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11 de Abril de 2007 às 13:59

Será que a Galp queria mesmo a EDP?

A OPA da Galp sobre a EDP é, em rigor, uma não notícia. Quando foi anunciada já tinha deixado de o ser. Mas o facto de ter sido rejeitada pelo Governo, acrescenta-lhe um picante adicional. Se a isso juntarmos o facto de a EDP e a Galp serem hoje lideradas

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O mais fácil é fulanizar as coisas. Porque quer a Galp comprar a EDP? Porque Ferreira de Oliveira quer passar a perna ao rival Mexia. O simples facto de a intenção ser conhecida, já cria incomodidade na praça forte da eléctrica. E não falta quem comece a fazer contas de cabeça e a descobrir causalidades em actos que antes eram vistos a outra luz. O negócio da Horizon Energy, comprada à Goldman Sachs em tempo recorde, foi o aproveitamento de uma oportunidade ou uma típica medida anti-OPA?

Olhe-se para o caso pelo lado da petrolífera. A Galp tem sido um verdadeiro laboratório das experiências dos governos sobre a política energética e vivido casos complicados de conflitualidade accionista, potenciados pelas reviravoltas estratégicas do accionista Estado.

A entrada dos privados fez-se pela mão da Petrocontrol, onde pontificavam o Grupo Espírito Santo, Patrick Monteiro de Barros e Américo Amorim, e pela mesma altura o Governo seleccionou a Total francesa como parceiro estratégico. Anos mais tarde, saiu a Total e entrou a Eni e no processo os privados portugueses aproveitaram para fazer interessantes mais valias, num negócio, que segundo dizem publicamente, foi induzido pelo ministro Pina Moura. Foi por essa altura que Ferreira de Oliveira bateu com a porta e entrou para o seu lugar António Mexia.

Com Mexia ao leme a Galp ganhou dinamismo comercial, mas a sua gestão também passou pelas reviravoltas estratégicas impostas pelo accionista, pois com nova mudança de Governo, a política energética passou a ser outra. Carlos Tavares foi o ministro que defendeu a saída do gás para a EDP e para a Eni. Com este modelo o Governo pretendia livrar-se do problema da Eni e do risco de os italianos exercerem a opção de compra que lhes permitiria assegurar a maioria do capital da Galp, devido aos atrasos do Governo em concretizar a operação de dispersão do capital e a cotação em Bolsa. Esse foi o modelo chumbado pela Concorrência em Bruxelas, arrastando pelo caminho a entrada na petrolífera do grupo Petrocer, que reunia os accionistas da Unicer (Violas, BPI e Arsopi).

O chumbo de Bruxelas deu o argumento mas Manuel Pinho não precisava dele. Novo Governo, nova política. Depois do plano Talone / Tavares, que preconizava a ligação do gás à EDP, o Governo Sócrates descobriu as virtudes da concorrência entre todos os operadores. Ou seja, a Galp teria que concorrer nos combustíveis, onde a liberalização já tinha chegado há mais tempo, embora ainda hoje tenha uma quota superior a 30% nas gasolineiras, mas também no gás e na electricidade.

Uma coisa convém reconhecer a Pinho. Com mais ou menos acidentes de percurso, foi capaz de resolver a instabilidade accionista na petrolífera, afastar o fantasma dos italianos, mas mantendo-os como parceiros estratégicos. Valeu a Pinho o aparecimento de um protagonista inesperado, Américo Amorim, que ainda lhe trouxe como bónus a Sonangol como segundo parceiro internacional, encaixando na perfeição na política de aproximação a Angola.

O problema é que Américo Amorim, ainda por cima associado à experiência petrolífera e à ambição de Ferreira de Oliveira, pode ser demasiado imprevisível para o gosto do ministro. E um ano depois de ter entrado na Galp e ultrapassado o obstáculo do IPO, concretizado em Outubro passado, Amorim pode ter começado a pensar que a entrada no negócio da electricidade e na distribuição de gás doméstico só se poderia fazer em grande, assim como Belmiro viu na OPA sobre a PT a operação da sua vida. Mas pouco depois de a OPA da PT ter morrido na assembleia geral de accionistas, também a da EDP morreu às mãos do Governo. O que não quer dizer que o problema esteja resolvido. Está apenas adiado.

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