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20 de Fevereiro de 2004 às 13:46

Não queimem as mãos!

É nesta altura do ciclo dos mercados, quando a febre ainda não turvou a racionalidade, que a pedagogia deve ser feita. Sem levantar fantasmas exagerados. Mas também sem assobiar para o lado.

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Diz-se que os mercados têm memória de elefante. É possível. Mas duvida-se que muitos investidores partilhem essa característica. O frenesim dos últimos dias com algumas empresas cotadas na bolsa de Lisboa fazem lembrar outros tempos, de boa memória para alguns mas de rombo financeiro para outros.

A Compta, a Reditus, a ParaRede e a Sonae Indústria são os nomes dos protagonistas. Por uma razão ou por outra, todas elas têm dado nas vistas com subidas anormalmente espectaculares. São empresas que estão baratas, depois da longa queda que o mercado experimentou até ao ano passado?

É possível. Têm em perspectiva negócios ou reestruturações importantes que aumentam o seu valor? É provável. O que é improvável ou mesmo impossível é que esses dados fundamentais justifiquem a amplitude e a rapidez da subida de cotações.

Nuns casos verifica-se uma duplicação do valor das empresas em três ou quatro meses. Noutros assiste-se a corridas loucas de 15% ou 40% numa só sessão. É mais do que a racionalidade pode explicar.

O facto de se tratar de empresas com uma dimensão relativamente pequena ajuda a explicar o fenómeno: é mais fácil fazer ondas numa banheira do que num oceano. Por isso mesmo, estas são também as acções-tipo para se fazer uma boa especulação.

Estamos ainda longe do ambiente de completa “exuberância irracional” que Greenspan identificou no final de 1996, e que três anos depois viria a desfazer em pó as perspectivas de contas bancárias chorudas a milhões de pequenos investidores em todo o mundo.

Mas é precisamente nesta altura do ciclo dos mercados, quando a febre ainda não turvou a racionalidade e a capacidade de ouvir, que a pedagogia deve ser feita. Sem levantar fantasmas exagerados, porque a subida generalizada dos mercados tem hoje uma sustentação no valor real de muitas empresas.

Mas também sem assobiar para o lado, tratando de forma igual o estrutural e o puramente especulativo. Este é um papel que cabe aos intermediários financeiros, à comunicação social, a “opinion-makers” do sector, às autoridades e entidades do mercado.

É isto que se espera, também, da CMVM. Alertando o mercado com interrupções na negociação de títulos demasiado nervosos e pedindo esclarecimentos a emitentes, como fez recentemente com a Sonae Indústria.

Actuando de forma mais visível quando há sintomas de manipulação no mercado, para fazer avisos à navegação. E ir fazendo uma pedagogia que falhou na década passada, quando o chamado capitalismo popular deu sinais de vida para ficar moribundo logo a seguir quando rebentou a “bolha” da Nova Economia.

Esta é a evolução lógica do pacote de transparência, filho dos abusos do final da década passada, e que, em termos regulamentares, colocam a bolsa de Lisboa ao nível das melhores práticas internacionais. Agora só falta ir mais fundo na protecção dos  pequenos investidores.

São estes que ajudam a fazer grandes as maiores bolsas. E é para os proteger a eles e ao mercado que existem os reguladores.

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