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Opinião
04 de Agosto de 2004 às 13:59

Procuram-se pais!

Chegou ao fim o negócio mais enjeitado dos últimos tempos. Se a parceria estratégica da Petrocer na Galp não resultar (e não é nada a que a petrolífera não esteja já habituada), não teremos uma entidade ou um responsável a quem pedir explicações. Teremos,

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Na fase inicial, o ministro Carlos Tavares até foi corajoso. Decidiu escolher o substituto da Eni no capital da Galp através de um «concurso de beleza» entre candidatos. A proposta financeira era importante mas não determinante. A estratégia para a empresa era também valorizada, sobretudo a componente de internacionalização. A estabilidade accionista seria premiada. Não estava escrito nem foi nunca assumido, mas presume-se que a nacionalidade do capital acabou também por não ser indiferente ao desfecho a que se assistiu.

Ou seja, tínhamos aqui os ingredientes para uma pura decisão política, com todos os seus riscos e virtudes.

Mas depois começaram os equívocos e os jogos de espelhos.

Politicamente, ninguém era responsável pela forma como o negócio ia avançando.

A ministra das Finanças remetia para o colega da Economia.

O ministro da Economia lavava as mãos e apontava para a Parpública, a «holding» do Estado que estava a intermediar a operação.

A Parpública não tinha responsabilidades, porque era um mero executante, e acenava com os relatórios do Comité de Sábios.

O Comité de Sábios, entretanto constituído, fazia a análise técnica das propostas e escrevia no seu primeiro relatório que «nem o governo, nem obviamente a Galp, têm qualquer intervenção ou responsabilidade directa quer no processo quer naquela transacção», sendo que também ele não pode assumir o ónus político da operação.

E, por último, temos o governo (outro governo, mas dito de continuidade), a estabelecer novas regras à 25ª hora e a provocar o adiamento por três vezes da assinatura do acordo. Só que este governo, dirão os seus membros, não é responsável pelas decisões que herdou...

O pecado original deste carrossel está em querer-se tomar decisões políticas sem querer assumir o ónus que as decisões políticas têm. Como Clinton, que fumou haxixe... mas não inalou.

E aí temos a Galp de novo em mãos portuguesas. Do BPI, Violas e Arsopi, que vão entrar no capital da petrolífera, espera-se um comportamento mais digno do que o da famigerada Petrocontrol, que abandonou a empresa quando sentiu o cheiro dos milhões. Ser-lhes-á muito fácil ter maior sentido de responsabilidade.

Dos candidatos preteridos, a Luso-Oil liderada pela Carlyle e o Grupo Mello, está ainda por saber se vão protestar nos tribunais. Se têm dúvidas sustentadas, é por aí que devem ir. Isso é preferível às insinuações que nunca serão esclarecidas. Mas sobretudo qualquer alternativa é melhor do que os habituais e pantanosos calculismos que levam muita gente a não afrontar governos, calando hoje para poder ser o escolhido de amanhã.

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