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Sócrates e Coelho em danças hip-hop

Sócrates e Passos Coelho já não dançam o tango um com o outro.

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Andam a dançar hip-hop virados para nós. À espera do nosso aplauso no boletim de voto, que pode surgir em qualquer altura na primeira metade do próximo ano. E só andam nestas perigosas danças porque nós ainda não percebemos que vivemos sob a mais grave ameaça financeira desde os anos 80 do FMI.

O governo espanhol já chegou a acordo para a aprovação do Orçamento do Estado de 2011. Em Portugal vivemos numa tal gritaria que, claro, já chegou aos jornais financeiros internacionais. Os maus da fita não são os mercados financeiros, somos nós.

A reacção imediata é: "Nós? Nós não, eles", essa entidade abstracta que identificamos como sendo dona do poder e que serve para nos desculpabilizar. Mas somos nós de facto os responsáveis.

As danças a que temos assistido desde meados do Verão entre Pedro Passos Coelho e José Sócrates não teria qualquer sucesso se cada um deles não estivesse convencido que é assim que nos vai convencer a votar neles.

Só quando os eleitores se convencerem que vivemos de facto sob uma séria ameaça de colapso financeiro é que um e outro, José Sócrates e Pedro Passos Coelho, deixarão de brincar ao "quem conquista mais votos" e se dedicam ao trabalho de corrigir financeiramente o País para que a prosperidade possa regressar.

O dia de ontem podia bem ter servido como o alerta para o fim dessas cenas de táctica politiqueira. Para conseguir obter um financiamento de 300 milhões de euros a dez anos, o Estado português, que somos todos nós, pagou uma taxa de juro de 6,2%. A Alemanha está a pagar 2,3%. Imagine-se quanto não têm de pagar todas as outras empresas portuguesas que precisam de financiamento. Algumas, como os bancos, nem sequer se atrevem a ir ao mercado ou porque receiam não o conseguir ou porque não estão dispostos a pagar o dinheiro a um preço tal que será difícil ganhar depois dinheiro com ele. Mais cedo do que tarde, quem precisa de crédito não o terá.

Como saímos desta embrulhada? Basta que PS e PSD tenham a coragem de tomar as medidas que são necessárias. Basta que o Governo mude de discurso e diga mais vezes, pela boca do primeiro-ministro e não apenas do ministro das Finanças, que temos todos de reduzir o nosso nível de vida - porque somos de facto mais pobres do que pensamos - e que temos todos de poupar mais. E basta que o PSD mude de discurso e aceite partilhar medidas mais duras de redução do poder de compra das famílias e de cortes mais violentos no Estado.

"Wall Street: o dinheiro nunca dorme" entra a partir de hoje nas salas de cinema. "A ganância já não é apenas uma cosia boa, agora é legal", diz o famoso Gordon Gekko no filme de Oliver Stone. Não vale a pena pensar que conseguimos acabar com a economia financeira que se instalou no mundo desde meados dos anos 80. Não podemos, ao mesmo tempo, desejar o dinheiro que não dorme e querer que o dinheiro adormeça para continuarmos a gastar sem disciplina.

Dançar hip-hop enquanto o dinheiro que não dorme foge do País é demasiado perigoso.

helenagarrido@negocios.pt




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