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17 de Março de 2005 às 13:59

Mudar por mudar?

A reestruturação do sector das águas conheceu dois projectos radicalmente diferentes em dois anos e uma ameaça de um terceiro no ano que se seguiu. Foi um projecto por ministro: Isaltino Morais, Amílcar Theias e Luís Nobre Guedes. Adivinha-se que o novo g

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Com o TGV seguimos caminho idêntico. O projecto discute-se, analisa-se e estuda-se a sério há meia dúzia de anos. Negociou-se duramente com Madrid os pontos de intersecção da linha portuguesa com a espanhola. E agora, quando já tudo parecia definitivo, levanta-se novamente o fantasma de tudo querer rediscutir.

Jorge Coelho reabriu ontem essa caixa de Pandora. Falando em nome pessoal, veio sugerir ao novo governo que altere a ligação da alta velocidade entre Lisboa e Porto.

E depois ainda há o aeroporto da Ota, a terceira travessia do Tejo, os planos de expansão do metro e todas as obras que envolvam muitos milhões.

Andamos nisto permanentemente. Entrados nos gabinetes, ministros e governos fazem tábua rasa de tudo o que encontram em cima das secretárias. E fazem-no com manifesto prazer. Porque até têm objecções técnicas aos projectos, mas também porque acham que devem deixar a sua marca pessoal nas obras do regime ou simplesmente porque assumem que fazer política é isto mesmo, mexer e mudar mesmo que não haja qualquer racionalidade nesses avanços e recúos.

Quem lucra, logo à partida, são os consultores e as «boutiques de estratégia». Só no TGV já se derreteram milhões de euros com consultores que se debruçaram sobre o «pi deitado», o «L em pé», o «F invertido» e outras letras importantes.

O resultado é que se deita dinheiro fora, perde-se tempo e gastam-se energias com discussões muitas vezes estéreis. Tudo isto sem que haja a garantia de que no final é tomada a melhor decisão, a decisão económica, social e financeiramente mais racional.

Uma das certeza com que se fica no final é que se tomou uma decisão puramente política que agrada e aproveita a alguma gente, mas que pode não servir verdadeiramente os interesses do país.

A outra certeza é que jamais alguém será responsabilizado, política ou judicialmente, se o projecto se revelar um «flop» e ruinoso para os contribuintes mesmo depois de tantos estudos e reflexões.

José Sócrates, que parece apostado em remover algumas teias de aranha que o sistema político foi acumulando, tem mais estas para limpar.

Basta escutar e seguir o apelo feito por Jorge Sampaio no mesmo seminário onde Coelho falou do TGV. Basta que, descomplexadamente, resista à tentação de mudar apenas por mudar.

Se o projecto faz sentido e está razoavelmente bem feito e sustentado, que avance, independentemente de ter sido desenhado por laranjas ou rosas. As gavetas ministeriais estão cheias de projectos que ficam eternamente à espera de mais uma página, de uma última opinião, do consenso que nunca há-de existir, da perfeição que não existe.

E enquanto isso, o país fica a ver os comboios passar. Mas sempre os comboios dos outros.

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