é para concretizar.

O problema não é o que Campos e Cunha diz, que é difícil não subscrever. O problema é quem o diz. Porque o que mais nos faz falta não é um ministro das Finanças comentarista. Intervenções como esta, mesmo a título de artigo de opinião, só podem lançar mais confusão.

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