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09 de Setembro de 2005 às 13:59

Optimismo? Porquê?

Um país sabe que está no meio de uma grave crise de crescimento quando os seus governantes consideram uma vitória um aumento do PIB de 0,5% em termos homólogos e de 1% em cadeia. Ontem, logo após as implosões de Tróia, José Sócrates comentou os números di

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Afinal a economia não tinha caído, como previam muitos economistas, alguns ouvidos por este jornal.

É óbvio que é melhor um crescimento, ainda que mínimo, do que uma queda do PIB. E, nesse sentido, há razões para um ligeiro sorriso.

Mas ir além disto é, infelizmente, demasiado apressado, porque não é sustentado pelos dados que hoje temos em cima da mesa.

As exportações, que deviam funcionar como detonador do novo ciclo de crescimento do produto, não descolam, porque muitas economias que compram os nossos produtos também não crescem e as empresas portuguesas continuam a perder quota nos mercados internacionais.

O investimento continua em queda, como se adivinhava previamente pelos indicadores qualitativos de confiança.

Resta o consumo privado, que continua a ser o único motor da economia. É um motor muito fraco, mas ainda bem que assim é.

Consumir o que não se produz aumenta os desequilíbrios, não os diminui. Aumenta o desequilíbrio da balança comercial, porque é um factor de pressão sobre as importações e estraga a balança financeira, com muitos bancos a recorrerem a fundos internacionais para conceder crédito cá dentro.

Não há outra solução para sair deste ciclo que não passe pelo aumento da produtividade. É bom que tenhamos essa noção clara.

E isso não se faz nem com investimento público, nem com consumo, seja ele público ou privado. Muito menos com varinhas mágicas ou apelos a entidades divinas.

Começa a ficar claro pelo somatório de discursos dispersos que o Governo quer transmitir optimismo aos agentes económicos. É tentador, mas o caminho é perigosamente estreito.

Pintar de cor-de-rosa uma situação que é cinzenta pode agravar o ciclo do consumo-importações-endividamento-desequilíbrio externo. Porque o optimismo pode gerar consumo imediato, mas não gera produtividade imediata.

Além disso, está por provar que os portugueses sejam geneticamente pessimistas e que a «síndrome do fado» seja um obstáculo ao desenvolvimento. Há dez anos, quando as taxas de juro caíam a pique, quando o PIB crescia na casa dos 4% e a economia estava em pleno emprego, se houve algum problema foi de excesso de optimismo.

A insustentabilidade dessa euforia, que até tinha raízes num bom momento económico, está hoje à mostra e consta da factura que estamos a pagar.

Entre o optimismo e o pessimismo, é sempre preferível o realismo e, sobretudo, a confiança transmitida pelas políticas que são seguidas. Se isso for minimamente bem feito, o optimismo vai aparecer. Não ao virar da esquina, mas aparece. A vantagem das crises prolongadas é que ninguém espera milagres rápidos. Se o caminho for o correcto, há tempo para apresentar resultados.

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