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24 de Maio de 2007 às 13:59

Jardim segue Sun Tzu

Quem está habituado a gerir comunicação de crise costuma usar a metáfora do balão para exemplificar certo tipo de situações em que parece que não há nada a fazer: o balão enche, enche, enche... até que esvazia. Mas não rebenta. Duvida-se que todos os cons

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Cada dia que passa enche mais um pouco.

Nos últimos dias, confirmaram-se as indicações de que as alterações estatutárias que prevêem o reforço da blindagem (que se mantém nos 10% do capital, a proposta é para aumentar a percentagem dos votos na assembleia geral necessários para proceder a alterações, passando de dois terços para 75%) e a eleição da Administração Executiva pelo Conselho Geral e de Supervisão podem ser chumbadas na assembleia da próxima segunda-feira. A minoria de bloqueio aritmética que a dispersão de capital por fundos de investimento estrangeiros teoricamente permitia concretiza-se em torno de João Rendeiro, que se afirma como o principal rosto da oposição, tirando proveito da experiência que adquiriu em casos semelhantes, como o da Jerónimo Martins.

Rendeiro, com os seus 2% do BCP, põe-se em posição de frente a frente com Jardim Gonçalves. Mas esse é um combate desfocado. Porque o verdadeiro combate passa-se dentro do BCP.

Ao que tudo indica, Jardim Gonçalves está a caminho de corrigir o tiro. Retirar os pontos polémicos no início da assembleia geral, em nome dos superiores interesses do banco, pode servir para esvaziar o balão e será, sem dúvida, a coisa mais sensata a fazer neste momento.

Mas pode ser, paradoxalmente, o gesto menos clarificador.

Se as propostas de alteração de estatutos avançarem, será possível medir forças e fica-se a saber quem ganha e quem perde.

Se, contra as expectativas, as alterações estatutárias forem aprovadas, isso significa o regresso assumido do presidente fundador, a confirmação de que a sua saída de funções executivas foi mais aparente do que real, e a fragilização da liderança de Teixeira Pinto que, pelas parcas indicações disponíveis, não se revê no conteúdo da proposta de alteração dos estatutos. Se, pelo contrário, a proposta for chumbada, Teixeira Pinto está legitimado na sua liderança, que teve nos últimos dias declarações de apoio, vindas de Rendeiro e de Berardo, que são verdadeiros presentes envenenados na actual correlação de forças.

Se Jardim recuar, o combate fica sem vencedores nem vencidos e o BCP em águas mornas. Ou em jogos de poder palacianos, quando não é mais possível disfarçar as divergências entre membros do Conselho de Administração e de outros órgãos sociais ou até entre accionistas.

"Se numericamente és mais fraco, procura a retirada", escreveu Sun Tzu. Na arte da guerra, um bom general tem de saber quando recuar. Mas há decisões que são difíceis de compreender num bom general. A decisão de avançar para uma proposta de revisão dos estatutos, com os contornos da que está em discussão, num momento de fragilidade do banco, após ter perdido a mais importante operação a que se abalançou nos últimos anos, é difícil de compreender em Jardim Gonçalves.

Que avaliou mal as posições no terreno. Ou o mundo mudou mais do que o seu julgamento podia perceber.
Enquanto o balão enche, há quem encha os bolsos de outra coisa que não apenas de ar. A pressão sobre o BCP é vantajosa para os investidores. Mas esse só pode ser um prémio de consolação.

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